quarta-feira, dezembro 09, 2009

… e o vento nada lhe diz

"Inquirido sobre a possibilidade de uma recandidatura a Belém, Manuel Alegre recorreu à habitual veia épica para avisar que não é "refém de nada nem de ninguém". E acrescentou: "Ainda não encontrei resposta dentro de mim."

Pelos vistos, o interior do homem é tão caótico quanto uma conservatória do registo predial, daquelas onde os funcionários levam meses a procurar em vão um papelzinho. Em seu abono, diga-se que semelhante desarrumação é de resto muito frequente em poetas, sobretudo da estirpe que rima "contentores" com "flores" e "pés" com "português". Aliás, na escassez de outros méritos visíveis, a inclinação lírica, manifestada através de frases vagas e sem sentido aparente, confere ao sr. Alegre a aura que distingue o criador inquieto do político vulgar. Graças à aura, o sr. Alegre engendrou, ao longo de décadas, uma carreira parlamentar na qual conheceu relativo prestígio e não se lhe conheceu uma ideia, a menos que clichés acerca da "esquerda" e da "liberdade" contem.

Já apurar se a aura basta para alimentar aspirações presidenciais é uma questão diferente, cuja resposta depende do contexto. Em países aborrecidos, talvez a resposta fosse "estará tudo maluco?". Em Portugal, a avaliar pelo gabarito das demais criaturas que hoje trepam aos píncaros do Estado, a resposta talvez seja "e porque não?" O sr. Alegre faria melhor em procurar fora de si: dentro não se acha grande coisa
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Alberto Gonçalves

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