sexta-feira, fevereiro 18, 2011

Não há euros grátis

"Estava escrito por muitos economistas. O euro iria gerar desemprego em países como Portugal e abrir o fosso entre o rendimento dos portugueses e dos seus pares europeus do centro da Europa. Aí está o previsto sem dó nem piedade.

O índice de miséria em Portugal, soma da taxa de desemprego e de inflação, atinge neste momento quase os 15%, valores que nos fazem recuar aos anos 80 do século XX quando o país teve de pedir ao Fundo Monetário Internacional para o ajudar porque não tinha reservas em divisas para pagar as importações. A taxa de desemprego em 2010 atingiu 11% da população activa e a taxa de inflação está quase nos 4%.

O que fazer com o estado a que chegou o País? Cada um por si, aqueles que têm formação estão já a tratar da sua vida emigrando quando não encontram emprego no País. Quando Maria João Rodrigues, conselheira da Comissão Europeia e ex-ministra de António Guterres, avisa que o pacto para a Competitividade que a Alemanha colocou em cima da mesa vai forçar os portugueses a emigrar para a Alemanha está apenas a descrever o que de facto já acontecer.

Vivemos já na nova realidade da emigração qualificada ficando por cá quem não quer, não pode ou não consegue sair. A emigração é o melhor dos males que nos podem acontecer. É sinal de que há no mundo quem precise das qualificação que os portugueses têm. O pior dos males está destinado aos que não vão conseguir arranjar outro emprego nem aqui nem fora do País.

Quando se começou a construir o euro foram muitos os avisos de várias partes sobre os riscos de um modelo negociado no universo do possível, que é o da política, e não no mundo do exigido pela realidade. Paul Krugman tem um livro editado ainda no início da sua carreira onde demonstra pela dinâmica da geografia do comércio internacional que Portugal entraria na fase de divergência. E todos os economistas que estudam as designadas zonas monetárias óptimas alertaram para os riscos do modelo minimalista da União Económica e Monetária.

Para Portugal não seguir o destino do empobrecimento, de se transformar no Alentejo e Trás-os-Montes da Europa, precisava de ter seguido uma política de disciplina financeira que, em capitalismo e democracia, era, se não impossível, altamente improvável. Mesmo que os governos que estiveram no País desde 1999 tivessem conseguido resistir a todas as pressões e oferecido ao País excedentes orçamentais visíveis, a euforia privada criaria os problemas. Assim o vimos na exemplar Irlanda e em Espanha - quem se lembra das boas contas orçamentais espanholas?

Trás-os-Montes, Alentejo ou o Mezzogiorno em Itália não conseguem sair de uma crise financeira apostando no crescimento das suas economias com a produção de produtos com mais valor acrescentado. Resolveram os seus problemas com menos pessoas a viverem por lá. Para os portugueses que estão sem emprego o momento é de urgência, não podem esperar que a economia se modernize, têm de procurar trabalho onde há. E se é fora de Portugal é para lá que vão, cada um sem a noção nem o peso de em conjunto condenarem o País a mais e mais empobrecimento. Para cada um que procura emprego é uma sorte a Alemanha querer o Pacto para a Competitividade e salvar o euro.

Vivemos no tempo do embate com a realidade, no tempo das reais e difíceis escolhas colocadas pela União Monetária. Não há euros grátis
."

Helena Garrido

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