terça-feira, janeiro 27, 2009

FRACTURAS EXPOSTAS

"Para evitar equívocos, esclareço que, em matéria de causas "fracturantes", sou sempre a favor. Por um lado, porque não costumo interferir nas vidas alheias. Por outro, porque prezo o sossego. De facto, não há paciência para o berreiro que cada tema do género suscita à chamada "sociedade civil", a qual, em período de polémicas assim, se assemelha a uma sociedade militar e perigosamente armada.

Em rígida observância à minha indiferença, naturalmente não votei no referendo ao aborto. Embora me aborreça um bocadinho que o dito se pratique à custa dos meus impostos, aceito que a barriga das senhoras seja propriedade delas e nunca me ocorreu intrometer-me em tal direito. Em suma, fiquei contentinho com a legalização da "interrupção voluntária da gravidez", sobretudo por ter confiado nos que juravam que tamanha proeza garantia a entrada de Portugal na modernidade e acreditado que, daí em diante, o pandemónio "fracturante" terminara.

Erro meu. Afinal, o aborto era só um passo, enorme para a Mulher, pequeno para a parcela da humanidade que se dedica às "fracturas". Ao contrário do prometido, o famoso "sim" não colocou o País no século XXI. Para isso, explicaram, era igualmente necessário o casamento entre pessoas do mesmo sexo, e o eng. Sócrates, que em Setembro último achava a ideia tonta, foi vítima de uma epifania e entendeu abrir o "debate", leia-se promover uma desmedida histeria colectiva até que uma consulta popular ratifique o enlace gay.

E depois? Depois, como aliás já se nota, haverá o "debate" acerca da adopção gay. Mais tarde virá a eutanásia. Em seguida, as drogas leves e pesadas, a clonagem de embriões, a amputação estética de membros e por aí fora, numa espiral de "fracturas" sem fim e paciência que as aguente.

Prometo votar afirmativamente em todas se conseguirem inventariá-las, juntá-las num pacote e num "debate" únicos e submetê-las à aprovação das massas daqui a, digamos, seis meses. Sei que, a prazo, a redentora medida acabaria com o gozo dos activistas do ramo, mais interessados em discutir direitos do que em vê-los consagrados. Mas esse não seria problema meu: pelo contrário, esse seria o meu alívio, argumento que julgo capaz de convencer a maioria da população a dizer "sim" ao que calhar, incluindo ao bestialismo e à liberdade de descer os Restauradores em pelota, também critérios fundamentais a uma nação moderna
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Alberto Gonçalves

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