sexta-feira, janeiro 30, 2009

CONFIANÇA E COMPETÊNCIA

"Em Maio do ano passado, a multinacional de componentes informáticos Qimonda, orgulho tecnológico da nação, apresentou os seus novos projectos para Vila do Conde: uma unidade de células solares, com investimento de cem milhões e criação de 150 ou 200 empregos, além de previsões para mais três fábricas na região. O ministro da Economia e o primeiro-ministro compareceram à cerimónia, enfiados naqueles fatos de protecção usados nos surtos de ébola. O primeiro-ministro mostrou-se encantado e apressou as presuntivas fábricas: "O terreno está a pedi-las", disse, e riu-se muito. Depois acrescentou que o "investimento é uma prova de confiança em Portugal e na competência dos portugueses".

Em Dezembro do ano passado, a Qimonda ameaçou falir, não fora um empréstimo de 325 milhões, dos quais 100 milhões garantidos pela CGD e pelo Governo. O ministro da Economia explicou que o problema estava resolvido e, melhor ainda, com benefícios caseiros. O primeiro-ministro mostrou-se satisfeito por ter salvado a Qimonda e prometeu que o Governo salvaria as empresas que pudesse.

Agora, a sede da Qimonda entregou um pedido de falência num tribunal de Munique. Aparentemente, os cem milhões com que o eng. Sócrates a salvou nem chegaram a ser emprestados a uma empresa que, evidentemente, faleceu com estrondo. O ministro da Economia declarou que o Governo "fez tudo" para viabilizar a fábrica de Vila do Conde. O primeiro-ministro declarou que o Governo "fará tudo" para viabilizar a fábrica de Vila do Conde.

Se o exemplo da Qimonda lembra que, com crise ou sem ela, o mercado não sustenta empresas com prejuízos anuais de 500 milhões (dados de 2008), também demonstra que Portugal possui, clara e felizmente, um Governo socialista, imune a cépticos, fariseus e à própria realidade. Não importa que o dinheiro dos contribuintes termine esfrangalhado ou apenas prometido em empreitadas ruinosas. Importa fingir que só o investimento público nos separa de um mundo imprevisível, principalmente para as cabeças dos que fazem da acção regeneradora do Estado um princípio e, não tarda nada, um fim
."

Alberto Gonçalves

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