domingo, agosto 02, 2009

Por um pratinho de lentilhas

"Como seria de prever, o programa do Partido Socialista não é mais que a versão revista e aumentada do que foi a governação dos últimos quatro anos. É também, e sobretudo, o espelho do que tem sido o paradigma da condução política do país de há muito tempo a esta parte: mais e mais Estado.

O Estado vai ajudar as empresas, o Estado vai apostar nas energias alternativas, o Estado vai interferir na educação, o Estado vai fazer mais hospitais, o Estado vai dar empregos, o Estado vai promover a igualdade e tudo o mais que houver para fazer. O omnipresente, omnisciente e bondoso Estado vai fazer com que sejamos todos mais felizes, quer queiramos ou não.

Parece que ninguém está lembrado de que este tem sido o modelo de sempre e que tem dado os resultados que estão à vista de todos: um país pouco desenvolvido, inculto, abúlico, dependente, pouco livre, pobre, sem perspectivas e sem confiança nos seus cidadãos.

Mas deste programa, que tem como objectivo pôr o Estado a apanhar migalhas para distribuir migalhinhas, sobressai uma medida que é verdadeiramente exemplar duma visão paternalista e de desconfiança nos portugueses: os 200 euros que vão ser dados a cada português que nasça.

Esta esmola que, segundo os socialistas, visa apoiar o futuro dos mais jovens - não cometo a desonestidade de lhe chamar medida de apoio à natalidade porque de facto não o é e ninguém, em abono da verdade, no Partido Socialista lhe chamou isso - define, de forma transparente, uma certa visão da comunidade e dos valores que norteiam o relacionamento entre o Estado e as pessoas.

O Estado dá 200 euros ao recém-nascido, põe o dinheiro numa conta e diz aos pais: "O dinheiro está aqui mas vocês não lhe podem tocar." Ou seja, diz-se às famílias que não acreditam na capacidade de serem elas a providenciar um futuro para os filhos. O Estado, esse sim, sabe como se gerem poupanças, se o dinheiro deve estar no banco X ou Y. Ao pai ou à mãe é retirado o direito de comprar fraldas ou outra coisa qualquer com aquela fortuna.

Esta fórmula demonstra um desprezo absoluto pelo direito fundamental de cada pai educar e formar os seus próprios filhos. Em parte, o Partido Socialista pretende comprar um valor inalienável por 200 euros.

Só num país miserável e convencido da magnificência estatal esta proposta não revolta a população.

Não estão em causa os 200 euros nem as possíveis boas intenções. Fossem 200 mil e a questão seria a mesma: valores básicos e fundadores da nossa civilização.

E não vale a pena falar de medidas parecidas com esta, em vigor na Espanha e em Inglaterra, por exemplo. Não será por estes estarem dispostos a transferir os poderes de saber o que é melhor para os seus filhos para o Estado que nós devemos fazer o mesmo.

O Estado quer dar-nos um bocadinho do muito que nos tira? Muito bem. Mas, pelo menos, não nos diga se o devemos gastar em biberões ou rebuçados.

Será que já não chega obrigar-nos a não poder decidir a saúde ou a educação que queremos para os nossos filhos? Será que já não chega não podermos decidir quem deve ou não trabalhar nas nossas empresas? Será que não chega termos de pagar por serviços que, de facto, não nos são prestados? Será que não chega ser o Estado a decidir se uma empresa pode ser comprada ou vendida?

E, no entretanto, o Partido Social-Democrata, que devia estar a lutar por mudar este estado de coisas vai, pela voz da sua líder, dizendo que o Estado deve continuar a participar em grandes empresas e a deter golden shares, a afirmar que a carga fiscal não pode ser diminuída, a falar de iates e a dizer que o Estado deve moderar os seus gastos sem dizer onde.

De facto não é preciso programa. Basta copiar o do Partido Socialista.

Pelos vistos , este país continua a prestar tributo a Lenine quando este dizia que a liberdade é uma coisa tão preciosa que deve ser racionada
. "

Pedro Marques Lopes

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