Dez receitas infalíveis para o fracasso
"Em tempo de ..., enfim, o estimado leitor sabe do que estou a falar, o tema menos apelativo que se pode imaginar é o do fracasso. Todavia, é no tempo de ..., bom, que a humildade para se abordar estes temas é provavelmente mais alta. Como tal, peço permissão para usar uma página do Negócios para falar de um livro recente (maneirinho, 180 páginas) escrito por Donald Keough, antigo presidente da Coca-Cola Company sobre as receitas seguras para o fracasso. O livro resulta de uma solicitação ao autor: que dissertasse sobre os segredos do sucesso. Depois de muito pensar sobre o tema, Keough decidiu que não conhecia receitas que garantissem o sucesso. Em contrapartida, identificou dez caminhos/mandamentos seguros para o fracasso. Ei-los, com um breve comentário, inspirado no livro mas nem sempre dele retirado, para abrir o apetite e encaminhar o leitor para o volume propriamente dito.
Mandamento 1: Deixe de arriscar. Considere que a sua maneira de fazer as coisas é a única que funciona. Em particular, se tem dado resultados. Esqueça que o mundo lá fora muda constantemente.
Mandamento 2: Seja inflexível. Ou, se preferir, mostre que é uma pessoa com valores claros e convicções fortes. Não aceite novos factos com facilidade. Não se considere teimoso. "Persistente" é o termo certo.
Mandamento 3: Isole-se. Não se misture, se tal for necessário, para proteger a sua visão das coisas. No limite, peça para o almoço lhe ser servido no gabinete.
Mandamento 4: Assuma que é infalível. Particularmente se as coisas lhe correram bem no passado. Não escute os outros. Favoreça a informação filtrada pelos canais formais.
Mandamento 5: Jogue perto da "linha de fundo". Não perca tempo com a transmissão de bons exemplos e a identificação dos valores éticos da organização. "Ética nos negócios" é um oxímoro. Deixe essa conversa para os académicos que não conhecem as agruras do mundo real.
Mandamento 6: Não perca tempo a pensar. Faça coisas. Faça muitas coisas. Confunda "business" e "busyness". Não seja curioso. Não aprofunde os factos, particularmente os negativos.
Mandamento 7: Confie cegamente em peritos externos. Delegue a responsabilidade pelas decisões importantes em peritos externos. Se as coisas correrem mal, terá um bom guarda-chuva. E nessa altura pode sempre recorrer a outros peritos externos.
Mandamento 8: Ame a sua burocracia. Regue a burocracia da sua organização. Peça papéis. Não aceite memorandos com menos de 15 páginas. Institua a comunicação formal. Guarde provas de todas as interacções. Defenda-se com uma muralha de papelada.
Mandamento 9: Envie mensagens ambivalentes. Não seja claro. Dê uma no cravo e outra na ferradura. Por exemplo, diga que quer promover a justiça fiscal e a boa relação com o contribuinte. Ao mesmo tempo, promova prémios por objectivos de cobrança: quanto maior a cobrança coerciva, maior o prémio de produtividade. Vai agradar a gregos e a troianos.
Mandamento 10: Tenha medo do futuro. Não se esqueça que no longo prazo estaremos todos mortos. Por isso, acautele-se. Não arrisque (vide mandamento 1). Não dê passos em falso. Proteja-se.
As alternativas aos dez mandamentos para o fracasso são relativamente óbvias, o que não significa que sejam fáceis: arrisque com moderação (mandamento 1); aceite que o mundo é composto de mudança e não de estabilidade (mandamento 2); estimule a comunicação a todos os níveis (mandamento 3); cultive a humildade como valor da organização e dos seus gestores de topo (mandamento 4); distinga o certo e o errado em actos e palavras (mandamento 5); não confunda agitação com acção acertada (mandamento 6); assuma as suas responsabilidades (mandamento 7); desmantele a burocracia pedindo acções no lugar de papéis (mandamento 8); comunique com clareza (mandamento 9); apaixone a organização por uma visão do futuro e tenha medo do medo (mandamento 10). E, para terminar, uma das muitas imagens fortes do livro: se vai comprar uma vaca preste atenção ao animal, não aos elogios que o vendedor da vaca lhe vai dirigindo enquanto o tenta convencer.
A fonte:
D.R. Keough (2008). "The ten commandments for business failure". New York: Penguin. "
Miguel Pina e Cunha
Mandamento 1: Deixe de arriscar. Considere que a sua maneira de fazer as coisas é a única que funciona. Em particular, se tem dado resultados. Esqueça que o mundo lá fora muda constantemente.
Mandamento 2: Seja inflexível. Ou, se preferir, mostre que é uma pessoa com valores claros e convicções fortes. Não aceite novos factos com facilidade. Não se considere teimoso. "Persistente" é o termo certo.
Mandamento 3: Isole-se. Não se misture, se tal for necessário, para proteger a sua visão das coisas. No limite, peça para o almoço lhe ser servido no gabinete.
Mandamento 4: Assuma que é infalível. Particularmente se as coisas lhe correram bem no passado. Não escute os outros. Favoreça a informação filtrada pelos canais formais.
Mandamento 5: Jogue perto da "linha de fundo". Não perca tempo com a transmissão de bons exemplos e a identificação dos valores éticos da organização. "Ética nos negócios" é um oxímoro. Deixe essa conversa para os académicos que não conhecem as agruras do mundo real.
Mandamento 6: Não perca tempo a pensar. Faça coisas. Faça muitas coisas. Confunda "business" e "busyness". Não seja curioso. Não aprofunde os factos, particularmente os negativos.
Mandamento 7: Confie cegamente em peritos externos. Delegue a responsabilidade pelas decisões importantes em peritos externos. Se as coisas correrem mal, terá um bom guarda-chuva. E nessa altura pode sempre recorrer a outros peritos externos.
Mandamento 8: Ame a sua burocracia. Regue a burocracia da sua organização. Peça papéis. Não aceite memorandos com menos de 15 páginas. Institua a comunicação formal. Guarde provas de todas as interacções. Defenda-se com uma muralha de papelada.
Mandamento 9: Envie mensagens ambivalentes. Não seja claro. Dê uma no cravo e outra na ferradura. Por exemplo, diga que quer promover a justiça fiscal e a boa relação com o contribuinte. Ao mesmo tempo, promova prémios por objectivos de cobrança: quanto maior a cobrança coerciva, maior o prémio de produtividade. Vai agradar a gregos e a troianos.
Mandamento 10: Tenha medo do futuro. Não se esqueça que no longo prazo estaremos todos mortos. Por isso, acautele-se. Não arrisque (vide mandamento 1). Não dê passos em falso. Proteja-se.
As alternativas aos dez mandamentos para o fracasso são relativamente óbvias, o que não significa que sejam fáceis: arrisque com moderação (mandamento 1); aceite que o mundo é composto de mudança e não de estabilidade (mandamento 2); estimule a comunicação a todos os níveis (mandamento 3); cultive a humildade como valor da organização e dos seus gestores de topo (mandamento 4); distinga o certo e o errado em actos e palavras (mandamento 5); não confunda agitação com acção acertada (mandamento 6); assuma as suas responsabilidades (mandamento 7); desmantele a burocracia pedindo acções no lugar de papéis (mandamento 8); comunique com clareza (mandamento 9); apaixone a organização por uma visão do futuro e tenha medo do medo (mandamento 10). E, para terminar, uma das muitas imagens fortes do livro: se vai comprar uma vaca preste atenção ao animal, não aos elogios que o vendedor da vaca lhe vai dirigindo enquanto o tenta convencer.
A fonte:
D.R. Keough (2008). "The ten commandments for business failure". New York: Penguin. "
Miguel Pina e Cunha
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