Música, maestro!
"Não, não se trata da ópera do Centro Cultural de Belém em que a assistência decidiu vaiar o senhor presidente do Conselho e a sua namorada por terem chegado meia hora atrasados. A ópera é outra e o assunto bem mais sério. Mas neste caso, infelizmente, não há uma monumental vaia para quem anda literalmente a faltar ao respeito aos indígenas sem qualquer vergonha na cara.
A ópera da corrupção tem imensos autores, uma multidão de solistas e milhões de figurantes. O espectáculo anda de terra em terra, é de borla e tem sempre, como se calcula, lotação esgotada. Não há bicho careta que não condene a corrupção e jure combatê-la com todos os meios ao seu alcance. Não há político que não jure a pés juntos que é sério de pai e mãe. Não há magistrado que não declare que a corrupção anda por aí e que a Justiça deve combatê-la com unhas e dentes. Todos de acordo, portanto.
O pior é o resto. E o resto é uma história de um sítio pobre, deprimido, manhoso, hipócrita, perigoso e cada vez mais mal frequentado que assiste espantado e sentado a uma ópera cada vez mais bufa, em que tudo se faz para evitar que o combate à corrupção seja eficaz e os corruptos sejam julgados e condenados. O poder político, responsável pela legislação penal, nomeadamente o PS e o PSD, nem quer ouvir falar do crime de enriquecimento ilícito, em que o ónus da prova ficaria a cargo do cidadão suspeito e não das autoridades. Isto é , qualquer indígena que ficasse milionário ao fim de uns anos de carreira política ou na administração pública teria de explicar muito bem a origem da sua fortuna.
O Bloco Central de interesses, que domina por completo o sítio, agarra-se à Constituição e aos direitos individuais para recusar uma medida essencial no combate à corrupção. E nesta enorme campanha a favor da corrupção ainda tem o apoio de uma parte da magistratura que há muito se vendeu aos interesses do poder dominante e usa os seus cargos para abafar em última instância os casos em que os diversos filtros penais foram insuficientes para evitar que as investigações chegassem a bom porto. E quando mesmo assim as coisas falham, já se recorre à ameaça para calar magistrados que pretendem de forma séria e isenta cumprir a sua missão.
Bem podem, por isso, andar por aí a debitar banalidades sobre a democracia, o Estado de Direito e a Justiça. Os patrões do sítio podem não ser corruptos. Mas não se livram de serem cúmplices conscientes de todos os corruptos."
António Ribeiro Ferreira
A ópera da corrupção tem imensos autores, uma multidão de solistas e milhões de figurantes. O espectáculo anda de terra em terra, é de borla e tem sempre, como se calcula, lotação esgotada. Não há bicho careta que não condene a corrupção e jure combatê-la com todos os meios ao seu alcance. Não há político que não jure a pés juntos que é sério de pai e mãe. Não há magistrado que não declare que a corrupção anda por aí e que a Justiça deve combatê-la com unhas e dentes. Todos de acordo, portanto.
O pior é o resto. E o resto é uma história de um sítio pobre, deprimido, manhoso, hipócrita, perigoso e cada vez mais mal frequentado que assiste espantado e sentado a uma ópera cada vez mais bufa, em que tudo se faz para evitar que o combate à corrupção seja eficaz e os corruptos sejam julgados e condenados. O poder político, responsável pela legislação penal, nomeadamente o PS e o PSD, nem quer ouvir falar do crime de enriquecimento ilícito, em que o ónus da prova ficaria a cargo do cidadão suspeito e não das autoridades. Isto é , qualquer indígena que ficasse milionário ao fim de uns anos de carreira política ou na administração pública teria de explicar muito bem a origem da sua fortuna.
O Bloco Central de interesses, que domina por completo o sítio, agarra-se à Constituição e aos direitos individuais para recusar uma medida essencial no combate à corrupção. E nesta enorme campanha a favor da corrupção ainda tem o apoio de uma parte da magistratura que há muito se vendeu aos interesses do poder dominante e usa os seus cargos para abafar em última instância os casos em que os diversos filtros penais foram insuficientes para evitar que as investigações chegassem a bom porto. E quando mesmo assim as coisas falham, já se recorre à ameaça para calar magistrados que pretendem de forma séria e isenta cumprir a sua missão.
Bem podem, por isso, andar por aí a debitar banalidades sobre a democracia, o Estado de Direito e a Justiça. Os patrões do sítio podem não ser corruptos. Mas não se livram de serem cúmplices conscientes de todos os corruptos."
António Ribeiro Ferreira
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