terça-feira, dezembro 16, 2008

RELATO DO 'DERBY' DE BAGDAD

"O iraquiano Muntadar al-Zeidi entrou em jogo. A modalidade era estranha. Como no basebol, onde há um tipo com viseira e grandes luvas, no botibol há também um americano escondido, só que num púlpito. O jogo consiste em atingir a cabeça do adversário com uma bota . O iraquiano era bom, visou bem. Mas o americano ainda era melhor e, num estupendo reflexo, desviou-se. Segundo bom ensaio e segundo ainda melhor desvio. O jogo bebe em tradições iraquianas e também americanas. Diz-se que não há desporto mais popular em Bagdad do que lançar uma bota ao adversário. Em 2003, no jogo povo-contra- -estátua, Sadam Hussein levou com muito calçado. Mas ainda mais popular é, em vez de bota, lançar bala. Por sua vez, a tradição americana revela-se no alvo. Este, se incólume ou quase, tem direito a dizer uma frase gira. Há uns anos, quando Reagan se safou só ferido numa partida hard de botibol (com bala), disse ao cirurgião: "Espero que você seja republicano…" Desta vez, o americano teve direito à sua frase: "Só posso dizer que era 43." Acertar no tamanho da bota é giro mas parece-me curto para um campeonato de oito anos."

Ferreira Fernandes

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