UMA NOITE COM RONALDO
"A RTP1, "serviço público", realiza longo "directo" desde a Ópera de Zurique, mas para transmitir a gala da FIFA e a entrega do prémio de jogador do ano. A emissão prolonga-se até depois das 20h. O "telejornal" não irrompe à hora certa, a fim de não perturbar a consagração de Cristiano Ronaldo. A consagração acontece. Discurso de agradecimento e imagens de um punhado de golos do futebolista.
O Telejornal começa às 20.15 com a notícia da vitória de Ronaldo e ligação à casa da família no Funchal. De seguida, prossegue entre ligações a Zurique e ao Funchal, testemunhos de especialistas em Ronaldo e golos de Ronaldo. A terminar, uns minutos de actualidade nacional (a "vaga de frio"), internacional (o cão português de Obama) e cultural (golos de Ronaldo). Após o noticiário, entram os comentários semanais de António Vitorino, que acabam com Judite de Sousa a interrogá-lo acerca de Ronaldo e Vitorino a responder que não liga a futebol e que está muito contente com o sucesso de Ronaldo.
Por volta das 21.00, documentário sobre Ronaldo, que inclui, além de golos de Ronaldo, entrevistas a Ronaldo e a especialistas em Ronaldo, incluindo o sujeito descobriu Ronaldo em 1999 e o sujeito que descobriu Ronaldo em 1998. Tenta-se apurar o valor desportivo, comercial e sexual de Ronaldo. Fica razoavelmente apurado que Ronaldo é o maior.
Após pausa mal empregada em anúncios e num concurso, surge o Prós e Contras dedicado a debater Ronaldo, ou melhor, a debater qual dos convidados possui maior capacidade em exaltar Ronaldo. Participam treinadores de futebol, publicitários, um ex-secretário de Estado do Desporto, um secretário de Estado do Desporto, o sujeito que descobriu Ronaldo em 1997, o sujeito que o treinou dez minutos depois e o sujeito que lhe deu boleia da descoberta ao treino. Após trinta minutos em que o contributo de Ronaldo para o país ameaça ultrapassar o de Buda para o budismo, e sobretudo em que as referências ao corpo de Ronaldo se abeiram da excitação erótica, desligo o televisor.
Imagino que, perto das duas da madrugada, o primeiro-ministro tenha comunicado à nação os sentimentos que o talento de Ronaldo lhe inspira, e que às duas e quarenta o presidente da República tenha subscrito tais sentimentos (com excepção de um ponto, que vetou, e de outro, que enviou à apreciação do Tribunal Constitucional)."
Alberto Gonçalves
O Telejornal começa às 20.15 com a notícia da vitória de Ronaldo e ligação à casa da família no Funchal. De seguida, prossegue entre ligações a Zurique e ao Funchal, testemunhos de especialistas em Ronaldo e golos de Ronaldo. A terminar, uns minutos de actualidade nacional (a "vaga de frio"), internacional (o cão português de Obama) e cultural (golos de Ronaldo). Após o noticiário, entram os comentários semanais de António Vitorino, que acabam com Judite de Sousa a interrogá-lo acerca de Ronaldo e Vitorino a responder que não liga a futebol e que está muito contente com o sucesso de Ronaldo.
Por volta das 21.00, documentário sobre Ronaldo, que inclui, além de golos de Ronaldo, entrevistas a Ronaldo e a especialistas em Ronaldo, incluindo o sujeito descobriu Ronaldo em 1999 e o sujeito que descobriu Ronaldo em 1998. Tenta-se apurar o valor desportivo, comercial e sexual de Ronaldo. Fica razoavelmente apurado que Ronaldo é o maior.
Após pausa mal empregada em anúncios e num concurso, surge o Prós e Contras dedicado a debater Ronaldo, ou melhor, a debater qual dos convidados possui maior capacidade em exaltar Ronaldo. Participam treinadores de futebol, publicitários, um ex-secretário de Estado do Desporto, um secretário de Estado do Desporto, o sujeito que descobriu Ronaldo em 1997, o sujeito que o treinou dez minutos depois e o sujeito que lhe deu boleia da descoberta ao treino. Após trinta minutos em que o contributo de Ronaldo para o país ameaça ultrapassar o de Buda para o budismo, e sobretudo em que as referências ao corpo de Ronaldo se abeiram da excitação erótica, desligo o televisor.
Imagino que, perto das duas da madrugada, o primeiro-ministro tenha comunicado à nação os sentimentos que o talento de Ronaldo lhe inspira, e que às duas e quarenta o presidente da República tenha subscrito tais sentimentos (com excepção de um ponto, que vetou, e de outro, que enviou à apreciação do Tribunal Constitucional)."
Alberto Gonçalves
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