quinta-feira, janeiro 29, 2009

IRMÃOS DE SANGUE

"A retirada israelita de Gaza não significou exactamente um alívio para os indígenas. Agora, conforme os media contam com discrição ou não contam de todo, começou a fase da vingança, na qual o Hamas retoma uma tradição nativa e "persegue e golpeia com força" os "colaboracionistas" de Israel, para citar um porta-voz da amável organização. Outros relatos, com origem na Fatah, referem a tortura e a execução sumária de qualquer suspeito de "traição", cujo cadáver é lançado aos escombros da guerra.

Por mim, esperava que a "opinião pública" internacional, sempre tão atenta ao sofrimento dos palestinianos, se manifestasse contra o sofrimento desses particulares palestinianos. Mas não aconteceu nada. A ONU não condenou os actos. Os pacifistas do mundo inteiro não saíram à rua em protesto. Nenhum político responsável comparou os métodos do Hamas aos de Hitler. Valha a verdade, em Portugal verificou-se a mesma indiferença: nem o médico Fernando Nobre gritou indignado, nem o escritor José Saramago escreveu uma linha alusiva no seu blogue, nem o eurodeputado Miguel Portas regressou a Gaza a fim de testemunhar a nova etapa do genocídio.

Certamente estariam entretidos a aplaudir a proposta do Bloco de Esquerda para "geminar" Lisboa com Gaza, sob pretexto da "punição colectiva" a que os palestinianos foram sujeitos pelos ataques israelitas. A moção, aprovada em Assembleia Municipal, não tem uma palavra para a "punição colectiva" imposta aos palestinianos por aqueles que os plantaram na linha de fogo e que, não satisfeitos, desataram a liquidar alguns dos que sobraram a título purificador.

Nenhum espanto. De facto, as almas consumidas pela dor dos habitantes de Gaza têm por eles o interesse que eu dedico à columbofilia (evitemos dúvidas: nenhum). Vivos, não lhes valem de muito, e os mortos só servem se alimentarem a fúria anti-israelita, anti-sionista ou anti-semita em curso (evitemos dúvidas: é a mesma). Nisso, custa distinguir a autarquia lisboeta do Hamas. E se a comparação a uma seita criminosa não maçará o BE e o PCP, que votaram a "geminação", devia ser embaraçosa para os restantes e democráticos partidos que, em peso, se abstiveram de a rejeitar. Pelos vistos, não é. A capital está em óptimas mãos.
"

Alberto Gonçalves

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