sábado, novembro 22, 2008

"Uma das primeiras grandes operações de marketing de José Sócrates no Governo, em Setembro de 2005 – poucos meses após ter tomado posse –, foi ter aparecido a premir o detonador que accionou os explosivos estrategicamente colocados nos pilares das torres da Torralta em Tróia, que implodiram em segundos. Foi um marco para a pequena península: o fim dos projectos passados e falhados e o anúncio de uma nova era, de progresso e desenvolvimento.

Três anos depois, Tróia ainda continua um gigantesco estaleiro, prometendo transformar-se numa Riviera francesa para um grupo de felizardos endinheirados.

Nas imagens que correram o país, na altura, com Sócrates de sorriso estampado no rosto no momento em que accionava a implosão, devia ter-se percebido muito mais do que um acto de engenharia do primeiro-ministro.

Mutatis mutandis, era o que ele se preparava para fazer e já ia fazendo aos pilares do E stado de Direito democrático e da sociedade portuguesa.

A estratégia de poder de Sócrates está, na verdade, muito para além da conquistada maioria absoluta no Parlamento. O legítimo e democrático poder que os eleitores lhe confiaram não lhe é suficiente.

Para Sócrates, o poder político é um poder absoluto e alicerçado na subjugação ou controlo de todos os outros poderes: do judicial ao económico, passando pelas Forças Armadas e pela comunicação social e estendendo-se a todos os restantes centros de decisão ou de influência. Absoluto, pois.

Com esse primeiro objectivo, há que destruir ou colocar cargas de explosivos em cada um dos pilares desses outros poderes, para, escolhido o momento, bastar-lhe premir o botão.

Foi assim no poder judicial – que começou a ‘minar’ mal tomou posse com o ataque aos juízes e a ‘comezinha’ e falsa questão dos dois meses de férias judiciais (quem realmente as gozava?) para depois atacar o essencial e substancial com as reformas legislativas.

Foi assim no poder económico – que melhor forma de condicionar o empresariado e os investidores nacionais do que controlar-lhes a fonte de financiamento (a banca)?
Foi assim com a comunicação social – muito mais do que as ‘pressões’ sobre os jornalistas ou as tentativas de ‘condicionar’ notícias que, de quando em vez, surgem denunciadas nas páginas dos jornais e fazem as delícias da ERC (veja-se o pedido de explicações esta semana apresentado pela Presidência da República à direcção da Lusa, pela diferença de critérios no tratamento das entrevistas de Cavaco Silva ao Público e de José Sócrates ao Diário de Notícias e à TSF), a ameaça está na tentativa de controlo dos meios e de engajamento dos ‘patrões’ dos grandes grupos de media no modelo importado da vizinha Espanha.

É assim, também, com os militares, a quem agora, tal como fez com os juízes e os médicos, os farmacêuticos, os professores e demais ‘corporações’, retira e desvaloriza o estatuto.

As Forças Armadas são um pilar fundamental da autoridade e segurança do Estado e símbolo da soberania nacional. Não são apenas e só uma mera força de recrutamento eventual para missões internacionais.

Vem tudo isto a propósito da total ausência de polémica em torno das declarações de José Sócrates, esta semana, sobre as «profundas mudanças» que são necessárias nas Forças Armadas e que considera incompatíveis com «complacência» e «imobilismo». Bem ao seu jeito de afrontamento dos descontentes (os desconsiderados militares) – o que importa?, Sócrates pode dizê-lo.

Mas vem também a propósito do alarido desmesurado que, pelo contrário, suscitaram as declarações de Manuela Ferreira Leite sobre a necessidade de suspensão da democracia, por uns meses, para pôr isto na ordem.

Foi zurzida à esquerda e à direita, sem ‘complacência’ nem no seu próprio partido.
Mas, descontando a inabilidade política da líder do PSD (bastava-lhe ver no que deram as considerações no mesmo sentido, e ainda tão recentes, do general Loureiro dos Santos), Ferreira Leite mais não disse do que o que muitos pensam e comentam baixinho. Ou nem por isso.

Mário Soares, por exemplo, em artigo publicado esta semana no DN, precisamente no mesmo dia em que a líder do PSD disse o que disse e todos disseram que não devia ter dito, escreveu: «Não é possível, em democracia, fazer uma reforma do ensino contra os professores, como fazer uma reforma da saúde contra os médicos e os enfermeiros ou uma reforma da justiça contra os magistrados» (e, já agora, uma reforma nas Forças Armadas contra os militares).

Olhe que é, doutor, olhe que é.

A democracia, essa, segue dentro de momentos... lá para o final de 2009. E a ver vamos
..."

MRamires

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