segunda-feira, abril 26, 2010

“Desgrécia”

"A União Europeia acordou, por fim, um ‘bail-out’. Resultado? A corrida às obrigações do Tesouro (OT) gregas deu confusão.

Uma semana depois, as OT gregas atingiam o nível mais alto desde a eclosão da crise. Apesar de tudo, os mercados financeiros reconhecem que a Grécia está falida, com ou sem ‘bail-out'. Este apenas evita que o país entre em incumprimento este ano, mas não faz qualquer diferença no caso de um provável e subsequente incumprimento. Basta fazermos as contas: o rácio dívida/PIB da Grécia é de 125%. A Grécia vai precisar de se financiar em cada um dos próximos cinco anos na ordem dos 50 mil milhões de euros para poder renegociar a dívida existente e pagar os juros. O total ascende a cerca de 250 mil milhões de euros, isto é, a perto de 100% do PIB anual.

Para evitar a insolvência a longo prazo, a Grécia terá de arranjar maneira de estabilizar o rácio dívida/PIB, o que exige, por sua vez, um plano de redução do défice plurianual e um programa de reformas estruturais para aumentar a taxa de crescimento potencial. Até agora, o governo grego apresentou apenas um plano de redução do défice para um ano, de 13% do PIB para cerca de 8,5%. Embora pareça ambicioso não é propriamente credível, uma vez que assenta essencialmente no aumento da carga fiscal e não contempla quaisquer reformas estruturais. Mas mesmo que apresentasse um plano de estabilidade credível a longo prazo, o risco de incumprimento continuaria a ser elevado. Isto significa que é necessário - e inevitável - um pacote de reestruturação da dívida. É provável que o Fundo Monetário Internacional (FMI), organização que co-financia o empréstimo da UE, exija um ajustamento global mais drástico e rigoroso à Grécia. Mas não só. Também desconfio que o FMI vai ser mais restritivo ao nível da reestruturação e do adiamento do pagamento da dívida.

Segundo os meus cálculos chegámos a um ponto onde não há retorno possível, por isso, a nossa preocupação não deve ser "como evitar o incumprimento", mas "qual a melhor forma de o gerirmos". Será um processo ordenado ou teremos de lidar com um incumprimento caótico ao estilo argentino? Embora os ‘spreads' das obrigações gregas tenham aumentado e rondassem os 400 pontos base na semana passada, continuam a não reflectir os riscos reais. Há duas semanas, muitos leitores estranharam o meu raciocínio quando afirmei que um ‘spread' de 300 pontos base tem 17% de probabilidades de gerar perdas na ordem dos 17%. Limitei-me, e de uma forma algo preguiçosa, admito, a obter a raiz quadrada de 300 e a arredondá-la para baixo, tendo chegado a uma combinação plausível dentre um número infinito de possibilidades.

O melhor que se pode dizer deste pacote é que nos vai dar tempo para orquestrar um incumprimento mais ordenado. A reestruturação e o adiamento do pagamento da dívida serão, talvez, a única hipótese que a Grécia e os titulares de obrigações gregas têm de sair desta confusão de cabeça erguida
."

Wolfgang Münchau

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Interessante não se falar no Reino Unido.
Os 3 partidos estão a preparar um plano(?) para enfrentar uma situação de catástrofe financeira.
O Reino Unido vai ter a sua Grécia, agora interessa enganar os eleitores, mas segundo os resultados anunciados dos Bancos falidos como o RBS, que foram manipulados, os investidores vão receber migalhas, depois de um baylout vergonhoso como nos USA.
Houve manipulação da dívida.
Em 1974 tiveram uma intervenção do FMI 8 meses após caso semelhante.

The numerous meetings, at the end of 2009, between the Cancellor of the Exchequer, Alistais Darling, and Goldman Sachs is a very releible indicator of sovereigne debt manipulation
Bas ta seguir o que se passa no Goldman Sachs para saber onde está o risco de incumprimento e as mentiras.
Tal como nos USA.
O Bank of England comprou 70% das Gilts (British tresuries)
Depois da eelições haverá um risco de vazio de poder, "Hung Parliament" que poderá quase de certeza levar a um colapso da Libra que já está bastante fraca.
Portanto a coisa está estudada, "to big to fail or too gig to jail", os mercados não se regeneram ou auto regeneram, os mercados e as entidades reguladoras não funcionam porque estão nas mãos dos banqueiros e só vão à falência os pequenos bancos, mas o prblema é que poderá não ser por muito tempo.
Necessitava-se mandar prender muitos CEO em vez de lhes ter dado bónus e os governadores dos bancos centrais deveriam ser presos por servirem os interesses dos bancos de investimento e os comerciais, porque não fizeram o seu trabalho de reguladores e tinham ao contrário do que disseram mecanismos.
Onde é que já ouvi isto?
É verdade o anão do banco do sítio que foi para o BCE como recompensa da porcaria que por cá fez.

terça-feira, abril 27, 2010  

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