O vídeo bom e o vídeo mau.
"Aconteceu há seis meses. Um bandido de Nápoles (uns raptos, uns roubos, coisas assim), Mariano Bacioterracino fumava à porta de uma mercearia. Rua estreita, passam mulheres às compras... Um rapaz de óculos escuros na testa, encosta-se do outro lado da porta. Mariano olha-o, mede-o. O rapaz olha para o relógio, vai-se embora, pela ruela fora. O nosso gangster de bairro continua a fumar. Aparece um homem, de boné de pala, que entra na mercearia. 20 segundos depois, sai e dá um tiro nas costas de Mariano, que cai sobre joelhos de algodão. Tiro de misericórdia, na nuca - e o homem parte, calmo. Há seis meses, a polícia tinha este mistério e não o resolvia. Na semana passada, tornou público o vídeo da loja fronteira. Por isso eu pude contar esta guerra como se estivesse lá. Estive, chocado com a banalidade do assassínio e imaginando a trama: luta de camorristas, o rapaz dos óculos escuros inspeccionando até o cúmplice chegar. A polícia deu o vídeo com as caras desfocadas, excepto a do morto, a do assassino e a do rapaz. No dia seguinte, já se sabia quem era o assassino. Por isso é que os vídeos são bons. Já se sabe também quem é o rapaz: apresentou-se à polícia, mora no bairro, não tem nada a ver com o assunto, agora anda cheio de medo. Por isso é que os vídeos são maus."
Ferreira Fernandes
Ferreira Fernandes
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