A Justiça portuguesa gosta do Réveillon
"Os despachos do presidente do Supremo Tribunal sobre as escutas a Armando Vara e José Sócrates foram sabiamente divulgados a 30 de Dezembro, até porque no dia 31 havia tolerância de ponto para a função pública e faltaria gente para tirar fotocópias.
A população portuguesa viu-se então confrontada com este terrível dilema: 'Hei-de ficar em casa a ler os despachos ou vou festejar o fim do ano para a Serra da Estrela?' Vá-se lá saber porquê, a população portuguesa preferiu ir festejar o fim do ano para a Serra da Estrela, e quando acordou no dia 1 todos os factos da véspera se tinham evaporado numa nuvem etílica.
Assim, os despachos de Noronha do Nascimento transformaram-se em assunto de abstémios como eu. Que é como quem diz: só uma dúzia de chatos se deram ao trabalho de ler aquilo e só meia dúzia levantaram o dedo para explicar que o caso continua mais embrulhado do que o enredo de uma novela da TVI. Para além das interpretações jurídicas sobre a validade das escutas, apenas ao alcance de licenciados em Direito nas universidades sérias (excluam a Independente), aquilo que qualquer pessoa não-ressacada percebe é que Noronha do Nascimento seguiu a argumentação de Pinto Monteiro.
E que argumentação é essa? Resume-se a três palavras: acreditem em mim. O presidente do STJ disse: se o conteúdo das escutas 'pudesse ser considerado', ainda assim não há nele qualquer 'facto' que possa ser entendido 'como indício ou sequer como uma sugestão de algum comportamento com valor para ser ponderado em dimensão de ilícito criminal'. E não disse mais nada. Esta pequena frase com menos de 300 caracteres bastou para satisfazer uma vasta quantidade de gente. Gente que acha evidentemente que a Justiça portuguesa já nem tem de argumentar. Basta-lhe dizer 'inocente' que o povo, em peso, acredita. Fé por fé, antes as 12 passas e uma flute de champanhe."
João Miguel Tavares
A população portuguesa viu-se então confrontada com este terrível dilema: 'Hei-de ficar em casa a ler os despachos ou vou festejar o fim do ano para a Serra da Estrela?' Vá-se lá saber porquê, a população portuguesa preferiu ir festejar o fim do ano para a Serra da Estrela, e quando acordou no dia 1 todos os factos da véspera se tinham evaporado numa nuvem etílica.
Assim, os despachos de Noronha do Nascimento transformaram-se em assunto de abstémios como eu. Que é como quem diz: só uma dúzia de chatos se deram ao trabalho de ler aquilo e só meia dúzia levantaram o dedo para explicar que o caso continua mais embrulhado do que o enredo de uma novela da TVI. Para além das interpretações jurídicas sobre a validade das escutas, apenas ao alcance de licenciados em Direito nas universidades sérias (excluam a Independente), aquilo que qualquer pessoa não-ressacada percebe é que Noronha do Nascimento seguiu a argumentação de Pinto Monteiro.
E que argumentação é essa? Resume-se a três palavras: acreditem em mim. O presidente do STJ disse: se o conteúdo das escutas 'pudesse ser considerado', ainda assim não há nele qualquer 'facto' que possa ser entendido 'como indício ou sequer como uma sugestão de algum comportamento com valor para ser ponderado em dimensão de ilícito criminal'. E não disse mais nada. Esta pequena frase com menos de 300 caracteres bastou para satisfazer uma vasta quantidade de gente. Gente que acha evidentemente que a Justiça portuguesa já nem tem de argumentar. Basta-lhe dizer 'inocente' que o povo, em peso, acredita. Fé por fé, antes as 12 passas e uma flute de champanhe."
João Miguel Tavares
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