domingo, março 29, 2009

Segredos do Fed, reservas de ouro e feudalismo financeiro

A questão de quanto ouro está guardado nos cofres de Fort Knox, e a quem pertence, alimenta polémicas em meios políticos e financeiros dos Estados Unidos, desde há muitos anos, mas sem repercussão assinalável nos chamados media de referência.
Hoje, a uma semana da cimeira do G20 sobre o futuro do sistema financeiro global, o diário londrino Times resolveu dar à estampa um artigo, sob o título “Haverá algum ouro guardado em Fort Knox, o cofre mais seguro do mundo?”.
Mais vale tarde, do que nunca, mesmo que o articulista não vá tão fundo quanto o assunto merece e a severidade da presente crise do modelo financeiro mundial aconselha.
Por outro lado, também seria interessante saber por que razão um dos jornais mais emblemáticos do conglomerado mediático do globalista Rupert Murdoch resolveu agora dar cobertura aos paladinos das teses monetárias que, imperialmente, durante anos, censurou, substimou e desacreditou.
O que o Times diz
No artigo, é dada nova expressão a velhas dúvidas dos críticos norte-americanos sobre as desvantagens do abandono do padrão-ouro e a sustentabilidade do actual sistema monetário do país. Ele assenta em papel-moeda cuja garantia de reembolso, em termos de contra-valor, é apenas outro papel - dólar - e a palavra do governo de Washington.
Neste quesito, a ombridade da Presidência dos Estados Unidos ficou seriamente danificada quando, em 1971, Richard Nixon anunciou ao mundo que “temporariamente”, o país iria suspender os pagamentos em ouro aos detentores de dólares.
A medida, que rapidamente passou a definitiva, liquidou o acordo de 1944, selado em Bretton Woods pelas 44 nações aliadas contra a Alemanha e o Japão. Foi ele que serviu de base à criação do actual sistema monetário internacional.
Com aquela decisão, unilateralmente, banqueiros e políticos norte-americanos impediram que outros países preocupados com o endividamento público estadunidense seguissem o exemplo da França e da Suíça e exigissem que as suas reservas em dólares também fossem reembolsadas em ouro, ao preço pré-acordado de 35 dólares a onça.
O artigo do Times explicita mais razões para os antigos e actuais temores:
“Proeminentes investidores e pelo menos um congressista estadunidense” estão preocupados sobre a quantidade e a titularidade dos depósitos de ouro guardados na caixa-forte do Kentucky;
A preocupação assenta na circunstância de as autoridades nunca terem permitido uma auditoria independente para averiguar se as barras lá acumuladas, conforme diz o Tesouro, valem realmente 137 mil milhões/bilhões (mm/bi) de dólares;
Os receios aumentaram após o colapso e a nacionalização de várias instituições financeiras do país.
Será que o ouro foi usado para financiar a orgia especulativa de Wall Street? Será que ele “ainda é propriedade exclusiva” dos EUA?
Na boca de Ron Paul - congressista republicano do Texas que integra a corrente “libertária” do Partido Republicano, afecta à escola do pensamento económico austríaco - é colocada uma frase que repete desde os anos 70: “Já passaram muitas décadas desde que o ouro de Forte Knox foi devida e independentemente auditado e contabilizado. (…) O povo americano tem o direito a saber a verdade”;
Paul, com uma vintena de co-signatários, lançou uma petição naquele sentido;
Por seu turno, a organização GATA - Gold Anti-Trust Action - resolveu contratar um escritório de advogados para, em Abril, exigir ao presidente Obama que cumpra a promessa de “uma abertura sem precedentes” e termine com o secretismo sobre a propriedade do ouro americano e as operações de compra e venda do metal precioso, realizadas desde 1971;
Investidores e especuladores especialistas no metal amerelo, repetidamente, têm acusado o governo e as autoridades monetárias de inundarem o mercado com ouro de Fort Knox para manterem artificialmente alta a cotação do dólar e baixo o preço da commodity, alegadamente através de swaps com outros bancos centrais;
O Times confirma que nenhum auditor independente tem acesso aos cofres onde está depositado o ouro dos Estados Unidos, “embora supervisem o processo”;
Segundo o diário londrino, a correspondente americana da nossa Casa da Moeda - US Mint - garante no seu site que os 147,3 milhões de onças em Fort Knox “são guardados como um activo dos EUA”, sem fornecer mais pormenores;
A crise financeira global, o pró-activismo russo e chinês favorável ao fim do dólar como reserva monetária mundial e as práticas do Fed de fabricar dinheiro a partir do nada, integram o explosivo cocktail que será servido ao delegados presentes na reunião do G20, na próxima semana, em Londres.
O que o Times não diz
O banco central dos Estados Unidos - Reserva Federal (Fed) - é uma entidade privada cujos capitais são controlados pelos bancos que comandam o opaco mundo da alta finança global, a partir de Wall Street e da City de Londres;
Cinco presidentes americanos ou foram assassinados ou sofreram atentados por se terem oposto ao modelo de um banco central dominado por bancos privados;
O controlo accionista do Fed é um dos segredos mais bem guardados do país;
O Sistema da Reserva Federal, na prática, é um cartel de bancos privados a quem os políticos do país deram, em 1913, o monopólio exclusivo da criação de moeda e, por via disso, da gestão dos fluxos monetários;
Em troca desta e de outras benesses, a classe política norte-americana recebeu a promessa dos banqueiros de terem acesso permanente aos recursos monetários necessários para alimentar a máquina do Estado e satisfazer os ímpetos despesistas dos partidos no poder;
Para além da cobrança de juros, os banqueiros viram aprovada a lei que criou o Imposto sobre o Rendimento e, desde então, os cheques dos contribuintes americanos são endossados ao Fed e não à Fazenda Nacional (Tesouro);
Desde a sua fundação, nenhum cargo executivo do Fed - incluindo os que formalmente são propostos pelo Presidente dos EUA - foi ocupado por alguém sem o beneplácito das dinastias financeiras Rothschild, Morgan e Rockefeller;
O Sistema da Reserva Federal, criado para “dar estabilidade” à moeda e à economia gerou duas grandes depressões (1929 e 2007) e várias recessões severas;
Entre 1913 e 2008, o valor do dólar registou uma desvalorização de 98%;
O sistema é gerador de um imposto invisível - inflação - que deliberadamente é apresentado como resultante da subida dos preços quando, na realidade, é provocado pela depreciação da moeda;
O dinheiro é criado a partir da dívida gerada pelo governo junto do banco central e não da riqueza produzida na economia real pelas empresas e pelos particulares;
Por cada milhão de dólares de crédito concedido pelo banco central ao governo nove milhões são concedidos aos outros agentes económicos e apenas um milhão é mantido como reserva;
O sistema é uma infinita espiral de dívida - pública e privada.
Estas são, entre outras, as razões pelas quais estamos a assistir, em câmara lenta, ao colapso do sistema financeiro global.
O sistema é uma pirâmide, tipo Dona Branca ou Madoff, mas inventada e gerida por banqueiros com o alto patrocínio dos políticos e dos governos.
A filosofia que lhe está subjacente é o feudalismo financeiro. Nele, velhos senhores exploram novos servos - os que contraíram empréstimos para comprar casa, carro, electrodomésticos - e não sabem viver sem dinheiro de plástico - bem como os empresários que querem financiar os seus negócios.
As cenas dos próximos capítulos são “dejá vu”.
Porém, no século XXI, sem “classe média”.
Ao presidente mulato foi reservado o papel de comunicar às massas que “os tempos são difíceis” e vamos ter de “fazer alguns sacrifícios”…
MRA Dep. Data Mining
Pedro Varanda de Castro, Consultor
Penso que é importante ler o artigo para perceber como funciona um sistema que tem dois pesos e duas medidas.
Um Estado que tivesse um défice como os Estados Unidos seria considerado uma Islândia pelo FMI.
Mas como toda a gente sabe o FMI é controlado por banqueiros americanos.
O Fed é um banco que se chama central mas é controlado pelas dinastias financeiras referidas.
O governo federal não capacidade para controlar este organismo.
Assim, o mundo está nas mãos de uma oligarquia financeira que controla só o país mais poderoso do mundo, embora o mais endividado.
Portanto esta oligarquia pode fabricar dinheiro a partir do nada e dizer que esse dinheiro é, e deve ser a única referência financeira, depois de não pagar em ouro os dólares quando tal lhe foi pedido, e rompendo um acordo exigido pelo próprio governo americano.
Portanto vejam o que está em jogo e não há segredos...
Apenas saber se há ouro que justifique a emissão de moeda ou moeda com valor fiduciário.
De facto há dois pesos e duas medidas o resto são história para adormecer meninos...

1 Comments:

Blogger Unknown said...

Bastante lúcida a sua colocação, vem corroborar com pensamentos que guardo há anos.

domingo, setembro 06, 2009  

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