terça-feira, abril 07, 2009

O capital

"O clamor anti-capital que se fez ouvir em Londres e teve réplicas em Estrasburgo não deixará de ecoar nos tempos mais próximos. O fenómeno não é original.

Há muito que as manifestações de hordas de jovens contra a globalização, o liberalismo económico, o capitalismo, numa mescla indefinida de anarquistas, ecologistas, tradicionalistas, competem com o calendário das grandes cimeiras internacionais. Frontarias de bancos estilhaçadas ou ‘lobbies' de hotéis em chamas não são uma singularidade.

O que há de novo neste bramido anti-sistema é uma aparente maior empatia entre quem se manifesta na rua e quem vê, ouve ou lê estas notícias em casa. A crise do sistema financeiro parece estar a criar uma nova aliança de "vítimas do capitalismo". O descontentamento conglomera agora aforradores desapontados, investidores desiludidos, empregados mal pagos, desempregados sem esperança, empresários receosos, gestores envergonhados. Neste panorama, a crença de que a origem dos males do mundo estará no "sistema capitalista" parece, qual vírus, difundir-se.

O logro não consiste, claro está, no direito à indignação contra a ganância desmedida, o não cumprimento de regras ou o sem-número de injustiças colaterais. A falácia está em pensar-se que bastaria pôr os mais ricos na ordem para terminar com a miséria no mundo e que para isso nada melhor do que acabar com o capitalismo. Sério engano. Monsieur de La Palisse diria que a miséria humana reside no facto de existirem pobres e não no de existirem ricos. Mas o erro em que se corre o risco de elaborar não fica por aqui. Nas sociedades pré-capitalistas e naquelas em que ainda hoje (como por exemplo em vastas regiões de África) o capitalismo pouco se desenvolveu a miséria grassa entre a imensa maioria e a riqueza, privilégio de muito poucos, só se adquire pela guerra ou por herança. Aliás, uma das qualidades do capitalismo moderno é o de tornar a acumulação de capital e a sua distribuição possível não apenas entre os que nasceram ricos, permitindo a circulação social e o crescimento da "classe-média". As alternativas sugeridas nos últimos três séculos e que professaram outras formas de distribuição da riqueza não escaparam ao árduo teste da realidade. Parafraseando o que disse Churchill a propósito da democracia, o capitalismo é o pior de todos os sistemas à excepção de todos os outros.

Quer isto significar que o sistema financeiro internacional, o mundo das grandes empresas, os governos, a nossa sociedade, nada têm a aprender e a alterar da crise que se vive? É evidente que não. Significa apenas que as soluções a encontrar, as novas ideias com futuro, não virão de "novos Robespierres" sedentos de guilhotina. Mas, sim, da capacidade criativa, da dinâmica da inovação, que, brilhantemente e apesar das dúvidas quanto ao seu futuro, J. A. Schumpeter definiu como a grande qualidade do capitalismo.
"

Nuno Sampaio

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Os Neo-Liberais vão sempre negar uma falha do modelo justificando isso com alternativas piores. É a teimosia Liberal. O que está em causa é a ganância generalizada que nas democracias permitiu elevar um pouco o nível de vida dos submetidos. A diferença para as economias feudais ou totalitárias é que o saque e a ganância deixaram de ser exclusivos de um pequeno grupo para serem democratizadas. Todos têm direito a roubar e a explorar.

quarta-feira, abril 08, 2009  

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