“Buena Vista Social Club”

"Afinal o espectro que assombrava a Europa resolveu instalar-se em Portugal. O espectro de então era o comunismo, o espectro de hoje é um comunismo pós-moderno com marketing agressivo e rotação digital.

A grande agitação política alojou-se como um vírus na Esquerda nacional. O Bloco anuncia uma "Esquerda Grande" que só pode ser socialista e anticapitalista. O partido-movimento parece cansado do protesto e olha ávido para o os dias do poder. Obviamente que o Bloco é o poder para acabar com todo o poder. No projecto do Bloco não há tolerância nem pluralismo, basta analisar o discurso quase racista com que se refere à banca e aos indivíduos que mantêm a economia de mercado. Se existe discriminação, o Bloco pratica a discriminação de classe como nenhuma força política em Portugal.

Na típica lógica do Bloco, a nova ordem política faz-se na confluência de todos os explorados e deserdados da História. Uma abstracção conveniente que eleva o povo a uma categoria moral e coloca o Bloco na vanguarda da luta política. Na aparente modernidade, o recurso é um clássico da luta revolucionária.

O cinisno de toda a encenação reside na grande competição pelo poder e pela hegemonia na Esquerda. O alvo do Bloco é o PS e a falsa mensagem da Esquerda moderna. Entretanto, o primeiro-ministro passeia pelo país "A Força da Mudança". Em relação ao novo estilo de Sócrates, um único comentário - quanto mais profundo pretende ser, mais superficial parece a sua proposta política. E por falar em política, a moção resulta certamente de um lapso freudiano ou de um erro de impressão, tanto mais que a acção política do Governo se tem pautado essencialmente pela mudança à força. Os resultados estão bem à vista dos portugueses.

Toda esta competição à Esquerda provoca a paralisia do Governo. Um Governo em campanha eleitoral, um primeiro-ministro no papel de Secretário-Geral e um país refém dos equilíbrios e das vaidades de uma epidemia na Esquerda.

Observando com rigor, Portugal não é uma verdadeira democracia pluralista. Quanto muito, os portugueses têm direito a uma democracia pluralista de Esquerda. Esta anomalia, porque de uma anomalia se trata, poderá ter uma justificação no misto de incompetência e arrogância que infectou a Direita portuguesa e que degenerou numa inegável cobardia política.

Entretanto, Marx é o herói do momento e Che Guevara o ícone das ‘t-shirts', enquanto a música cubana anima de norte a sul o grande país das Esquerdas."

Carlos Marques de Almeida