segunda-feira, janeiro 10, 2011

O homem do lixo

"Manuel Alegre não abdica de um "país limpo". A expressão usada nas declarações aos jornalistas foi exactamente essa, "país limpo", e é essa inflexibilidade ética que se espera de um candidato presidencial a sério.

Durante um instante, digamos cerca de quatro segundos, acreditei que Manuel Alegre decidira recusar o apoio do PS e reclamar esclarecimentos definitivos acerca das histórias da licenciatura de um conhecido estadista, do fecho da "universidade" Independente, do licenciamento do Freeport, da escritura de um peculiar apartamento lisboeta, do aterro da Cova da Beira, do sucateiro Godinho, da ascensão vertiginosa de certos vultos da PT, da ingerência política numa televisão privada, do patrocínio de ex-futebolistas para fins eleitorais e minudências similares.

Erro meu. Afinal, Manuel Alegre apenas deseja limpar o País no que respeita aos obscuros negócios da banca. E nem todos os negócios da banca: não se lhe ouviu um resmungo sobre, por exemplo, o assalto do partido do poder ao BCP, ou as célebres confusões do BPP, que Manuel Alegre publicitou há uns anos a troco de 1500 euros. Manuel Alegre só está interessado em limpar as dúvidas que versam o BPN. E nem todas as dúvidas, que ninguém deu por ele a protestar contra a nacionalização da referida instituição, ou a pedir pormenores pelo modo como a privatização falhou e pelo impacto, ainda misterioso, de semelhantes divertimentos no bolso dos contribuintes, ou até a estranhar os desmesurados elogios que, em 2008, o ex-administrador Dias Loureiro teceu ao primeiro-ministro. Manuel Alegre limita-se a reivindicar que Cavaco Silva explique os ganhos que obteve na venda de umas acções da SLN, o grupo que detinha o BPN.

Aqui há tempos, Cavaco Silva já disse umas coisas a propósito. Talvez tivesse obrigação de as desenvolver agora, talvez suponha que isso lhe prejudicaria a campanha, talvez acredite que a reeleição está garantida mesmo, ou sobretudo, se ignorar o assunto. Talvez a noção do ridículo o impeça de convocar uma conferência de imprensa em que acuse meio mundo de conspirar contra si. Não sei.

Sei que Cavaco Silva não deve desculpar-se da mais-valia conseguida numas acções com confissões de prejuízo noutras, seja porque um eventual abuso não é atenuado pelos abusos que não se cometeu, seja porque o lucro, ao contrário do que julgam os simpáticos fascistas do Bloco, não é sinónimo de má-fé ou desonestidade.

E sei que Manuel Alegre não quer o tal "país limpo" que, com voz grave, exige: o seu zelo concentra-se num pedaço pequenino do País, enquanto o resto permanece uma esterqueira pegada. Há sempre alguém que diz não? Possivelmente, mas está longe de ser o caso. Manuel Alegre diz sim ao que calha, desde que lhe convenha. O "não" ou, para usar palavras que lhe são caras, a resistência e a insubordinação servem de pechisbeques retóricos. Na prática, Manuel Alegre resiste e insubordina-se face a muito pouco, quase nada. Tecnicamente, falta-lhe um bocadinho de legitimidade para a missão higiénica a que se dispôs. Francamente, falta-lhe um bocadinho de vergonha na cara
."

Alberto Gonçalves

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Mais uma vez a "imparcialidade" aqui demonstrada pelo Sr. Alberto Gonçalves. Embirrou com o homem e agora não fala de outra coisa. Existem mais candidatos de que se pode falar, sabia ?

terça-feira, janeiro 18, 2011  

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