segunda-feira, maio 03, 2010

Um homem só

"José Sócrates, ao enfrentar um coro de protestos dos economistas da Oposição, parece só na defesa do investimento.

Ainda não tenho a certeza se o Presidente da República aprova, tem dúvidas ou reprova sem apelo o ambicioso plano de obras públicas que o Governo insiste em levar por diante. É possível – e útil à economia portuguesa – investir no TGV, no novo aeroporto e na terceira travessia do Tejo?

O primeiro-ministro, ao enfrentar um unânime coro de protestos dos economistas da Oposição, parece um homem só na defesa intransigente do investimento. Até Pedro Passos Coelho, que há três meses era adepto incondicional do programa de obras públicas, diz agora que o País tem outras "reformas estruturais" com que se preocupar e, "entre as mais relevantes", destaca a reforma da lei laboral e a reforma da lei das rendas. Se bem entendo o líder do PSD, a miserável condição da economia e das finanças públicas será resolvida por uma nova ordem entre senhorios e inquilinos e pela selvajaria do mercado de trabalho. Mas o que pensa de tudo isto Cavaco Silva que, como sabemos, também é catedrático de Economia?

O Presidente da República diz que o Governo tem de ponderar os grandes investimentos públicos. Ora, salvo melhor opinião, dizer isto e coisa nenhuma é a mesma coisa. A curta intervenção de Cavaco é, com todo o respeito, aquilo a que os franceses chamam ‘parler pour rien dire’ (não refiro aqui a expressão inglesa para evitar mal-entendidos, uma vez que estou a falar do chefe do Estado). Ponderar, lá isso o Governo pondera. A palavra significa reflectir sobre o assunto, examinar de vários ângulos, apreciar, avaliar o efeito. Vejo que é assim, pelo menos, nos dicionários da Língua Portuguesa. Não tenho à mão nenhum dicionário de Economia para procurar significado diferente.

O Governo pondera, não tem feito outra coisa, e chega sempre à mesma conclusão. Bem sei que o Presidente da República deve evitar comentários às decisões que pertencem à esfera própria do Executivo. Mas – que diabo! – numa altura em que o Governo se prepara para atirar o navio contra um rochedo – segundo os economistas que se tornaram conhecidos por terem sido ministros das Finanças – fazia-nos falta uma palavra sensata, clara, firme, esclarecedora. É verdade ou não que as grandes obras públicas produzem algum crescimento – acredito que não será o melhor e o mais saudável, mas é o que se pode arranjar – e que sem crescimento não haverá dinheiro para pagar a dívida?

P.S. Como receava, escassas linhas chegam para dar conta da actividade parlamentar de Inês de Medeiros. Nem se ouviu durante toda a semana
. "

Manuel Catarino

Divulgue o seu blog!