quinta-feira, setembro 11, 2008

Sete anos depois

"Se fizermos o balanço da Presidência de Bush na política externa percebemos que muitas das críticas são injustificadas.

Na quinta-feira passam sete anos desde os ataques terroristas a Nova Iorque e a Washington. O que podemos dizer do mundo, sete anos depois? Em relação à distribuição do poder global, muitos dizem que o 11 de Setembro foi o início do declínio norte-americano. Na esmagadora maioria das vezes, o declínio é atribuído aos erros da administração de George W.Bush, nomeadamente o pouco cuidado nas relações com aliados e, obviamente, a guerra do Iraque. O resultado foi o crescimento e a expansão de potências como a China, a Rússia e mesmo o Irão, e a incapacidade dos Estados Unidos de resolverem crises internacionais, como a mais recente na Geórgia.

Se é difícil negar o crescimento da China e da Rússia, já tenho sérias dúvidas em relação às “culpas” atribuídas a Bush. Antes de mais, seria uma questão de tempo até se ajustarem os desiquilibrios causados pelo fim da Guerra Fria. Na política internacional, as situações hegemónicas são, por definição, curtas. E o ajustamento aconteceria com ou sem Bush. Tal como continuará com McCain ou com Obama. No entanto, a expansão chinesa e russa não significa que os Estados Unidos deixem de ser a maior potência mundial. O seu poder militar, económico, cultural e científico marcará de um modo decisivo e único o século XXI.
Além disso, se fizermos o balanço da Presidência de Bush na política externa (julgo que em política interna o saldo é mais negativo), percebemos que muitas das críticas são injustificadas. As relações com as outras grandes potências, no geral, melhoraram. Com a China, nunca as relações bilaterais foram tão estáveis. A Índia está mais próxima dos Estados Unidos do que alguma vez esteve desde a sua independência. A aliança de segurança com o Japão nunca foi tão profunda e sólida. Com o Brasil, a cooperação aumentou em várias áreas, e a ninguém escapa a boa relação entre Bush e Lula. Só com a Rússia é que tudo piorou.

No caso das relações com os aliados europeus, se é verdade que a Guerra do Iraque provocou problemas, o saldo da política de Bush é muito mais positivo do que se julga. Foi, por exemplo, o primeiro presidente norte-americano a visitar a Comissão Europeia (note-se a propósito que na sua recente viagem à Europa, Obama foi a Berlim, a Paris e a Londres, mas não a Bruxelas, o que é no mínimo estranho para um político que tanto defende o multilateralismo) e durante o seu segundo mandato as relações bilaterais entre a União Europeia e os Estados Unidos aprofundaram-se substancialmente. A oposição anti-americana da dupla Chirac e Schroeder, tal como a aproximação a Moscovo, faz igualmente parte do passado. Hoje, os governos alemão e francês têm uma excelente relação com a administração norte-americana e perceberam claramente que a estratégia de oposição aos Estados Unidos não une, mas divide a Europa. Por outro lado, a crise da Geórgia demonstrou que os Estados Unidos e a Europa precisam de uma relação transatlântica eficaz e forte.

Quanto ao Iraque, como disse um dia um dirigente chinês a propósito da Revolução Francesa, ainda é demasiado cedo para se saber se será um fracasso ou um sucesso. Neste momento, sabemos três coisas. Em primeiro lugar, cometeram-se erros desnecessários. Foi, igualmente, uma guerra com enormes custos. Por fim, a situação está a melhorar mais rapidamente do que se previa há um ano: há mais segurança, mais estabilidade política e a economia melhora francamente. Se daqui a cinco anos o Iraque for um país com um governo razoavelmente decente, uma sociedade tolerante e minimamente aberta e democrática, e um factor de estabilidade no Médio Oriente, dir-se-á que a guerra do Iraque afinal não foi um erro tão grande como chegou a parecer. Em último lugar, a al-Qaeda está enfraquecida e não foi capaz de ataques terroristas desde 2005. Em território norte-americano, não conseguiu atacar desde o dia 11 de Setembro de 2001, o que seria impensável há sete anos.

Bem sei que Bush é impopular no seu país e na Europa. Mas sobre um Chefe de Estado que seja capaz de garantir a segurança do território do seu país, enfraquecer a principal ameaça à segurança dos seus cidadãos e manter a primazia estratégica num contexto de expansão dos seus principais rivais, qualquer manual de política internacional e de diplomacia dirá, no mínimo, que teve uma actuação positiva. É o balanço possível sete anos depois e dois meses antes do fim.
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João Marques de Almeida

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