quarta-feira, setembro 23, 2009

Pregação de São Jerónimo aos seus fiéis.

"Há dias assim. O secretário--geral do PCP teve um dia calmo, entre amigos e convencidos nas vantagens do voto na CDU. Não foi, com certeza, uma jornada que tenha contribuído para o reforço dos resultados da coligação nas eleições de domingo. A não ser que a sua participação no programa dos Gato Fedorento lhe traga a simpatia de indecisos que não votam PS, ficaram zangados com a história da aliança de Francisco Louçã com José Sócrates e não gostaram nada da célebre história do Bloco querer retirar os benefícios fiscais aos PPR. Mas percebe-se a estratégia do Partido Comunista.

A semana passada apostou forte no Porto e conseguiu um grande êxito com o comício de domingo no Palácio de Cristal. Esta semana a aposta é o Campo Pequeno, em Lisboa, na quinta-feira. Jerónimo está convencido de que as estruturas do PCP de Santarém, onde vai andar na véspera do comício, Setúbal e Lisboa vão ser mais do que suficientes para mais uma demonstração de força da CDU a um dia do fim da campanha eleitoral. E, talvez por isso, Jerónimo de Sousa saiu ontem cedo de casa, foi até Vialonga, mesmo ali ao lado, fazer uma pequena arruada, onde encontrou velhos amigos e camaradas. Nada de especial, a não ser a presença irritante de duas ciganas, que as câmaras de televisão não apanharam, que desataram a gritar "Sócrates, Sócrates" mesmo nas barbas dos comunistas. "Pois é, gritam por ele porque recebem o rendimento mínimo", desabafava uma comunista de Vialonga. Depois foram os deficientes em Lisboa, uma sessão com sindicalistas na Casa do Alentejo, onde Carvalho da Silva deu uma mãozinha, os Gatos na SIC e um comício em Santa Iria da Azóia, mesmo ao lado de Pirescoxe, a terra que o viu nascer e onde sempre viveu este querido e simpático comunista chamado Jerónimo de Sousa. Razão tinha um cidadão que há dias comparou o secretário-geral do PCP a um padre. Jerónimo não é muito dado a igrejas e religiões, mas sabe andar na rua, fala com toda a gente, ninguém o insulta e todos, mesmo os que odeiam os comunistas, reconhecem que este ortodoxo comunista não se compara ao durão Cunhal ou ao atrapalhado Carlos Carvalhas, antecessores de Jerónimo na liderança do PCP. Homem simples, operário metalúrgico, político há mais de trinta anos, Jerónimo de Sousa está seguro no seu lugar mesmo que a CDU não obtenha os seus objectivos no domingo. Um reforço de deputados e de votos que dependem de muita coisa. Mas anda por aí algo que pode ser uma bênção caída do céu para o PCP e os seus aliados. E essa bênção veio da boca de Mário Soares, um dos inimigos de estimação dos comunistas, o tal que foi preciso engolir nas presidenciais de 1986. É que o ex-Presidente da República apelou a uma aliança do PS com o Bloco. E se este tema estiver na agenda até domingo, é possível que muitos votos de protesto voem directamente para o sapatinho do PCP. Soares é mesmo fixe
."

António Ribeiro Ferreira

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