Ricardo Rodrigues, o cleptómano digital
"No país dos inimputáveis em que Portugal se transformou, um deputado pode surripiar dois gravadores digitais a jornalistas de uma revista respeitável, convocar uma conferência de imprensa e, em vez do mais elementar pedido de desculpas, afirmar-se vítima de "violência psicológica insuportável". Convém fixar esta expressão. No Portugal de 2010, liderado pelo incansável engenheiro Sócrates, "violência psicológica insuportável" é o novo nome que se dá às perguntas incómodas.
Este poderia ser um episódio anedótico, capaz apenas de sobressaltar dois ou três deputados com mais amor às suas carteiras, se ele não fosse tão sintomático do estado a que as coisas chegaram. A conferência de imprensa do senhor deputado Ricardo Rodrigues, que desde o início da legislatura se tem destacado pelo amor ao grande líder e pela defesa canina da sua santidade na comissão de inquérito ao caso PT--TVI, é mais um monumento à desvergonha política e à falta de sentido de Estado.
Este poderia ser um episódio anedótico, capaz apenas de sobressaltar dois ou três deputados com mais amor às suas carteiras, se ele não fosse tão sintomático do estado a que as coisas chegaram. A conferência de imprensa do senhor deputado Ricardo Rodrigues, que desde o início da legislatura se tem destacado pelo amor ao grande líder e pela defesa canina da sua santidade na comissão de inquérito ao caso PT--TVI, é mais um monumento à desvergonha política e à falta de sentido de Estado.
Num país que ainda se lembrasse do significado de palavras como "responsabilidade política" e "dignidade institucional", o senhor Rodrigues estaria a arrumar o seu gabinete e a apanhar o avião para os Açores. No país onde todos vivemos, contudo, o senhor Rodrigues faz conferências de imprensa ladeado pelo seu líder de bancada (que, depois do affaire Inês de Medeiros, está a especializar-se na defesa dos oprimidos), sem direito a perguntas dos jornalistas (esses pulhas), onde anuncia incompreensíveis providências cautelares (com que fundamento?) e chama "exercer acção directa" ao acto de roubar e "tomar posse" ("irreflectidamente", assinale-se) ao acto de gamar. Da tauromaquia à cleptomania, o Parlamento português está cada vez mais parecido com uma parada circense. E o pior de tudo é que os palhaços somos nós."
João Miguel Tavares
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