‘Show’ Sócrates
"Com a crise financeira internacional Sócrates surge fulgurante com a virgindade política regenerada.
A grande novidade política é o PS e “A Força da Mudança”. Em crescendo para as eleições, Sócrates revela um inesgotável talento teatral. Num volte-face digno de uma comédia romântica, Sócrates recorre à narrativa da mudança e afirma que a alternativa a Sócrates continua a ser Sócrates. A mensagem para os portugueses é tão óbvia quanto brutal – não é preciso mudar quando Sócrates é a mudança. A arrogância da afirmação confirma o talento do primeiro-ministro para a ficção e atesta a incompetência da oposição para o confronto político. Finalmente, Portugal chegou ao fim da história e Sócrates é o último e Grande Timoneiro.
No mundo do primeiro-ministro, Sócrates faz tudo bem mesmo quando tudo à sua volta parece correr mal. No fundo, o primeiro-ministro acumula a lucidez e a infalibilidade dos grandes líderes. Em termos políticos, Sócrates é um objecto não identificado, espécie de híbrido político em que tudo tem lugar e faz sentido. Politicamente, o primeiro-ministro é um conjunto de partes que não chegam a completar uma unidade orgânica coerente. Esta característica explica a natureza artificial da imagem política do primeiro-ministro. A eficácia de Sócrates resulta de uma identidade política volátil e de uma concepção plástica da política.
Observe-se o ‘slogan’ e o comício da ‘rentrée’. “A Força da Mudança” reclama a força de Mitterrand, apela à mudança de Obama e recorre ao estilo leve e moderno de Zapatero. Quanto ao discurso político, Sócrates reduziu o PS a uma coligação entre uma vaga ideologia de progresso e uma ideia de igualdade. O velho socialismo morreu com Sócrates e os socialistas aplaudem a sua morte.
O comício socialista mostrou ainda que o primeiro-ministro é uma fénix na política nacional. Responsável pelo controle do ‘deficit’ e pouco mais, com a crise financeira internacional Sócrates surge fulgurante com a virgindade política regenerada. O primeiro-ministro deixou de ser responsável pelo que se passa e pelo que não se passa no país, uma vez que todos os problemas têm origem na profunda crise financeira internacional. Revigorado, renovado e livre de responsabilidades passadas, Sócrates renasce das cinzas de um país que parece não ter governado. O primeiro-ministro Sócrates é hoje uma vítima como todos os portugueses. A condição de vítima humaniza o primeiro-ministro, mas deixa o país sem destino político.
Em Portugal, o consumo de antidepressivos é o triplo da média europeia. Já é um avanço quando o progresso ajuda a suportar o atraso."
Carlos Marques de Almeida
A grande novidade política é o PS e “A Força da Mudança”. Em crescendo para as eleições, Sócrates revela um inesgotável talento teatral. Num volte-face digno de uma comédia romântica, Sócrates recorre à narrativa da mudança e afirma que a alternativa a Sócrates continua a ser Sócrates. A mensagem para os portugueses é tão óbvia quanto brutal – não é preciso mudar quando Sócrates é a mudança. A arrogância da afirmação confirma o talento do primeiro-ministro para a ficção e atesta a incompetência da oposição para o confronto político. Finalmente, Portugal chegou ao fim da história e Sócrates é o último e Grande Timoneiro.
No mundo do primeiro-ministro, Sócrates faz tudo bem mesmo quando tudo à sua volta parece correr mal. No fundo, o primeiro-ministro acumula a lucidez e a infalibilidade dos grandes líderes. Em termos políticos, Sócrates é um objecto não identificado, espécie de híbrido político em que tudo tem lugar e faz sentido. Politicamente, o primeiro-ministro é um conjunto de partes que não chegam a completar uma unidade orgânica coerente. Esta característica explica a natureza artificial da imagem política do primeiro-ministro. A eficácia de Sócrates resulta de uma identidade política volátil e de uma concepção plástica da política.
Observe-se o ‘slogan’ e o comício da ‘rentrée’. “A Força da Mudança” reclama a força de Mitterrand, apela à mudança de Obama e recorre ao estilo leve e moderno de Zapatero. Quanto ao discurso político, Sócrates reduziu o PS a uma coligação entre uma vaga ideologia de progresso e uma ideia de igualdade. O velho socialismo morreu com Sócrates e os socialistas aplaudem a sua morte.
O comício socialista mostrou ainda que o primeiro-ministro é uma fénix na política nacional. Responsável pelo controle do ‘deficit’ e pouco mais, com a crise financeira internacional Sócrates surge fulgurante com a virgindade política regenerada. O primeiro-ministro deixou de ser responsável pelo que se passa e pelo que não se passa no país, uma vez que todos os problemas têm origem na profunda crise financeira internacional. Revigorado, renovado e livre de responsabilidades passadas, Sócrates renasce das cinzas de um país que parece não ter governado. O primeiro-ministro Sócrates é hoje uma vítima como todos os portugueses. A condição de vítima humaniza o primeiro-ministro, mas deixa o país sem destino político.
Em Portugal, o consumo de antidepressivos é o triplo da média europeia. Já é um avanço quando o progresso ajuda a suportar o atraso."
Carlos Marques de Almeida
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