Os défices policiais

"Pelo menos no pequenino mundo da opinião publicada, os chamados excessos policiais provocam sempre mais barulho que o seu inverso. A tese é a de que, sendo uma emanação do Estado, a polícia está sujeita a deveres que os marginais não são obrigados a partilhar. Sobre isso não restam dúvidas. Veja-se o caso dos dois agentes recentemente agredidos na Amadora. Os respectivos agressores, que acabaram detidos e condenados em tribunal ao pagamento de uma indemnização, saíram em paz e sem desembolsar um cêntimo mediante a apresentação de um "atestado de pobreza". Aos agentes, que pelos vistos vivem na abundância, cabe-lhes pagar as custas judiciais de um processo que lhes deu razão.

É escusado revolver o passado a tentar perceber que tipo de justiça castiga sovas a polícias com uma singela multa, ou que tipo de sociedade transforma as condições económicas de um indivíduo num certificado de impunidade. Mas talvez valha a pena olhar o futuro e imaginar o tipo de criaturas que, por este andar, tentarão uma carreira em qualquer força da autoridade, cada vez mais uma força de expressão."

Alberto Gonçalves