Pois aí está nem eles sabem...
Da apendicite grega ao tumor hispano-italiano
A bolsa nova-iorquina interrompeu ontem um ciclo de quedas consecutivas, ao fechar com valorizações de mais de quatro por cento nos principais índices. Pouco antes do fecho da sessão, aconteceu a repentina valorização após a Reserva Federal (Fed) norte-americana ter anunciado que manterá as taxas de juro de referência próximas de zero por mais dois anos.
Entre os índices de referência, o Nasdaq Composite Index, que agrega empresas de base tecnológica, foi o que mais disparou: 5,295 por cento (para 2,482.520 pontos). O índice Standard and Poor’s 500 Index cresceu 4,741 por cento (para 1,172.530 pontos) e o industrial Dow Jones avançou 3,977 por cento (para 11,239.770 pontos).
Porém, o dia foi marcado por uma acentuada volatilidade nas bolsas europeias e norte-americanas. Wall Street abriu positiva, mas o disparo só foi visível no final da sessão, após o anúncio do Fed.
Imediatamente a seguir à divulgação da notícia, os mercados reagiram com apetite pelo risco. O Nasdaq subia pouco mais de um por cento, o índice S&P 500 valorizava 0,2 por cento e o Dow estava em terreno negativo. Os minutos finais da sessão foram determinantes para a recuperação.
Mas a recuperação de ontem será de curta ou de média duração? Em nossa opinião, os fundamentais das economias nacionais e das empresas cotadas nas bolsas dos dois lados do Atlântico não enganam: estamos na antecâmara de uma nova fase da crise sistémica de que temos vindo a falar, desde 2007 (ver exemplos aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, ou aqui).
Contrariamente à reacção de ontem das bolsas norte-americanas, outras praças indicam que entraram no território dos mercados recessivos (bear market). Em Londres, o índice de referência FTSE 100 recuou 20%, desde Fevereiro. De 6091 pontos escorregou para 4855 pontos. O mesmo aconteceu em Hong Kong. O índice Hang Seng recuou 23% desde o último máximo, registado em 8 de Novembro passado. Idêntica situação aconteceu na brasileira Bovespa (-31%). Por outro lado, refira-se que o entusiasmo de ontem nas praças americanas está ensombrado pela acelarada perda de 18% nas cotações do índice S&P 500 registada nos últimos meses…
A decisão da agência de rating Standard & Poor´s de baixar a notação da dívida norte-americana de AAA para Aaa, na sexta-feira, na sequência do recente aumento, pelo Congresso, do tecto da dívida federal acima da fasquia de USD 14,3 trillion, apesar de ter precipitado a presente situação, é apenas mais um episódio do colossal descontrolo financeiro norte-americano. A crise não está controlada. Longe disso.
A decisão do Fed agora anunciada de manter as taxas de juro próximas de zero até 2013 é tudo menos uma boa notícia. Dinheiro fácil e escandalosamente barato é mau conselheiro. É um viveiro de bolhas especulativas. Das dotcom às hipotecas subprime insistimos em trilhar um caminho perigoso. De bolha em bolha até à definitiva implosão do sistema financeiro global. Sem pretendermos ser exaustivos, propomos uma olhada sobre os sinais. Alguns têm tanto de elucidativos como de preocupantes:
Na bolsa de futuros Comex, após o anúncio do Fed, as posições relativamente aos contratos de ouro subiram 1,8%, fixando-se no novo recorde histórico de 1740 dólares a onça;
O banco J.P. Morgan emitiu ontem uma nota segundo a qual a cotação do ouro deverá atingir os 2500 dólares a onça até ao final do ano, enquanto o Goldman Sachs prevê que esteja nos 1730 dólares dentro de seis meses e nos 1900 dólares dentro de 12 meses;
O metal amarelo prossegue a sua escalada enquanto activo à prova de crises. Continua a ser o refúgio mais seguro que o dinheiro pode comprar nos tempos que correm. Esta opinião é partilhada por alguns governadores de importantes bancos emissores;
Nos dois últimos meses, o banco central da Coreia do Sul comprou 25 toneladas de ouro, aumentando em 17 vezes as suas reservas de metal amarelo. No mesmo período, também o banco central da Tailândia aumentou as suas reservas de ouro em 15,5%, tendo passado de 3523 milhões de onças, em Maio, para 4,07 milhões, em Junho. No princípio do ano, a Tailândia já adquirira 9,3 toneladas de ouro. A Rússia comprou 41,8 toneladas e o México 99,2 toneladas. A China anunciou no início do ano que pretende, até 2020, aumentar drasticamente as suas reservas de ouro. Das actuais 1054 toneladas quer chegar às 8-10 mil toneladas;
Os juros implícitos (yield) dos títulos dos EUA a dez anos baixaram de 2,32% para 2,28%, entre segunda e terça-feira;
Até agora, perante a visível deterioração do clima económico nos sete países mais industrializados (G7) e a profunda crise das dívidas soberanas europeias, a maioria dos investidores e especuladores comprava, devido ao risco quase inexistente, títulos do tesouro americano na expectativa de que se valorizassem. Porém, se em vez disso eles se depreciarem, como já está a acontecer, tal pode significar que a bolha do mercado das obrigações norte-americanas está prestes a rebentar. As consequências serão trágicas para a economia global;
Desde 24 de Julho, o pânico generalizado em todos os mercados mundiais gerou perdas globais de USD 8,1 trillion (mais de metade do PIB dos EUA). Este valor corresponde a 14,8% da capitalização bolsista do mundo;
Em apenas cinco anos (2008-2012), o montante das obrigações de dívida vencidas, emitidas pelo Tesouro norte-americano, atingirá o gigantesco volume de USD 5,6 trillion. A totalidade do crescimento da dívida do país, entre 1776 (ano da declaração de independência) e 2008, foi de 4,6 trillion. Obama vai ultrapassar em apenas cinco anos o que o conjunto dos seus 43 antecessores fez em… 232 anos!!!
O custo global das ajudas financeiras aos bancos e empresas financeiras dos EUA e da Europa, desde 2008, na realidade, ascende a quase USD 24 trillion, segundo a estimativa de Neil Barofsky, o inspector-geral do TARP (Troubled Asset Relief Program), o mega programa de resgate aprovado pela administração Bush e continuado pela administração Obama. Se compararmos este número com o do défice reconhecido pelo Tesouro (USD 14,7 trillion) ficamos com uma ideia mais realista da enormidade dos problemas a resolver quando for apresentada a factura para liquidação;
Se tivermos em conta que o rácio dívida/PIB da Grécia já atingiu os 150%, e que os EUA estão a caminho de ultrapassar rapidamente a psicológica barreira dos 100%, as perspectivas para o biénio 2012-2013 são ainda mais negras. Os efeitos sobre a evolução do crescimento e do emprego serão devastadoras. Também o dólar, enquanto reserva cambial mundial, terá o seu canto do cisne;
E o que nos reserva a Europa dos 17 (Zona Euro), ou dos 27 (UE)? Será que o sonho europeu, idealizado nos anos 50 pelo eixo Bona-Paris, poderá, meio século depois, vir a transformar-se no pesadelo do eixo Berlim-Paris? A prazo é bem possível. Para já, é avisado estarmos preparados para o pior (desintegração da UE e fim do euro).
Os altos dirigentes dos países membros mais ricos e a elite dos eurocratas têm pautado a sua actuação pela incapacidade de gerar consensos, de elaborar discursos coerentes, de afirmar um projecto europeu credível e sustentável e de ter a noção dos timings certos para agir.
Se no debate sobre a subida do tecto da dívida federal, os congressistas norte-americanos e o Presidente Obama deram aquele risível espectáculo de marcar o golo (chegar a acordo) no período de descontos (praticamente no fim do prazo), o que dizer dos líderes europeus? Com os sucessivos avanços e recuos e os constantes desmentidos das promessas feitas na véspera, uns e outros colocaram a Europa a jeito da voracidade vampírica dos mercados (leia-se especuladores).
O que ontem era uma simples apendicite grega, passou hoje a ser um desconfortável pólipo luso-irlandês, o qual, num futuro próximo, ameaça evoluir para um fatal carcinoma hispano-italiano.
Deste lado do Atlântico, os meteorologistas da política e do dinheiro têm o dedo no botão de alerta de tsunami, atentos a alguns sinais dos chamados “mercados”:
Um editorialista do Financial Times escreveu ontem que o futuro da Europa depende da qualidade da defesa da Espanha e da Itália pelo triunvirato UE/BCE/FMI.
Embora Madrid tenha apresentado “bons resultados” no combate ao défice e na flexibilização do mercado de trabalho, o articulista elege como positivo o facto de registar um superávit primário e de os seus empréstimos terem maturidades confortáveis. Como aspecto negativo é sublinhado o elevado peso da dívida (a terceira maior da Zona Euro), as tímidas medidas de combate ao défice e a crónica incapacidade do governo Berlusconi para fazer crescer a economia, melhorar a capacidade competitiva e combater o excesso de burocracia;
Esta análise, em nossa opinião, peca por benigna já que passa ao lado de uma variável essencial da equação – a estratégia dos especuladores e as ferramentas de que dispõem para desestabilizar qualquer economia ou moeda, independentemente do seu peso e dimensão;
A manipulação pelos especuladores (privados e institucionais) de instrumentos derivativos, designadamente os famigerados seguros de incumprimento financeiro – Credit Default Swaps (CDS) -, levou à falência do banco Lehman Brothers, à nacionalização da seguradora AIG, à insolvência da Islândia e a severas crises cambiais nos anos 90 que atiraram para as cordas as moedas da Rússia, da Malásia, da Coreia do Sul, do México e por aí fora;
Ninguém sabe ao certo qual o montante global dos tóxicos CDS que infectam os balanços de sonantes nomes da banca europeia – do germânico Deutsche Bank, ao britânico Barclays, ao francês Paribas, passando pelo espanhol Santander e pelo italiano Unicredit – mas diversos especialistas dividem-se entre estimativas estratosféricas (trillions ou quadrillions);
Certo é que, contrariamente ao que tem sido vertido em muitas páginas de jornais e revistas especializadas, existe o perigo real de um ou mais bancos europeus de grande dimensão poderem vir a ser atacados pelo vírus Lehman Brothers. Quando chegar a hora, lembrem-se de trautear “Don’t cry for me Argentina”;
A França, para alguns inesperada e injustamente, está na berlinda desde sexta-feira, dia em que a S&P despromoveu a qualidade da dívida norte-americana. Comparativamente a outros países com notações triple A, os juros implícitos, os CDS e os níveis do défice que afectam a economia gaulesa são variáveis consideradas excessivas pelas maiores agências de rating;
Na próxima sexta-feira, a França publicará dados estatísticos sobre o crescimento da economia no segundo trimestre. A generalidade dos analistas prevê números desanimadores da ordem dos 0,2%, ou seja 0,7% abaixo do valor registado no primeiro trimestre;
Caso se confirmem as previsões, as campainhas de alarme alertarão para a dificuldade de a França conseguir, em 2013, atingir a prometida meta de reduzir o actual défice (7,15% do PIB) para menos de 3%;
O facto de os CDS sobre a dívida francesa serem superiores aos pagos pelos compradores de dívida emitida pelas autoridades do Peru, Indonésia, África do Sul e da República Eslovaca é motivo de preocupação não apenas para o governo francês. As lideranças da UE, do BCE e do FMI receiam que a equacionável perda pela França da notação AAA possa pôr em causa toda a arquitectura do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) e inviabilizar futuros resgates;
De resto, os recursos do FEEF (750 mil milhões de euros) são considerados insuficientes para fazer face às necessidades prováveis dos resgates. Chegam para atender o conjunto dos actuais três “clientes” – Grécia, Irlanda e Portugal e eventualmente de Chipre. Caso a Espanha ou a Itália sejam forçadas a usá-lo precisaria de ser generosamente recapitalizado. De resto, há mesmo quem pense que o resgate da terceira e da quarta economias da UE, a Itália e a Espanha respectivamente, necessitaria de um novo Plano Marshall, mas agora com a inclusão dos países emergentes do G20 (China, Índia, Brasil, Arábia Saudita, etc.);
Para apimentar o cenário, o mês de Setembro promete ser crítico. A troika irá a Atenas fazer a avaliação de desempenho do governo na aplicação dos programas de resgate em curso e em fase de implementação. A instabilidade política e social em que a Grécia está mergulhada faz temer a obtenção de resultados aquém dos desejados pelos credores, com efeitos negativos na evolução da crise europeia;
Na Alemanha, a Chanceler Merkel enfrenta uma resiliente frente de forças políticas e de individualidades da coligação que lidera (CDU/FDP) que discordam abertamente dos acordos pró-resgate por ela validados em Bruxelas. O regresso de férias dos deputados do Bundestag promete acessos debates.
Conhecida a sua propensão para o “nim”, bem como para protelar até ao limite decisões urgentes, a senhora Merkel poderá viver dias difíceis e voltar a dar sinais errados aos mercados de dívida. Qualquer sinal de instabilidade e de laisser-faire dado pela Alemanha pode complicar ainda mais as já ténues possibilidades de controlo da situação;
Também em Setembro, algumas “cajas de ahorros” espanholas irão ao mercado tentar obter empréstimos. Num cenário de eleições antecipadas, de escalada dos juros da dívida soberana e de insuficientes taxas de crescimento económico, para além de uma elevada taxa de desemprego (superior a 20%), este segmento da banca espanhola terá uma missão espinhosa e de resultados duvidosos;
Se, como tudo indica, nada de enérgico e proactivo for feito, em Agosto, pelos líderes europeus que ditam as políticas da UE – Merkel e Sarkozy - chegaremos a Setembro com uma situação mais degradada. Talvez irremediavelmente…
Nesse caso, e se persistirem os ataques especulativos contra as dívidas espanhola e italiana, com uma insustentável subida das taxas de juro e dos CDS, o último trimestre promete ser um osso duro de roer.
Neste momento, ninguém, do BCE ao FMI, passando por outras instituições de idêntico calibre, dispõe de recursos para resgatar financeiramente países como a Espanha e a Itália. Se tal for imperativo, como vão os mandantes da economia mundial resolver o problema?
A resposta é simples. Ninguém sabe. Nem eles…
PVC, Consultor
A bolsa nova-iorquina interrompeu ontem um ciclo de quedas consecutivas, ao fechar com valorizações de mais de quatro por cento nos principais índices. Pouco antes do fecho da sessão, aconteceu a repentina valorização após a Reserva Federal (Fed) norte-americana ter anunciado que manterá as taxas de juro de referência próximas de zero por mais dois anos.
Entre os índices de referência, o Nasdaq Composite Index, que agrega empresas de base tecnológica, foi o que mais disparou: 5,295 por cento (para 2,482.520 pontos). O índice Standard and Poor’s 500 Index cresceu 4,741 por cento (para 1,172.530 pontos) e o industrial Dow Jones avançou 3,977 por cento (para 11,239.770 pontos).
Porém, o dia foi marcado por uma acentuada volatilidade nas bolsas europeias e norte-americanas. Wall Street abriu positiva, mas o disparo só foi visível no final da sessão, após o anúncio do Fed.
Imediatamente a seguir à divulgação da notícia, os mercados reagiram com apetite pelo risco. O Nasdaq subia pouco mais de um por cento, o índice S&P 500 valorizava 0,2 por cento e o Dow estava em terreno negativo. Os minutos finais da sessão foram determinantes para a recuperação.
Mas a recuperação de ontem será de curta ou de média duração? Em nossa opinião, os fundamentais das economias nacionais e das empresas cotadas nas bolsas dos dois lados do Atlântico não enganam: estamos na antecâmara de uma nova fase da crise sistémica de que temos vindo a falar, desde 2007 (ver exemplos aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, ou aqui).
Contrariamente à reacção de ontem das bolsas norte-americanas, outras praças indicam que entraram no território dos mercados recessivos (bear market). Em Londres, o índice de referência FTSE 100 recuou 20%, desde Fevereiro. De 6091 pontos escorregou para 4855 pontos. O mesmo aconteceu em Hong Kong. O índice Hang Seng recuou 23% desde o último máximo, registado em 8 de Novembro passado. Idêntica situação aconteceu na brasileira Bovespa (-31%). Por outro lado, refira-se que o entusiasmo de ontem nas praças americanas está ensombrado pela acelarada perda de 18% nas cotações do índice S&P 500 registada nos últimos meses…
A decisão da agência de rating Standard & Poor´s de baixar a notação da dívida norte-americana de AAA para Aaa, na sexta-feira, na sequência do recente aumento, pelo Congresso, do tecto da dívida federal acima da fasquia de USD 14,3 trillion, apesar de ter precipitado a presente situação, é apenas mais um episódio do colossal descontrolo financeiro norte-americano. A crise não está controlada. Longe disso.
A decisão do Fed agora anunciada de manter as taxas de juro próximas de zero até 2013 é tudo menos uma boa notícia. Dinheiro fácil e escandalosamente barato é mau conselheiro. É um viveiro de bolhas especulativas. Das dotcom às hipotecas subprime insistimos em trilhar um caminho perigoso. De bolha em bolha até à definitiva implosão do sistema financeiro global. Sem pretendermos ser exaustivos, propomos uma olhada sobre os sinais. Alguns têm tanto de elucidativos como de preocupantes:
Na bolsa de futuros Comex, após o anúncio do Fed, as posições relativamente aos contratos de ouro subiram 1,8%, fixando-se no novo recorde histórico de 1740 dólares a onça;
O banco J.P. Morgan emitiu ontem uma nota segundo a qual a cotação do ouro deverá atingir os 2500 dólares a onça até ao final do ano, enquanto o Goldman Sachs prevê que esteja nos 1730 dólares dentro de seis meses e nos 1900 dólares dentro de 12 meses;
O metal amarelo prossegue a sua escalada enquanto activo à prova de crises. Continua a ser o refúgio mais seguro que o dinheiro pode comprar nos tempos que correm. Esta opinião é partilhada por alguns governadores de importantes bancos emissores;
Nos dois últimos meses, o banco central da Coreia do Sul comprou 25 toneladas de ouro, aumentando em 17 vezes as suas reservas de metal amarelo. No mesmo período, também o banco central da Tailândia aumentou as suas reservas de ouro em 15,5%, tendo passado de 3523 milhões de onças, em Maio, para 4,07 milhões, em Junho. No princípio do ano, a Tailândia já adquirira 9,3 toneladas de ouro. A Rússia comprou 41,8 toneladas e o México 99,2 toneladas. A China anunciou no início do ano que pretende, até 2020, aumentar drasticamente as suas reservas de ouro. Das actuais 1054 toneladas quer chegar às 8-10 mil toneladas;
Os juros implícitos (yield) dos títulos dos EUA a dez anos baixaram de 2,32% para 2,28%, entre segunda e terça-feira;
Até agora, perante a visível deterioração do clima económico nos sete países mais industrializados (G7) e a profunda crise das dívidas soberanas europeias, a maioria dos investidores e especuladores comprava, devido ao risco quase inexistente, títulos do tesouro americano na expectativa de que se valorizassem. Porém, se em vez disso eles se depreciarem, como já está a acontecer, tal pode significar que a bolha do mercado das obrigações norte-americanas está prestes a rebentar. As consequências serão trágicas para a economia global;
Desde 24 de Julho, o pânico generalizado em todos os mercados mundiais gerou perdas globais de USD 8,1 trillion (mais de metade do PIB dos EUA). Este valor corresponde a 14,8% da capitalização bolsista do mundo;
Em apenas cinco anos (2008-2012), o montante das obrigações de dívida vencidas, emitidas pelo Tesouro norte-americano, atingirá o gigantesco volume de USD 5,6 trillion. A totalidade do crescimento da dívida do país, entre 1776 (ano da declaração de independência) e 2008, foi de 4,6 trillion. Obama vai ultrapassar em apenas cinco anos o que o conjunto dos seus 43 antecessores fez em… 232 anos!!!
O custo global das ajudas financeiras aos bancos e empresas financeiras dos EUA e da Europa, desde 2008, na realidade, ascende a quase USD 24 trillion, segundo a estimativa de Neil Barofsky, o inspector-geral do TARP (Troubled Asset Relief Program), o mega programa de resgate aprovado pela administração Bush e continuado pela administração Obama. Se compararmos este número com o do défice reconhecido pelo Tesouro (USD 14,7 trillion) ficamos com uma ideia mais realista da enormidade dos problemas a resolver quando for apresentada a factura para liquidação;
Se tivermos em conta que o rácio dívida/PIB da Grécia já atingiu os 150%, e que os EUA estão a caminho de ultrapassar rapidamente a psicológica barreira dos 100%, as perspectivas para o biénio 2012-2013 são ainda mais negras. Os efeitos sobre a evolução do crescimento e do emprego serão devastadoras. Também o dólar, enquanto reserva cambial mundial, terá o seu canto do cisne;
E o que nos reserva a Europa dos 17 (Zona Euro), ou dos 27 (UE)? Será que o sonho europeu, idealizado nos anos 50 pelo eixo Bona-Paris, poderá, meio século depois, vir a transformar-se no pesadelo do eixo Berlim-Paris? A prazo é bem possível. Para já, é avisado estarmos preparados para o pior (desintegração da UE e fim do euro).
Os altos dirigentes dos países membros mais ricos e a elite dos eurocratas têm pautado a sua actuação pela incapacidade de gerar consensos, de elaborar discursos coerentes, de afirmar um projecto europeu credível e sustentável e de ter a noção dos timings certos para agir.
Se no debate sobre a subida do tecto da dívida federal, os congressistas norte-americanos e o Presidente Obama deram aquele risível espectáculo de marcar o golo (chegar a acordo) no período de descontos (praticamente no fim do prazo), o que dizer dos líderes europeus? Com os sucessivos avanços e recuos e os constantes desmentidos das promessas feitas na véspera, uns e outros colocaram a Europa a jeito da voracidade vampírica dos mercados (leia-se especuladores).
O que ontem era uma simples apendicite grega, passou hoje a ser um desconfortável pólipo luso-irlandês, o qual, num futuro próximo, ameaça evoluir para um fatal carcinoma hispano-italiano.
Deste lado do Atlântico, os meteorologistas da política e do dinheiro têm o dedo no botão de alerta de tsunami, atentos a alguns sinais dos chamados “mercados”:
Um editorialista do Financial Times escreveu ontem que o futuro da Europa depende da qualidade da defesa da Espanha e da Itália pelo triunvirato UE/BCE/FMI.
Embora Madrid tenha apresentado “bons resultados” no combate ao défice e na flexibilização do mercado de trabalho, o articulista elege como positivo o facto de registar um superávit primário e de os seus empréstimos terem maturidades confortáveis. Como aspecto negativo é sublinhado o elevado peso da dívida (a terceira maior da Zona Euro), as tímidas medidas de combate ao défice e a crónica incapacidade do governo Berlusconi para fazer crescer a economia, melhorar a capacidade competitiva e combater o excesso de burocracia;
Esta análise, em nossa opinião, peca por benigna já que passa ao lado de uma variável essencial da equação – a estratégia dos especuladores e as ferramentas de que dispõem para desestabilizar qualquer economia ou moeda, independentemente do seu peso e dimensão;
A manipulação pelos especuladores (privados e institucionais) de instrumentos derivativos, designadamente os famigerados seguros de incumprimento financeiro – Credit Default Swaps (CDS) -, levou à falência do banco Lehman Brothers, à nacionalização da seguradora AIG, à insolvência da Islândia e a severas crises cambiais nos anos 90 que atiraram para as cordas as moedas da Rússia, da Malásia, da Coreia do Sul, do México e por aí fora;
Ninguém sabe ao certo qual o montante global dos tóxicos CDS que infectam os balanços de sonantes nomes da banca europeia – do germânico Deutsche Bank, ao britânico Barclays, ao francês Paribas, passando pelo espanhol Santander e pelo italiano Unicredit – mas diversos especialistas dividem-se entre estimativas estratosféricas (trillions ou quadrillions);
Certo é que, contrariamente ao que tem sido vertido em muitas páginas de jornais e revistas especializadas, existe o perigo real de um ou mais bancos europeus de grande dimensão poderem vir a ser atacados pelo vírus Lehman Brothers. Quando chegar a hora, lembrem-se de trautear “Don’t cry for me Argentina”;
A França, para alguns inesperada e injustamente, está na berlinda desde sexta-feira, dia em que a S&P despromoveu a qualidade da dívida norte-americana. Comparativamente a outros países com notações triple A, os juros implícitos, os CDS e os níveis do défice que afectam a economia gaulesa são variáveis consideradas excessivas pelas maiores agências de rating;
Na próxima sexta-feira, a França publicará dados estatísticos sobre o crescimento da economia no segundo trimestre. A generalidade dos analistas prevê números desanimadores da ordem dos 0,2%, ou seja 0,7% abaixo do valor registado no primeiro trimestre;
Caso se confirmem as previsões, as campainhas de alarme alertarão para a dificuldade de a França conseguir, em 2013, atingir a prometida meta de reduzir o actual défice (7,15% do PIB) para menos de 3%;
O facto de os CDS sobre a dívida francesa serem superiores aos pagos pelos compradores de dívida emitida pelas autoridades do Peru, Indonésia, África do Sul e da República Eslovaca é motivo de preocupação não apenas para o governo francês. As lideranças da UE, do BCE e do FMI receiam que a equacionável perda pela França da notação AAA possa pôr em causa toda a arquitectura do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) e inviabilizar futuros resgates;
De resto, os recursos do FEEF (750 mil milhões de euros) são considerados insuficientes para fazer face às necessidades prováveis dos resgates. Chegam para atender o conjunto dos actuais três “clientes” – Grécia, Irlanda e Portugal e eventualmente de Chipre. Caso a Espanha ou a Itália sejam forçadas a usá-lo precisaria de ser generosamente recapitalizado. De resto, há mesmo quem pense que o resgate da terceira e da quarta economias da UE, a Itália e a Espanha respectivamente, necessitaria de um novo Plano Marshall, mas agora com a inclusão dos países emergentes do G20 (China, Índia, Brasil, Arábia Saudita, etc.);
Para apimentar o cenário, o mês de Setembro promete ser crítico. A troika irá a Atenas fazer a avaliação de desempenho do governo na aplicação dos programas de resgate em curso e em fase de implementação. A instabilidade política e social em que a Grécia está mergulhada faz temer a obtenção de resultados aquém dos desejados pelos credores, com efeitos negativos na evolução da crise europeia;
Na Alemanha, a Chanceler Merkel enfrenta uma resiliente frente de forças políticas e de individualidades da coligação que lidera (CDU/FDP) que discordam abertamente dos acordos pró-resgate por ela validados em Bruxelas. O regresso de férias dos deputados do Bundestag promete acessos debates.
Conhecida a sua propensão para o “nim”, bem como para protelar até ao limite decisões urgentes, a senhora Merkel poderá viver dias difíceis e voltar a dar sinais errados aos mercados de dívida. Qualquer sinal de instabilidade e de laisser-faire dado pela Alemanha pode complicar ainda mais as já ténues possibilidades de controlo da situação;
Também em Setembro, algumas “cajas de ahorros” espanholas irão ao mercado tentar obter empréstimos. Num cenário de eleições antecipadas, de escalada dos juros da dívida soberana e de insuficientes taxas de crescimento económico, para além de uma elevada taxa de desemprego (superior a 20%), este segmento da banca espanhola terá uma missão espinhosa e de resultados duvidosos;
Se, como tudo indica, nada de enérgico e proactivo for feito, em Agosto, pelos líderes europeus que ditam as políticas da UE – Merkel e Sarkozy - chegaremos a Setembro com uma situação mais degradada. Talvez irremediavelmente…
Nesse caso, e se persistirem os ataques especulativos contra as dívidas espanhola e italiana, com uma insustentável subida das taxas de juro e dos CDS, o último trimestre promete ser um osso duro de roer.
Neste momento, ninguém, do BCE ao FMI, passando por outras instituições de idêntico calibre, dispõe de recursos para resgatar financeiramente países como a Espanha e a Itália. Se tal for imperativo, como vão os mandantes da economia mundial resolver o problema?
A resposta é simples. Ninguém sabe. Nem eles…
PVC, Consultor
11 Comments:
Dá-lhe a cana e ensina-o a pescar e não pescar por ele. O que quero dizer é que alguns países europeus, nomeadamente a Alemanha, nada fizeram antes de tudo acontecer. E pergunto porquê? Porque tinham intersse em que alguns países se afundassem. Quando deveriam ter colocado travão ao consumo e financiamento desenfreado não o fizeram. Por isso, não venham agora armados em moralistas. A culpa é Portuguesa?! É, mas não admito que venham agora alguns países armados em salvadores da pátria quando o telhado deles é de vidro. Vamos trabalhar para que no futuro não volte a acontecer. Agora aceitar falsos moralismos, da minha parte nem pensar. Tenho
Quem perceber um pouco do funcionamento dos mercados, fácilmente chegará à conclusão de que a altura para fazer testes de stress é péssima. É o mesmo que ter uma lareira em início de fogo e deitar-lhe mais achas para a fogueira. Em tempo de vacas gordas é que se deve implementar este tipo de medidas. É só olhar para os fundamentos económicos (quem perceber) e verificar que esta é sem sombra de dúvidas a pior altura. A Alemanha está a conduzir a Europa ao abismo e ninguém a trava. Não há liderança na Europa e o Durão Barroso revelou-se uma autêntica marioneta nas mãos da Merkel e do Sarkozy.
Aqui há trinta anos atrás, um "reles" operário, ganhava oito contos por mês. 40 euros. Atestava-se um carro com 100 escudos. 50 centimos. Hoje, o tal operário, ganha cerca de 800 euros. Vinte vezes mais. Atesta-se um carro com 60 euros. Cento e tal vezes mais ... Decerto que as fortunas hoje tamabém crescem muito mais ... Somos tótós ao ponto de nos esquecer-mos disto ???? Ainda ninguém reparou que estamos a ser sugados pelos chamados "mercados" ??
Desculpem a minha ignorância. Os "mercados", afinal quem são?? Toda a gente deve dinheiro, mas não sabemos a quem. Vai na volta, até é ao Irão, à Coreia do Norte... Pois... Até os americanos, segundo se consta, devem rios de dinheiro à China. Não acham estranho ???? E já viram, da parte deste governo, ou até da "europa", alguma medida para pôr as pessoas a trabalhar ?? Passamos a vida a falar de "mercados",da bolsa, é uma tristeza...
Desculpem a minha ignorância. Os "mercados", afinal quem são?? Toda a gente deve dinheiro, mas não sabemos a quem. Vai na volta, até é ao Irão, à Coreia do Norte... Pois... Até os americanos, segundo se consta, devem rios de dinheiro à China. Não acham estranho ???? E já viram, da parte deste governo, ou até da "europa", alguma medida para pôr as pessoas a trabalhar ?? Passamos a vida a falar de "mercados",da bolsa, é uma tristeza...
Como é que de dirigentes politicos que assumem a incapacidade do Estado quando intervem na economia e a absoluta eficácia do funcionamento dos mercados, se pode esperar soluções para a crise provocada pelos mercados?
Bem podem prémios Nóbel da economia, dizer o que dizem, os politicos dependem dos seus eleitores, que dependem da opinião pública, que é controlada pela comunicação social, por sua vez e finalmente é um instrumento de interesses económicos ligadas ao mercado e em que o Estado foi, é, e será sempre o inútil cobrador de impostos.
Dos teddy-boys, dos moods. dos hell-angels, até dos hooligans da bola, havia como que ética própria da violência só se metia nela quem queria e de um modo geral ninguém era chateado se estivesse de fora. Agora as sociedades abanam com uns ladrõezinhos incendiários cuja maioria nem ainda sabe limpar o rabo como diziam os meus avós... mas que roubam como gente grande. Não sei porquê fazem-me lembrara democracia nacional pós 24 e o respectivo fisco que convoca os pobres sob ameaça de coima a provar porque é que paga tão poucos impostos ou nenhuns - é verdade - uma desgraça... E Lisboa quando começa a arder???
Dos teddy-boys, dos moods. dos hell-angels, até dos hooligans da bola, havia como que ética própria da violência só se metia nela quem queria e de um modo geral ninguém era chateado se estivesse de fora. Agora as sociedades abanam com uns ladrõezinhos incendiários cuja maioria nem ainda sabe limpar o rabo como diziam os meus avós... mas que roubam como gente grande. Não sei porquê fazem-me lembrara democracia nacional pós 24 e o respectivo fisco que convoca os pobres sob ameaça de coima a provar porque é que paga tão poucos impostos ou nenhuns - é verdade - uma desgraça... E Lisboa quando começa a arder???
Não há nada, mas mesmo nada, que justifique ou sequer remotamente legitime a barbarie a que se tem assistido no Reino Unido.
Este tipo de abordagem politicamente correcta e desculpabilizante sobre os que se sentem excluidos é uma tentativa de branquear actos de vandalismo e banditismo que deveriam ser unanimemente e vigorosamente condenadas, sem quaisquer argumentos de partilha de culpas.
Quem ataca lojas e queima autocarros nas ruas inglesas não são os jovens licenciados sem emprego, nem os pais de familia desesperados por não conseguirem alimentar os filhos. São bandidos auto-excluidos de uma sociedade onde só vêem direitos e nenhuns deveres, são vandalos entusiasmados a destruir riqueza e vidas alheias.
Em condições normais este tipo de comportamentos seria imediatamente e vigorosamente reprimido, mas há muitos decisores com o mesmo complexo politicamente correcto de HG, com medo dos títulos do jornais e das acusações de racismo ou de xenofobia, mesmo que, como foi o caso que despoletou tudo isto, estas fossem injustificadas.
E que tem contornos de verdadeira imoralidade, uma vez que penaliza os mais pobres pelos desmandos dos mais ricos, já toda a gente percebeu.
As sementes de violência estão latentes, resta saber até que ponto estão as pessoas dispostas a ser humilhadas na obrigação de suportar através dos seus impostos os lucros dos accionistas dos bancos.
Se esse limite for ultrapassado, e todos desejamos que o não seja, as revolta social pode ser explosiva e mergulhar a Europa no caos.
O paradigma neoliberal não vai simplesmente deixar-se substituir por outro, como acontece aos princípios teóricos, parece estar a determinado a implodir e a levar com ele anos de compromisso civilizacional construído sobre o sangue derramado na II GG.
Imaginem ver os comunistas, entre eles a justificarem a queda do Muro de Berlim na comunicação social.
É exactamente o que assistimos nesta comunicação social dominada pela cegueira dos fundamentalistas liberais.
Como podem ver o fim do que sempre acreditaram ou pela conveniencia de "agradar ao patrão" sempre defenderam?
Isto é apenas uma análise não se abespinhem, pensem, mas pensar gasta um pouco de energia...
Aqui não há clubes há interesses.
Toupeira
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