O clube das virgens púdicas
"Agora é que se vê como se faz uma combinata", gritou José Junqueiro. Se o caso fosse ao contrário, seria outrem a gritar. O erro na frase é a palavra 'agora'. Coisas destas, infelizmente há cada vez mais...
Há mais de 30 anos que sou jornalista e há mais de 30 anos que assisto a combinatas, para utilizar a curiosa palavra de José Junqueiro. Assisto, mas recuso-as. A última que recusei foi na semana passada.
Há mais de 30 anos que vejo o PSD, o PS, elementos ligados a este ou a outro partido, instituição ou empresa, fornecerem a jornais dossiês mais ou menos conspirativos, elementos sem qualquer prova, teorias mirabolantes com o intuito de prejudicar adversários, concorrentes ou potenciais ameaças. A maioria das vezes, quando se investiga, chega-se a becos sem saída, a não acontecimentos, a meras coincidências. Outras vezes há casos.
A novidade não está na conspirata. Os jornais viveram e vivem disso. A novidade, o que mudou e mudou muito, foi a confiança nas instituições. Alguém, há 20 anos, ousaria pensar que uma fonte do primeiro-ministro ou do Presidente estava a mentir deliberadamente? Nunca! Mas há que dizer que essas fontes não tinham, então, a tendência manipuladora de hoje e menos ainda a sofisticação.
O que também mudou foi o modo como se publicam rumores não confirmados, opiniões sem fontes atribuídas, teorias sem rosto. Jornais, rádios e TV fazem compromissos inaceitáveis: Sobre o que publicam, o modo como publicam e - até, pasme-se! - sobre a origem dos documentos que publicam, fingindo virem de onde não vêm. As agências ou os peritos em comunicação, de que nenhum partido ou empresa prescinde, vieram prejudicar ainda mais este estado de coisas.
O que mudou foi o critério - a falta dele - com que se publicam informações. Os que pensam que isto também é, em parte, uma autocrítica, têm razão.
Nos últimos tempos, os postos mais altos da política portuguesa têm vindo a tornar-se cada vez mais especialistas nestes truques. De tal modo que, perante jornais independentes como o nosso, condenam a ousadia de termos noticiado factos. Factos como a estranha licenciatura do primeiro-ministro ou as acções que Cavaco teve na SLN.
Quem perde é a autoridade e a representatividade do Estado. É a democracia. Tenho dito e repetido que estou preocupado com esta espécie de dissolução ética em que a verdade tem menos valor do que os dividendos políticos.
E ninguém desconhece isto. Muito menos Cavaco, Sócrates ou todos os que se movimentam na política. Escusam de se armar em virgens púdicas; a insistência nestes temas tem como condão afundar mais e mais o respeito dos cidadãos pelos seus líderes.
Fariam melhor em calar-se."
Henrique Monteiro
Há mais de 30 anos que vejo o PSD, o PS, elementos ligados a este ou a outro partido, instituição ou empresa, fornecerem a jornais dossiês mais ou menos conspirativos, elementos sem qualquer prova, teorias mirabolantes com o intuito de prejudicar adversários, concorrentes ou potenciais ameaças. A maioria das vezes, quando se investiga, chega-se a becos sem saída, a não acontecimentos, a meras coincidências. Outras vezes há casos.
A novidade não está na conspirata. Os jornais viveram e vivem disso. A novidade, o que mudou e mudou muito, foi a confiança nas instituições. Alguém, há 20 anos, ousaria pensar que uma fonte do primeiro-ministro ou do Presidente estava a mentir deliberadamente? Nunca! Mas há que dizer que essas fontes não tinham, então, a tendência manipuladora de hoje e menos ainda a sofisticação.
O que também mudou foi o modo como se publicam rumores não confirmados, opiniões sem fontes atribuídas, teorias sem rosto. Jornais, rádios e TV fazem compromissos inaceitáveis: Sobre o que publicam, o modo como publicam e - até, pasme-se! - sobre a origem dos documentos que publicam, fingindo virem de onde não vêm. As agências ou os peritos em comunicação, de que nenhum partido ou empresa prescinde, vieram prejudicar ainda mais este estado de coisas.
O que mudou foi o critério - a falta dele - com que se publicam informações. Os que pensam que isto também é, em parte, uma autocrítica, têm razão.
Nos últimos tempos, os postos mais altos da política portuguesa têm vindo a tornar-se cada vez mais especialistas nestes truques. De tal modo que, perante jornais independentes como o nosso, condenam a ousadia de termos noticiado factos. Factos como a estranha licenciatura do primeiro-ministro ou as acções que Cavaco teve na SLN.
Quem perde é a autoridade e a representatividade do Estado. É a democracia. Tenho dito e repetido que estou preocupado com esta espécie de dissolução ética em que a verdade tem menos valor do que os dividendos políticos.
E ninguém desconhece isto. Muito menos Cavaco, Sócrates ou todos os que se movimentam na política. Escusam de se armar em virgens púdicas; a insistência nestes temas tem como condão afundar mais e mais o respeito dos cidadãos pelos seus líderes.
Fariam melhor em calar-se."
Henrique Monteiro
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