quinta-feira, dezembro 10, 2009

O juízo final

"A vida política nacional desceu ao nível dos meninos rabinos. Se dúvidas houvesse, José Sócrates encarregou-se de as dissipar ao pedir a Paulo Portas para ter juizinho e, claro, para estar calado porque aparentemente está no Parlamento para ouvir quem tem juízo. O problema é mais vasto e cruel: o País suspendeu o juízo. Não é por acaso que os arguidos de diferentes processos se dirigem ao Juízo de Instrução Criminal de diferentes comarcas. Portugal precisa mesmo de descortinar o juízo. E a conversa de surdos a que temos assistido no Parlamento ilustra isso. Nem o Governo nem a oposição se ouvem. Ambos parecem ter suspendido o juízo.

E estão a contaminar um País que já tem idade para ter juízo. O que se tem assistido no Parlamento tornou o sítio num hospício simpático. Sabe--se que os governos, mesmo cansados como este, podem actuar. Os porta-vozes da oposição apenas podem falar. Quando se lhes quer cortar o pio, em nome do juizinho, é porque se quer que eles fiquem como uma estátua de sal. Mas, ao mesmo tempo, se a oposição, desde o início, está completamente surda a qualquer entendimento com o Governo, é porque quer outro diferente. Entrámos numa fase completa de ausência de juízo: quanto mais Governo e oposição falam, menos coisas têm para dizer. Ora se o Parlamento se tornou num território de guerra civil sem sentido, é porque deseja, no íntimo, um juízo final: um novo Governo, uma nova oposição, novas eleições ou mesmo um novo País que não tenha de governar. O juízo perdeu-se por aqui. Resta saber se o voltamos a encontrar
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Fernando Sobral

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