sábado, novembro 08, 2008

As contas insustentáveis...

As insustentáveis contas de Obama

A primeira conferência de imprensa de Barack Obama como presidente eleito dos Estados Unidos da América revelou ontem, em Washington, um conjunto de novas ideias para resolver velhos problemas.
A sua sustentabilidade, a prazo, é altamente questionável.
O novo inquilino da Casa Branca foi generoso nas propostas: um segundo pacote de medidas para estimular a economia, avultados investimentos públicos para recuperar infra-estruturas, novos programas de ajuda financeira aos 3 milhões de cidadãos afectados pela crise hipotecária, subsídios para o desenvolvimento de energias limpas, incentivos fiscais para a criação de emprego e abrandamento da carga fiscal para 95% dos contribuintes, de par com profundas reformas dos sistemas de segurança social e de assistência médica.
Perante a desastrosa situação económica e financeira do país é difícil vislumbrar a exequibilidade das promessas.
Os analistas do banco Goldman Sachs calculam em USD 500 mm/bi o montante em apoios para combater a quebra do consumo privado e os efeitos do aperto do crédito às empresas e às famílias.
A verba equivale a 3,5% do actual PIB norte-americano.
Uma outra estimativa daquele banco, publicada na semana passada, destacou a necessidade de, em breve, o governo ter de criar mais USD 2 mil biliões/ trilhões (mibi/tri) de dívida pública - USD 850 mil milhões/bilhões (mm/bi) para financiar o défice orçamental, USD 500 mm/bi para comprar activos tóxicos e mais de USD 560 mm/bi para rolar as dívidas vincendas relativas a juros dos Títulos do Tesouro.
Porém, vários analistas pensam que a última estimativa do Goldman peca por defeito.
Em 2009, poderá situar-se algures entre USD 2,5-3 mibi/tri…
Desde 2001, data da tomada de posse da primeira administração Bush/Cheney, os défices orçamentais acumulados atingiram USD 2,1 mibi/tri. Destes, só no ano fiscal de 2008, o défice foi de USD 455 mm/bi. Para 2009, antes das eleições presidenciais, a última administração Bush/Cheney calculou um défice de USD 482 mm/ bi - que não inclui o “Plano Paulson” para salvamento da indústria financeira - avaliado em USD 700 mm/bi - o que fará galgar o défice para quase USD 1,2 mibi/tri.
O actual secretário do Tesouro, Henry Paulson, anunciou no passado dia 3 que, apenas no último trimestre deste ano, o governo vai contrair empréstimos no montante de USD 550 mm/bi, ou seja o dobro do volume de crédito contraído durante o primeiro trimestre de 2008.
O montante representa um aumento de USD 408 mm/bi face à estimativa publicada em Agosto, e já inclui USD 260 mm/bi para a recapitalização dos bancos norte-americanos. No primeiro trimestre de 2009, a estimativa do Tesouro sobre necessidades de financiamento é de USD 368 mm/bi.
A consulta a fontes independentes, temperada com a extrapolação do histórico das necessidades de financiamento do Tesouro nos últimos meses, permite calcular com alguma segurança que aquele valor deva atingir USD 500 mm/bi, em linha com a estimativa trimestral da dívida pública publicada pelos economistas do Goldman Sachs.
Como será operacionalizado o financiamento? Que consequências terão estas operações nos mercados?
No próximo dia 10, o Tesouro irá leiloar USD 25 mm/bi em TT’s a três anos.
Dias mais tarde serão leiloados USD 20 mm/bi e USD 10 mi/bi em títulos com maturidades de 10 e 30 anos, respectivamente. A pressão da oferta sobre a procura será imensa.
Inevitavelmente o excesso da oferta deste tipo de instrumento - essencial para assegurar o funcionamento da máquina económica do país - vai criar problemas adicionais de financiamento da dívida pública, até agora maioritariamente assegurado pelos bancos centrais e pelos investidores institucionais da China, Japão, Europa, países da OPEP e Brasil, entre outros.
A dramática oferta de TT’s já está baixar os preços dos títulos, fez subir as taxas de juro e reavivou o debate sobre a capacidade financeira dos EUA para honrar os seus compromissos.
Os mais pessimistas já falam na possibilidade de, pela primeira vez na sua história, o Tesouro estadunidense poder entrar em incumprimento, uma situação idêntica àquela que afectou a Rússia em 1998 e a Argentina em 2001…
A dinâmica é irreversível indepentemente da vontade dos banqueiros centrais, manifestada através da fixação das diversas taxas que influenciam o preço do dinheiro.
Os bancos emissores conseguem controlar apenas as taxas de muito curto prazo.
As de longo prazo comportam-se em função da percepção dos investidores sobre a oferta e procura de títulos, o risco de crédito e as perspectivas da inflação.
Neste quadro conjunturalmente depressivo o que propôs Obama?
- USD 175 mm/bi, para um segundo programa de estímulos económicos com reembolsos e incentivos fiscais com o propósito de reduzir o número de penhoras hipotecárias e para dinamizar a criação de empregos;
- USD 65 mm/bi para a reforma do sistema de saúde;
- USD 150 mm/bi, até 2019, para o desenvolvimento de fontes limpas de energia;
Analistas do Fed calculam que uma pouco provável mas moderada recessão, idêntica à de 1990-1991, com final no segundo trimestre de 2009, poderá gerar uma taxa de desemprego à volta dos 7%.
Um cenário mais pessimista, semelhante ao de 1981-1982, com a recuperação a iniciar-se no início de 2010, já pode atirar as taxas de desemprego para os 8%-9%.
A ONG sobre políticas fiscais Tax Policy Centre estimou em USD 1,6 mibi/tri o investimento necessário, nos próximos 10 anos, para reformar apenas o sector público da saúde.
O stress sobre o sistema de segurança social já é crítico, devido ao crescente número de baby-boomers que que passa de contribuinte a beneficiário.
O sistema representa 8% do PIB americano, em 2008, mas atingirá os 19%, em 2050.
A associação norte-americana dos engenheiros civis calcula em USD 1,6 mil biliões o investimento necessário, até 2013, para a construção/recuperação de pontes, estradas, escolas e de outros equipamentos públicos federais desejada pelo novo presidente.
O cenário macro económico é claramente negativo mas, apesar disso, Barack Obama insiste na aprovação pelo Congresso de programas cujos montantes vão, no imediato, agravar ainda mais a situação.
Por outro lado, não é garantido que produzam os efeitos esperados.
Basta constatar que a esmagadora maioria dos milhares de milhões de dólares aplicados na recapitalização dos bancos está a ser usada para ganhar quota de mercado, através da compra de instituições com problemas, em lugar de gradualmente serem satisfeitas as necessidades de crédito das empresas e das famílias.
Um relatório do Fed publicado na quinta-feira revelou que o aperto do crédito atingiu o nível mais baixo dos últimos 40 anos, com excepção do curto período de imposição de controlo do crédito durante a administração Carter (1976-1980).
Colunistas dos jornais e revistas especializados - do Financial Times ao Economist, passando pelo Wall Street Journal - já acusaram os banqueiros comerciais de “ganância” “ingratidão” e “criminosa irresponsabilidade”.
“Obama herdou uma imensa trapalhada.
Este é o resultado de fazer saltar a dívida pública norte-americana de 130% para mais de 220% do PIB, em meio século de crescente alavancagem.
O jogo acabou.
A purga será lenta e dolorosa, nos anos que se avizinham”, escreveu o colunista do britânico The Telegraph, Ambrose Evans-Pritchard, na edição do passado dia 6.
Lenta e dolorosa?
Não será antes insustentável?

MRA Dep. Data Mining
Pedro Varanda de Castro, Consultor
O pântano e as criaturas geradas no sítio...
Tentando estabelecer um paralelo, pode-se concluir que pelo sítio as situações são semelhantes, com uma diferença, a doença que tornou surdos mudos os políticos deste ainda país. Parece, de facto, que uma epidemia tomou conta do governo e das oposições, apenas interessados em manter ou ganhar algumas posições nas eleições que se avizinham.
Ficaram sem memória e tolhidos de movimentos e de sentidos, olhos, ouvidos, cheiro e tacto, como se estivessem enfiados num lago que se tornou num lodaçal imenso, sem possibilidade de vir à superfície e quando aparecem, o lodo apodera-se do sistema nervoso, tornando-os em seres sem reacção, afinal beberam do líquido que criaram e inalaram o gás que se formou, com a transformação de um país num imenso lodaçal.
A comparação não é de desprezar na dívida pública e nas situações opacas, a que os elementos dos órgãos de soberania assistiram como se assiste a uma miragem.
A justiça, porque não cobrou o que devia a tempo e horas, decerto irá actuar, mas, infelizmente, para mostrar que existe, e, o resto das instituições, ( se é que se pode chamar isso a organismos de um estado morto há muito), mantêm silêncio, não vá o papão aparecer ou acontecer uma corrida a alguns dos causadores da crise, porque os outros, se a justiça existisse, estariam já, com o rabinho a arder.
Reparem como se comportou o grupo de cidadãos a que se convencionou chamar de deputados, na discussão de um orçamento tipo jogo do monopólio e a aprovação de leis que decerto irão provocar o caos social que há muito espreita.
“…A justiça, pois, que começou a dizer: «tudo pode ser pago e deve ser pago» é a mesma que, por fim, fecha os olhos e não cobra as suas dívidas e se destrói a si mesma como todas as coisas boas deste mundo. Esta autodestruição da justiça, chama-se graça e é privilégio dos mais poderosos, dos que estão para além da justiça”.
Nietzsche in “A Genealogia da Moral”

11 Comments:

Blogger Toupeira said...

Acerca do pântano vale a pena ver o artigo de "O Portugal Profundo, acerca do BPN..."

sábado, novembro 08, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Nem percebo.Obama não foi eleito por negro(ou "bronzeado",como diz Berlusconi)mas, porque a candidata Clinton se mostrou vazia e o excelente orador foi melhor produto que McCain(tambem só foram 7 pontos de diferença,para tanta festa..).O mundo sem os EUA não funciona,basta olhar para Wall Street .E os States têm toda a razão em se defenderem...

sábado, novembro 08, 2008  
Anonymous Anónimo said...

1. Obama é sinónimo de Esperança NA Mudança. 2. Só o ano de 2008 teve tantas mudanças significativas e esta fase da Globalização é tão diferente das anteriores, que seria um DESASTRE aplicar em 2009 as velhas e ultrapassadas "receitas" de Roosevelt e de Reagan ( onde está o "money" ?). 3. Obama precisa apenas de TEMP0 ( no plano interno)e de encontrar ALIADOS GLOBAIS "de facto" e não de "paleio"( no plano externo). 4. De qualquer modo, mesmo com um "soft power" simpático, já começou mesmo o hand-over global. Um Mundo multipolar está a emergir . A reunião de HOJE de Bruxelas e a Reunião do "G-20" de 15 de Novembro em Washington são passos nesse sentido. Para a Europa Unida é um risco mas tambem uma grande oportunidade !

sábado, novembro 08, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Obama o Mega guterres... Fala como ninguem, mas não tem capacidade e os problemas são: O mundo.

sábado, novembro 08, 2008  
Anonymous Anónimo said...

O Obama não é negro. É mestiço!!!!

sábado, novembro 08, 2008  
Anonymous Anónimo said...

A Europa não lidera nada, não aconselha nada, limita-se pura e simplesmente a assistir com o que se passa na América...Por isso, foi arrastada pela crise. O mundo vai mudar e muda com o que vai acontecer daqui para diante nos EUA...Ao contrário do que, até aqui, mais para o bem do que para o mal.Sobre as cinzas duma crise financeira nascida nos EUA, o resto do mundo não teve força para concertar ou lhe impor soluções, porque a América também não as acata...Antes foi contagiado por ela...Não tenham dúvidas, uma nova ordem mundial, económica, financeira, política e social nasce com Obama. Cada palavra de estímulo que este dirija ao seu povo renasce o orgulho de ser americano, agora, para impor a paz e não a guerra, porque afinal, desta vez, o presidente americano é negro...

sábado, novembro 08, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Mais uma vez, o Presidente da Comissão a tentar dar na vista. E consegue-o, pelas piores razões ! Quem é ele ou a Europa para mandar "recados" ao Presidente Obama ? "Europa QUER..."...quer o quê? os EUA mandam e a Europa obedeçe !! Francamente !!

sábado, novembro 08, 2008  
Anonymous Anónimo said...

"Que significado tem esta vitória?
Do ponto de vista simbólico é um marco. A América alarga horizontes e mostra o caminho, não só para si, como também para o resto do mundo.

Neste momento de crise financeira e económica, que importância tem esta eleição?
Temos de ser realistas. Uma boa campanha eleitoral significa aumentar as expectativas e dar esperança às pessoas. Governar significa dar esperança às pessoas, mas obviamente baixar as expectativas. A margem de um presidente é sempre menor do que aquela que é tida na campanha eleitoral.

De que modo é que a crise trouxe ao de cima as fragilidades da América?
Trouxe um problema de fragilidade e de credibilidade. As crises financeiras eram uma coisa que acontecia aos outros e não aos EUA. O facto de a crise ter aparecido nos EUA minou a credibilidade norte-americana. Os EUA gostam de ser o país que mostra o caminho ao resto do mundo. Sob esse ponto de vista, foi um rombo na credibilidade financeira norte-americana, que vai levar algum tempo a corrigir. E acima de tudo temos de perceber que as promessas fiscais e orçamentais que foram feitas não são compatíveis com os problemas que os EUA têm de combater. Algo vai ter de ceder.

Do ponto de vista militar, a crise tem algum efeito no poderio americano?
A curto prazo não. A médio, longo prazo sim. Com os dilemas orçamentais e fiscais que os EUA vão ter, terão de fazer escolhas em termos de plataformas e cenários onde se envolvem, que vão ser bastante difíceis.

Faz diferença para a América e para o mundo ser um um negro a governar os EUA?
Claro que faz - e hoje caíram muitos mitos por terra com esta vitória. Também do ponto de vista de um país que sempre teve uma posição de missionário do resto do mundo, o capital simbólico de Obama é um marco importante.

O que mudará na relação com a Europa?
Obama terá a capacidade para pedir mais dos europeus. E os europeus terão menos capacidade para se esconder atrás do presidente norte-americano que era George W Bush.

Bush sai pela porta pequena. O que dirá a História de oito anos de George W. Bush?
Só sabemos que por vezes temos exemplos inesperados como foi o caso de Harry Truman que teve uma guerra na Coreia, muito mais desastrosa em termos de baixas, e que 40 anos depois é considerado um grande presidente por coisas que na altura não eram importantes. É por isso que Bush pode ser considerado um presidente trágico por causa do Iraque ou um presidente razoável, ou até bom, pela maneira como conduziu a Índia e a China."

sábado, novembro 08, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Cuidado com Obama, porque o Ministro Pinho é conhecido por anunciar o contrário do que vai efectivamente acontecer.

sábado, novembro 08, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Embora desiludido, tenho uma réstea de esperança, que, com a vitória de OBAMA nos USA, algo venha a mudar para melhor, neste mundo de bagunça geral, em que vivemos. Afinal, a maioria dos Norte-Americanos, "não são assim tão parvos". Ainda bem que o crude continua abaixo dos 70 dólares. Temos que continuar a insistir para que os combustíveis baixem mais, e com eles, outros bens essenciais. "VIVA OBAMA, NOVO PRESIDENTE DOS USA"!!! POR UM FUTURO MAIS RISONHO PARA TODOS, em especial para os mais jovens.

sábado, novembro 08, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Que me desculpe o "desiludido", mas o seu comentário mais me parece o de um "iludido"!!!

domingo, novembro 09, 2008  

Enviar um comentário

<< Home

Divulgue o seu blog!