Grécia sem ajuda da UE
"No início do ano, quando os ‘spreads’ das obrigações da zona euro se alargaram, muitos pensaram que a Grécia poderia entrar, a qualquer momento, em situação de incumprimento.
Em Fevereiro, Peter Steinbrück, ex-ministro das Finanças alemão, pôs abruptamente um ponto final na especulação afirmando que a zona euro agiria se algum dos seus membros ficasse em apuros. Não existia um plano de acção concreto nem se havia equacionado eventuais emendas aos tratados europeus. Havia apenas uma declaração de intenções. Os investidores acreditaram em Steinbrück e tudo corria bem - por algum tempo, pelo menos. A especulação está de regresso, mas com uma diferença. Desta feita, a zona euro não vai intervir nem ajudar, salvo se a Grécia cumprir as condições que a União Europeia (UE) deverá impor nos próximos meses. As autoridades europeias têm mais receio dos riscos morais de um ‘bail-out' do que do alastramento de um hipotético incumprimento da Grécia a outros países da zona euro. Se o país tiver de escolher entre preservar a integridade do pacto de estabilidade e a integridade da Grécia, tudo indica que prevalecerá a segunda opção. Para salvaguardar o que ainda resta do pacto de estabilidade, as autoridades europeias tenderão a condicionar a ajuda à vontade do país visado em cumprir com as suas obrigações. Ora, importa lembrar que nenhum outro país da UE desprezou mais o pacto de estabilidade do que a Grécia.
A UE está apostada no aumento da pressão política - quem sabe ao ponto de provocar uma crise política - a pensar num objectivo estratégico: levar o governo grego a ceder. Uma abordagem perigosa que pode produzir efeitos contrários ao desejado. Mesmo que o primeiro-ministro grego, George Papandreou, estivesse disposto a acatar a exigência da UE, teria sempre de enfrentar uma forte oposição interna à implementação de medidas de austeridade draconianas. Até porque iriam contra o que prometeu nas recentes eleições. O verdadeiro problema é este: os líderes políticos gregos não prepararam os eleitores para o que aí vem.
O que pode acontecer se a Grécia não pagar as obrigações emitidas pelo Estado ou se não conseguir alargar o pagamento da dívida existente? Cerca de dois terços da dívida pública é detida por estrangeiros. O Deutsche Bank estima que o governo pretende angariar 31 mil milhões de euros em novos créditos e €16 mil milhões para dilatar o prazo de pagamento da dívida no próximo ano. Sem a ajuda da zona euro, o governo grego terá de recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI) se se deparar com mais obstáculos para refinanciar a dívida. Ao contrário da Argentina, a Grécia não pode desvalorizar a moeda. Sair da zona euro também não é uma opção realista.
O governo actual terá, talvez, mais facilidade em gerir medidas de austeridade impostas por entidades externas do que internas. A UE ficaria, pois, muito satisfeita por entregar as rédeas do processo ao FMI."
Wolfgang Munchau
Em Fevereiro, Peter Steinbrück, ex-ministro das Finanças alemão, pôs abruptamente um ponto final na especulação afirmando que a zona euro agiria se algum dos seus membros ficasse em apuros. Não existia um plano de acção concreto nem se havia equacionado eventuais emendas aos tratados europeus. Havia apenas uma declaração de intenções. Os investidores acreditaram em Steinbrück e tudo corria bem - por algum tempo, pelo menos. A especulação está de regresso, mas com uma diferença. Desta feita, a zona euro não vai intervir nem ajudar, salvo se a Grécia cumprir as condições que a União Europeia (UE) deverá impor nos próximos meses. As autoridades europeias têm mais receio dos riscos morais de um ‘bail-out' do que do alastramento de um hipotético incumprimento da Grécia a outros países da zona euro. Se o país tiver de escolher entre preservar a integridade do pacto de estabilidade e a integridade da Grécia, tudo indica que prevalecerá a segunda opção. Para salvaguardar o que ainda resta do pacto de estabilidade, as autoridades europeias tenderão a condicionar a ajuda à vontade do país visado em cumprir com as suas obrigações. Ora, importa lembrar que nenhum outro país da UE desprezou mais o pacto de estabilidade do que a Grécia.
A UE está apostada no aumento da pressão política - quem sabe ao ponto de provocar uma crise política - a pensar num objectivo estratégico: levar o governo grego a ceder. Uma abordagem perigosa que pode produzir efeitos contrários ao desejado. Mesmo que o primeiro-ministro grego, George Papandreou, estivesse disposto a acatar a exigência da UE, teria sempre de enfrentar uma forte oposição interna à implementação de medidas de austeridade draconianas. Até porque iriam contra o que prometeu nas recentes eleições. O verdadeiro problema é este: os líderes políticos gregos não prepararam os eleitores para o que aí vem.
O que pode acontecer se a Grécia não pagar as obrigações emitidas pelo Estado ou se não conseguir alargar o pagamento da dívida existente? Cerca de dois terços da dívida pública é detida por estrangeiros. O Deutsche Bank estima que o governo pretende angariar 31 mil milhões de euros em novos créditos e €16 mil milhões para dilatar o prazo de pagamento da dívida no próximo ano. Sem a ajuda da zona euro, o governo grego terá de recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI) se se deparar com mais obstáculos para refinanciar a dívida. Ao contrário da Argentina, a Grécia não pode desvalorizar a moeda. Sair da zona euro também não é uma opção realista.
O governo actual terá, talvez, mais facilidade em gerir medidas de austeridade impostas por entidades externas do que internas. A UE ficaria, pois, muito satisfeita por entregar as rédeas do processo ao FMI."
Wolfgang Munchau
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