O preço da cidadania
"Ignoro até que ponto a reportagem da revista Sábado sobre a compra de filiados nas secções do PSD/Lisboa controladas pelo sr. António Preto será um mau augúrio para Manuela Ferreira Leite. Não ignoro que é um péssimo diagnóstico do estado da nossa democracia. Aparentemente, não faltam criaturas que vendem a militância a troco de 25 ou 30 euros e uma vaguíssima promessa de emprego. O Código Penal eleva o exercício a crime (dos aliciadores) e castiga-o com um ano de prisão. Apoio e subscrevo, embora não pelos motivos que influenciaram o legislador.
Francamente, não se admite seduzir pessoas com tão pouco. É indecente da parte de quem suborna e da parte de quem é subornado. Vinte e cinco euros e um emprego imaginário pagam, à justa, a viagem de autocarro, a sanduíche de queijo e a laranjada, afinal o custo dos infelizes que, à esquerda e à direita, se vêem por exemplo arregimentados para encher comícios e arruadas.
O problema não é exclusivo do PSD ou de Lisboa: o baixo preço político dos eleitores é um problema nacional e de cidadania, e não é toa que todos os partidos se tenham calado a propósito do sr. Preto (excepto o dr. Louçã, que não há maneira de se calar). Mas se há por aí tantos movimentos e "plataformas reivindicativas" (desculpem o termo), já era tempo de se criar um movimento (ou uma plataforma) que reivindicasse o pagamento justo pela cedência do cidadão aos interesses partidários. Não se deve continuar a tolerar que os partidos saqueiem fortunas aos contribuintes e devolvam apenas uma mísera fracção sob a forma de brindes humilhantes.
O esforço de uns escassos políticos para reverter esta vergonha, incluindo em sufrágios externos aos partidos, viu-se alvo de galhofa geral. E no entanto os frigoríficos de Valentim Loureiro e os Magalhães de José Sócrates possuíam uma utilidade e conferiam aos destinatários uma dignidade que 25 euros obviamente não possuem nem conferem. Em vez de se denunciar a compra do voto, é urgente inflacioná-lo, forçando assim os políticos a subir a parada para ecrãs LCD (alta definição), computadores a sério e, mal se saia da crise, automóveis de gama média. O eleitor vê insuflada a sua auto-estima, ganha qualquer coisa que se veja e, ainda por cima, mantém-se livre de votar em que quem lhe der na cabeça, que não é necessariamente quem lhe deu a prenda."
Alberto Gonçalves
Francamente, não se admite seduzir pessoas com tão pouco. É indecente da parte de quem suborna e da parte de quem é subornado. Vinte e cinco euros e um emprego imaginário pagam, à justa, a viagem de autocarro, a sanduíche de queijo e a laranjada, afinal o custo dos infelizes que, à esquerda e à direita, se vêem por exemplo arregimentados para encher comícios e arruadas.
O problema não é exclusivo do PSD ou de Lisboa: o baixo preço político dos eleitores é um problema nacional e de cidadania, e não é toa que todos os partidos se tenham calado a propósito do sr. Preto (excepto o dr. Louçã, que não há maneira de se calar). Mas se há por aí tantos movimentos e "plataformas reivindicativas" (desculpem o termo), já era tempo de se criar um movimento (ou uma plataforma) que reivindicasse o pagamento justo pela cedência do cidadão aos interesses partidários. Não se deve continuar a tolerar que os partidos saqueiem fortunas aos contribuintes e devolvam apenas uma mísera fracção sob a forma de brindes humilhantes.
O esforço de uns escassos políticos para reverter esta vergonha, incluindo em sufrágios externos aos partidos, viu-se alvo de galhofa geral. E no entanto os frigoríficos de Valentim Loureiro e os Magalhães de José Sócrates possuíam uma utilidade e conferiam aos destinatários uma dignidade que 25 euros obviamente não possuem nem conferem. Em vez de se denunciar a compra do voto, é urgente inflacioná-lo, forçando assim os políticos a subir a parada para ecrãs LCD (alta definição), computadores a sério e, mal se saia da crise, automóveis de gama média. O eleitor vê insuflada a sua auto-estima, ganha qualquer coisa que se veja e, ainda por cima, mantém-se livre de votar em que quem lhe der na cabeça, que não é necessariamente quem lhe deu a prenda."
Alberto Gonçalves
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