quinta-feira, setembro 24, 2009

Pum Pum do Bloco nas ruas de Braga

"Tarde quente em Braga. Largo do Paço, 15h30. Ainda só uma dúzia de pessoas, meia dúzia de bandeiras vermelhas e verdes. Chega a brigada de tambores do Pum, com t-shirts azuis. Depois, Francisco Louçã, de camisa branca e calça de ganga. Um ar de personagem de televisão. Cumprimentos, abraços. Vem mais gente e começa então a arruada do Bloco de Esquerda, pela rua do Souto acima.

Não quero caricaturar. É demasiado fácil. A verdade é que a coisa funciona, com grande economia de meios. À frente, a rapaziada do Pum, em formação de estrondo, abre alas. Na estreita rua comercial, as pessoas vão ficando literalmente encostadas à parede, à espera. Louçã vem atrás, com um maço de jornais de campanha, no meio de um enxame de jornalistas e militantes. O povo que anda por ali, a esta hora, é o que vemos a fazer de audiência nos programas de televisão das manhãs.

Senhoras reformadas reconhecem Louçã, excitam-se com as câmaras, incitam-se umas às outras, aproximam-se para o beijinho: “Ó D. Maria, não quer aparecer na televisão?”

Louçã tem uma técnica. Dirige-se às pessoas, pedindo licença para oferecer o jornal: não é o porta-a-porta, mas o cara-a-cara. Quando pára, forma-se logo à volta dele um ouriço de câmaras e microfones. No meio do círculo, Louçã faz as pessoas contarem-lhe histórias, que usa depois como pretexto para desbobinar a doutrina. Trata sempre de se pôr ao lado do momentâneo interlocutor contra “eles” – “eles”, os malandros que querem “destruir o emprego em Portugal”.

Ao pé de Louçã, toda a gente é educada e simpática; os comentários chocarreiros fazem-se ao longe: “cuidado com a gripe A!” Atrás, os vinte porta-bandeiras do Bloco, quase todos com um ar respeitável de professores de meia- idade, congratulam-se com o passeio por Braga: “isto já não é uma cidade bafienta”. Mas a certa altura, eis Louçã abordado por alguém montado numa bicicleta incongruente, que lhe diz qualquer coisa sobre a UDP e o PCR. Louçã vira-lhe as costas, incomodado. É o bafio do Bloco.

No fim da rua do Souto, próximo da avenida Central, faz-se uma espécie de conferência de imprensa. Louçã, no meio dos jornalistas, explica: “quem vai decidir estas eleições é quem vota no PS”.

Ele quer tirar votos ao PS – aqui, em Braga, para eleger o primeiro deputado pelo distrito. Em suma, a arruada é isto: um cenário para falar à imprensa. Quanto ao mais, o que é que aprendemos em Braga? Que o Bloco é Louçã, tal como o CDS é Portas – e ouvi esta comparação a um militante do Bloco. São dois políticos exímios nos contactos pessoais e na comunicação social. Andam em luta com os grandes partidos, explorando as frustrações da governação nos últimos anos.

Louçã, neste momento, é o mais solto e agressivo: está em guerra com o PS. Joga forte, joga tudo, joga para ganhar. Há à volta dele uma certa – digamos – intensidade. Bastará?

DETALHES DO DIA

NÃO ERA O MESQUITA

Bandeiras e bombos nas ruas de Braga. 'É o Mesquita?' Não, apesar de estarmos em Braga. Finalmente, as duas amigas avistam o homem da camisa branca: 'É o Louçã, o do partido comunista. Gosto muito de o ouvir'. A política é cada vez mais personagens da televisão.

PROVEDOR DA RUA

Por onde passa, Louçã é um aspirador de queixas e de frustrações. Contam-lhe tudo. Louçã ouve com ar atento, compartilha a indignação, oferece-se logo para ajudar: 'escreva-me isso, que eu vou ao ministério perguntar o que se passa'. Juro que lhe ouvi isto.

PÉROLAS LITERÁRIAS NO PROGRAMA

O programa do Bloco para Braga é a peça literária desta campanha. Podia ter sido escrito pelo conselheiro Acácio depois de um mês num campo de reeducação cubano. Exemplos: 'A pobreza também tem rosto de mulher' (p. 6). 'Nas equações do amor, o Estado deve ficar à parte' (p. 12). Neoliberalismo, só no sexo – mas se o deixam aí, até onde é que não poderá chegar
."

Rui Ramos

Divulgue o seu blog!