Quatro casamentos e um funeral
"O BPN, BPP, sector automóvel, Finantia, Qimonda são todos casos diferentes onde já grassa o erro. Hoje escrevemos sobre isso. Não consta que Belmiro de Azevedo e Henrique Granadeiro tenham estado no Fórum das Esquerdas e sido iluminados pelo discurso de Manuel Alegre contra as ajudas aos bancos. O que os aproxima então, a eles e a Jorge Sampaio, na oposição ao intervencionismo estatal no BPN e BPP?
Fernando Ulrich atirou-se a esses quatro perigosos opositores ontem, em entrevista ao "Público", recomendando-lhes que falem menos. É natural que os banqueiros nos queiram de bolinha baixa, mas talvez seja aceitável que aqueles que estão a injectar dinheiro na banca, em aumentos de capital da Caixa, em nacionalizações e em garantias aos bancos, tenham, pelo menos, opinião. Mesmo que, ó heresia!, se questione este pensamento único que nem a oposição política contesta: à esquerda do PS, o PCP está preocupado com o Bloco e o Bloco parece consumido pela desilusão de a crise não ter ainda chegado com toda a força; à direita, o PSD mantém-se um saco de gatos e o PP comporta-se como uma gata com cio pondo-se a jeito do PS.
Criticar a salvação dos bancos não tem apenas a ver com ideologias mais ou menos retrógradas, assim como a intervenção do Estado não teve a ver com esquerda, direita, socialismo ou capitalismo. Foi por sobrevivência e foi correcta. No início.
No início foi o BPN. Embora o problema deste banco não resultasse da crise financeira (foi agravado por ela), a salvação impôs-se às alternativas. Havia-as: uma era aceitar a proposta de Cadilhe, de a Caixa injectar dinheiro no BPN, recapitalizando-o. Fê-lo depois no BPP mas não no BPN: naquela altura, de pré-colapso total na banca, o País não podia correr o risco de a notícia do BPN correr mal e contagiar todo o sistema.
No BPP, o caso é diferente. Foi emprestado dinheiro ao banco, com garantias do Estado, parte do qual rapidamente foi resgatado pelos clientes. Esse novo dinheiro não está a salvar o BPP, que provavelmente caminha para um desmantelamento controlado. Ainda não está explicado por que razão os bancos acudiram ao BPP e houve garantias de Estado. Provavelmente, porque pagaram a si mesmos o que o BPP lhes devia, adiando o mal parado. Possivelmente, porque não é mau ficar a ter os grandes accionistas do BPP a dever favores.
A maneira mais fácil de garantir depósitos teria sido transferi-los para a Caixa, que por sua vez ficaria credora preferencial do banco em liquidação. A vantagem seria o controlo dos danos, que de outra forma se agigantam. Em prejuízo da Caixa. Aí Ulrich está coberto de razão: a Caixa não pode ser o saco azul do partido do poder, que tem acesso a capital em condições anti-concorrenciais e que, como tem dez milhões de accionistas mas só obedece a uma pessoa, está a gastar o dinheiro como nenhum banco privado gastaria. A Caixa corre o risco de transformar-se num fundo soberano que faz intervencionismo político nas empresas. No final desta crise, a Caixa poderá estar com a rentabilidade arruinada e só não lhe faltará capital porque os impostos o vão aumentando.
O voluntarismo de salvar tudo e todos, bancos, minas, empresas, PME, funcionários públicos, empresas de calçado, etc. é uma missão impossível. Se fosse hoje, Pedro Caldeira não teria falido, os seus clientes não teriam ficado arruinados e o País inteiro seria intimado a concordar sob o dogma de que não nada se pode pôr em causa. Acha mesmo que estamos a andar para a frente? Não: estamos a andar em círculos e, pior, às arrecuas. Salvar tudo não é salvar a economia, é salvar a face.
PS: Quem apresenta a criação de uma "holding" entre a CGD e a Parpública a 23 de dezembro às 21 horas só pode querer que não se dê por isso. Porque será?"
Pedro Santos Guerreiro
Fernando Ulrich atirou-se a esses quatro perigosos opositores ontem, em entrevista ao "Público", recomendando-lhes que falem menos. É natural que os banqueiros nos queiram de bolinha baixa, mas talvez seja aceitável que aqueles que estão a injectar dinheiro na banca, em aumentos de capital da Caixa, em nacionalizações e em garantias aos bancos, tenham, pelo menos, opinião. Mesmo que, ó heresia!, se questione este pensamento único que nem a oposição política contesta: à esquerda do PS, o PCP está preocupado com o Bloco e o Bloco parece consumido pela desilusão de a crise não ter ainda chegado com toda a força; à direita, o PSD mantém-se um saco de gatos e o PP comporta-se como uma gata com cio pondo-se a jeito do PS.
Criticar a salvação dos bancos não tem apenas a ver com ideologias mais ou menos retrógradas, assim como a intervenção do Estado não teve a ver com esquerda, direita, socialismo ou capitalismo. Foi por sobrevivência e foi correcta. No início.
No início foi o BPN. Embora o problema deste banco não resultasse da crise financeira (foi agravado por ela), a salvação impôs-se às alternativas. Havia-as: uma era aceitar a proposta de Cadilhe, de a Caixa injectar dinheiro no BPN, recapitalizando-o. Fê-lo depois no BPP mas não no BPN: naquela altura, de pré-colapso total na banca, o País não podia correr o risco de a notícia do BPN correr mal e contagiar todo o sistema.
No BPP, o caso é diferente. Foi emprestado dinheiro ao banco, com garantias do Estado, parte do qual rapidamente foi resgatado pelos clientes. Esse novo dinheiro não está a salvar o BPP, que provavelmente caminha para um desmantelamento controlado. Ainda não está explicado por que razão os bancos acudiram ao BPP e houve garantias de Estado. Provavelmente, porque pagaram a si mesmos o que o BPP lhes devia, adiando o mal parado. Possivelmente, porque não é mau ficar a ter os grandes accionistas do BPP a dever favores.
A maneira mais fácil de garantir depósitos teria sido transferi-los para a Caixa, que por sua vez ficaria credora preferencial do banco em liquidação. A vantagem seria o controlo dos danos, que de outra forma se agigantam. Em prejuízo da Caixa. Aí Ulrich está coberto de razão: a Caixa não pode ser o saco azul do partido do poder, que tem acesso a capital em condições anti-concorrenciais e que, como tem dez milhões de accionistas mas só obedece a uma pessoa, está a gastar o dinheiro como nenhum banco privado gastaria. A Caixa corre o risco de transformar-se num fundo soberano que faz intervencionismo político nas empresas. No final desta crise, a Caixa poderá estar com a rentabilidade arruinada e só não lhe faltará capital porque os impostos o vão aumentando.
O voluntarismo de salvar tudo e todos, bancos, minas, empresas, PME, funcionários públicos, empresas de calçado, etc. é uma missão impossível. Se fosse hoje, Pedro Caldeira não teria falido, os seus clientes não teriam ficado arruinados e o País inteiro seria intimado a concordar sob o dogma de que não nada se pode pôr em causa. Acha mesmo que estamos a andar para a frente? Não: estamos a andar em círculos e, pior, às arrecuas. Salvar tudo não é salvar a economia, é salvar a face.
PS: Quem apresenta a criação de uma "holding" entre a CGD e a Parpública a 23 de dezembro às 21 horas só pode querer que não se dê por isso. Porque será?"
Pedro Santos Guerreiro
1 Comments:
Ligando um artigo ao outro, porque são mais do mesmo, não se trata de um tipo de capitalismo, nem de intervencionismo para salvar.
Trata-se de tráfico de influências, trata-se de aviso do tipo: "Se tu calares eu não digo o que sei de ti"...
Corrupção que o Senhor Procurador já avisou que não tinha meios para combater.
Se não pode demita-se e dedique-se a outra actividade, tenho muita pena,mas se fica revela que o crime compensa porque não tem meios e mais grave, as coisas já se sabeiam há anos, não há meses.
O Governador do Banco do sítio, o PR, o PM e os Ministros todos e todos os outros inclusivé aqueles que diziam que o governo anterior era uma trapalhada.
Demitir o governo porque há crise porque não, mas sem eleições à vista, eis uma boa solução, governo de gestão a duodécimos e assim de um momento para o outro haveria meios para investigar, porque não haveria tempo para queimar dossiers.
Democracia? Isso é uma treta para meninos palermas.
No artigo seguinte sobre a gripe, duvido que o pico seja único na procura o que não quer dizer no nº de casos. Revelou que o Director Geral de Saúde é um incapaz à frente de uma equipa de incapazes. A Ministra nem de gestão sabe, de política de saúde pouco ou nada e está rodeada pelos oportunistas do costume, aqueles que sempre estiveram nos vários ministérios do bloco central, sempre souberam andar no arame, médicos de canudo sem pratica de medicina há muitos anos e em termos de epidemiologia não sabem ler ou ver os sinais.
Diminuiram os horários de atendimento nos Centros de Saúde e os hospitais funcionam com serviços médicos de outsourcing, com as consequências gravosas nas altas e nos internamentos.
Se o tempo piorar, antes e depois do dia de Ano Novo voltamos ao mesmo, não podem é dispensar as pessoas e depois na aflição chamar.
Há um ministério sombra dentro deste e esse é que manda e o resto é um verbo de encher.
Enviar um comentário
<< Home