segunda-feira, novembro 17, 2008

Magalhães.

"O COMPUTADOR Magalhães tornou-se o argumento político preferido de José Sócrates e o maior símbolo deste Governo. E a verdade é que a distribuição generalizada do Magalhães pelos alunos do Ensino Básico é uma ideia política criativa e pioneira. Que vai colocar em contacto todas as crianças portuguesas com as novas tecnologias da informação, melhorando a aprendizagem e o nível de qualificação dos alunos. Mas há três problemas que ensombram esta iniciativa governamental: um de dissimulação, outro de mistificação e ainda um de desinformação.

ADISSIMULAÇÃO reside no segredo sobre o negócio. Quem paga os computadores que custam 300 euros e são distribuídos gratuitamente (ou a 20 e a 50 euros)? As operadoras móveis? Incluindo os custos da gigantesca distribuição? Parece que não. E com que contrapartidas? O Governo nada revela.
A mistificação é dizer-se que é «um computador português», quando é uma adaptação do Classmate PC da Intel, existente desde 2006 e distribuído com outros nomes na Índia, Brasil, Indonésia, etc. O hardware, o processador, é da norte-americana Intel, o software é da norte-americana Microsoft. Dizer que o Magalhães, montado numa empresa de Matosinhos (com 30% de produção nacional), é português é o mesmo que afirmar que são genuinamente portugueses os Volkswagens que saem de Palmela.
A desinformação é fazer-se crer que estão a ser entregues às escolas 500 mil Magalhães quando, ao que se sabe, nem 1% dessa promessa lá chegou. Estará o Governo a preparar uma distribuição massiva para Setembro de 2009, início do novo ano lectivo e véspera de eleições legislativas?

SÓCRATES, que parece ter criado uma especial relação de afeição com o miniportátil, distribuiu-o aos 22 chefes de Estado e de Governo na Cimeira de El Salvador. Apresentando-o como «o verdadeiro computador ibero-americano», «simples e resistente ao choque» (até um amigo seu «o atirou ao chão e não se partiu»), «uma espécie de Tintim, que pode ser usado dos 7 aos 77 anos».
Foi um momento acabrunhante. Com o primeiro-ministro a desempenhar o papel do português que Hergé faz aparecer episodicamente nas aventuras de Tintim: o desenrascado vendedor de bricabraque Oliveira de Figueira. O que irá Sócrates vender na próxima Cimeira: sapatos de S. João da Madeira, vinhos do Alentejo, loiças de casa de banho portuguesas?
"

JAL

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