sábado, novembro 29, 2008

Recessão política

"A Europa afunda-se, mas Portugal consegue arrastar-se na zona entre marés. Eis o retrato da mediania que é a verdadeira consciência da Nação.

O primeiro-ministro passeia pelo país um optimismo ora falso, ora infantil. Quando exibe computadores Magalhães como adereços de filme governamental e gosto duvidoso, Sócrates revela a sua incansável meninice. Quando em tom sério de governante responsável lembra o oásis nacional no deserto económico da Europa, Sócrates está apenas a esconder a realidade com o manto luminoso da ficção política. Sócrates é hoje um primeiro-ministro acomodado que se limita a tentar controlar os inevitáveis efeitos da crise económica.

Existe no entanto uma interessante ironia. O ano de 2008 devia ser o apogeu da era Sócrates. Vencido o ‘deficit’, derrotados os interesses instalados, humilhada a oposição incompetente e retrógrada, o Governo preparava-se para anunciar a modernidade e uma vida europeia para o português europeu. Mas o buraco negro da crise internacional arrastou Portugal para a estagnação e engoliu o talento ímpar de um primeiro-ministro milagreiro. Sócrates ainda se julga o salvador da pátria, mas limita-se a reunir a pouca convicção para salvar o que sobra de um projecto falhado.

O que perturba em Portugal é o sentimento de auto-comiseração, é sobretudo a inacção política disfarçada de responsabilidade e excelência. Portugal vive em estagnação económica e em 2009 entra em recessão com crescimento negativo de 0,2%? Obviamente que sim, mas a Espanha recua 0,9%, a Alemanha 0,8% e a Zona Euro regride em média 0,6%. Sócrates devia explicar aos portugueses que ser pobre na Alemanha não é o mesmo que ser pobre em Portugal. Se o Governo não revela ambição, Sócrates vai debitando mecanicamente a cartilha neo-keynesiana. Rasgo, pensamento novo, visão e grandeza de alma são palavras estranhas ao vocabulário do primeiro-ministro. A Europa afunda-se, mas Portugal consegue arrastar-se na zona entre marés. Eis o retrato da mediania que é a verdadeira consciência da Nação. Em Portugal, vive-se em permanente clima de recessão política.

Se o projecto Sócrates subsiste por omissão flagrante de uma oposição dividida entre a turbulência e a deserção, o país perde-se num ambiente de conspiração e intriga. A conspiração do BPN serve de fixação para os problemas do sector financeiro que continua a proclamar a respectiva solidez. A intriga do BPN serve para envolver a Presidência da República e para a tentativa de descredibilização da primeira das instituições. Parafraseando Horace Walpole, Portugal é uma comédia para quem pensa e uma tragédia para quem sente
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Carlos Marques de Almeida

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