domingo, junho 26, 2011

A luta do homem

"Uma pessoa lê que Carvalho da Silva subscreve uma petição para auditar a dívida pública e convence-se de que o homem acordou para a necessidade de rigor e a admissão da responsabilidade dos sindicatos na penúria pátria. Depois lê-se a petição propriamente dita e aí somos nós a acordar para a natureza irreformável da CGTP.

O que o documento pretende é "determinar as partes da dívida que são ilegais, ilegítimas, odiosas ou simplesmente insustentáveis". Estamos, portanto, em pleno território da "dívida odiosa", interessante conceito segundo o qual um país é livre de decidir que o seu débito foi contraído contra os interesses dos cidadãos, logo o débito é susceptível de "reestruturação", logo de puro calote. A inspiração do dr. Carvalho da Silva e dos parceiros da subscrição virá do Equador, que há um par de anos recorreu ao método e assumiu, com o orgulho dos malucos, o subsequente estatuto de pária.

Em abono do Equador, mas não do dr. Carvalho da Silva, reconheça-se que a respectiva dívida remonta, pelo menos parcialmente, à antiga ditadura local, que as reservas locais de petróleo disfarçam, pelo menos parcialmente, o pavor dos investidores internacionais e que o cacique e, pelo menos parcialmente, a população locais apreciam caminhar de mãos dadas com Chávez e restantes sobas da região.

Em Portugal, nem sequer temos desculpas pífias para fugir à dívida. Porém, teríamos consequências certas, todas dramáticas, todas aparentadas da insolvência sem empréstimos nem retorno. Numa palavra, teríamos o caos, e o caos é um velho objectivo do sindicalismo que nos calhou em sorte (força de expressão). Num cenário "normal", o sindicalismo indígena, com as suas exigências e chantagens, também conhecidas como "luta", funciona por desgaste gradual. Num cenário em que meio mundo sugere que a crise será uma oportunidade, a CGTP passa à acção e aproveita para tentar rebentar com isto de uma vez. Nada de espantoso. A nossa lamentável situação actual é o resultado de inúmeros erros e delírios. Carvalho da Silva é o rosto de alguns deles. A respeitosa importância que por aí se lhe dedica é causa directa de alguns outros
."

Alberto Gonçalves

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