quarta-feira, agosto 03, 2011

A lobotomia

"Há decisões muito fáceis: aumentar os impostos ou os preços dos transportes. Há acções mais difíceis: diminuir a gordura do Estado ou eliminar a partidarização da Administração Pública. O Governo já fez o mais fácil. A dúvida é se conseguirá fazer o mais difícil. Reformar e modernizar o Estado, impulsionar a economia e não deixar que a austeridade liquide de vez o País são tarefas dignas de alguém que se transforme de Peninha em Morcego Vermelho. A tarefa seria fazer da administração pública um corpo coerente e sério de funcionários.

É claro e evidente que, durante anos sucessivos, a administração pública se tornou o albergue de patrulhas ideológicas, consoante quem estava no poder. É por isso que cada vez que muda o Governo o País pára. A eliminação do mérito tem sido a lobotomia do País. O País retalhou o cérebro e chama a isso democracia. O mérito foi substituído pelo cartão partidário, pelo nome familiar e pelo círculo de cumplicidades. O País repousa calmamente sobre esse pântano.

O Estado parece gostar de estar mal equipado com quadros humanos para os desafios que se lhe colocam. As grandes negociações das PPP revelaram isso: o Estado tinha juniores a celebrar acordos com seniores. Os resultados são humilhantes para o bem público. A crise deveria servir para mudar este círculo vicioso onde apenas se costuma discutir quem muda de cadeira. A tentação totalitária dos partidos esfrangalhou a débil sociedade civil e um Estado anémico. Enquanto não se separarem essas águas o País é um refrigerante adulterado: em vez de sumo temos água, corante e açúcar para ludibriar os cidadãos
."

Fernando Sobral

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