O último a sair paga a luz
"Quando o ministro da Economia se diz disposto a "estudar" a criação de portagens para todos os automóveis que entram nas grandes cidades, não se percebe se o objectivo é aumentar a receita ou reduzir a despesa. Assim de repente, parece que estamos perante a primeira hipótese. Mas se atendermos à quantidade de motoristas nomeados a fim de conduzir os governantes e respectivas degenerescências (onze apenas no gabinete do dr. Passos Coelho), não devemos afastar a segunda hipótese: talvez esta seja a forma de o Governo mostrar arrependimento pelo exagero nos choferes e, sendo demasiado humano para despedi-los agora, é suficientemente rigoroso para os manter quietinhos daqui em diante.
Brinco um bocadinho. O dr. Santos Pereira brinca imenso. Custa levar a sério a ideia e principalmente a comparação entre as eventuais taxas de entrada em Lisboa e no Porto e o exemplo, que o ministro não rejeitou, de Londres. Londres possui um sistema de metropolitano que serve na perfeição a área urbana (e boa parte da suburbana) e gera défices que os ingleses acham difíceis de suportar; as nossas duas principais cidades possuem umas linhas mancas cujo prejuízo é impossível de suportar. A criação das portagens enriqueceria anualmente o Estado em cerca de cem milhões ou, na versão desalmadamente optimista, 200 milhões de euros; só o prejuízo anual do pequenino Metro do Porto chega aos 244 milhões (dados de 2010). A larga maioria dos automobilistas que frequentam Lisboa e Porto já paga portagens; retirar à minoria as alternativas rodoviárias significaria um voto de confiança nos ruinosos transportes públicos e nos grevistas dos transportes públicos, que beneficiariam de ainda maior capacidade para transtornar a vida de quem trabalha.
O problema, porém, não são as portagens, as quais, no caso em apreço e ao contrário do que o dr. Santos Pereira julga, resultam de decisão autárquica e não da vontade do poder central. O problema é um Governo que alimentou a fama de "liberal" e se limita ao proveito açambarcador de sempre. O problema são as promessas de frugalidade dos que mandam serem exclusivamente cumpridas nos hábitos dos que obedecem. O problema é o discurso de uma sociedade emancipada acabar diariamente negado pelo Estado interventivo da praxe. O problema é a dificuldade em apurar se tudo isto advém de óptimas intenções condenadas pelo desnorte ou de má fé mascarada de reformismo. O problema é os cidadãos começarem a suspeitar de que os sacrifícios que se lhes exigem não têm contrapartida, que a prazo nada importará nada e que, de facto, do poço a que o País desceu não há saída. Excepto a saída do País.
Por este andar, se o Governo quiser realmente extorquir o que resta aos portugueses, a solução passará por taxar a zona de partidas dos aeroportos. A de chegadas não justifica a maçada. "
Alberto Gonçalves
Brinco um bocadinho. O dr. Santos Pereira brinca imenso. Custa levar a sério a ideia e principalmente a comparação entre as eventuais taxas de entrada em Lisboa e no Porto e o exemplo, que o ministro não rejeitou, de Londres. Londres possui um sistema de metropolitano que serve na perfeição a área urbana (e boa parte da suburbana) e gera défices que os ingleses acham difíceis de suportar; as nossas duas principais cidades possuem umas linhas mancas cujo prejuízo é impossível de suportar. A criação das portagens enriqueceria anualmente o Estado em cerca de cem milhões ou, na versão desalmadamente optimista, 200 milhões de euros; só o prejuízo anual do pequenino Metro do Porto chega aos 244 milhões (dados de 2010). A larga maioria dos automobilistas que frequentam Lisboa e Porto já paga portagens; retirar à minoria as alternativas rodoviárias significaria um voto de confiança nos ruinosos transportes públicos e nos grevistas dos transportes públicos, que beneficiariam de ainda maior capacidade para transtornar a vida de quem trabalha.
O problema, porém, não são as portagens, as quais, no caso em apreço e ao contrário do que o dr. Santos Pereira julga, resultam de decisão autárquica e não da vontade do poder central. O problema é um Governo que alimentou a fama de "liberal" e se limita ao proveito açambarcador de sempre. O problema são as promessas de frugalidade dos que mandam serem exclusivamente cumpridas nos hábitos dos que obedecem. O problema é o discurso de uma sociedade emancipada acabar diariamente negado pelo Estado interventivo da praxe. O problema é a dificuldade em apurar se tudo isto advém de óptimas intenções condenadas pelo desnorte ou de má fé mascarada de reformismo. O problema é os cidadãos começarem a suspeitar de que os sacrifícios que se lhes exigem não têm contrapartida, que a prazo nada importará nada e que, de facto, do poço a que o País desceu não há saída. Excepto a saída do País.
Por este andar, se o Governo quiser realmente extorquir o que resta aos portugueses, a solução passará por taxar a zona de partidas dos aeroportos. A de chegadas não justifica a maçada. "
Alberto Gonçalves
2 Comments:
Os alemães são caloteiros e além disso acham que são melhores que os povos do sul, ora vejam e confirmem...
Historiador Albrecht Ritschl considera Alemanha "rainha das dívidas"
PARA QUE O TEMPO NÃO APAGUE DA MEMÓRIA:
Alemanha "rainha das dívidas"
O historiador Albrecht Ritschl evoca hoje em entrevista ao site de Der Spiegel vários momentos na História do século XX em que a Alemanha equilibrou as suas contas à custa de generosas injecções de capital norte-americano ou do cancelamento de dívidas astronómicas, suportadas por grandes e pequenos países credores.
Ritschl começa por lembrar que a República de Weimar viveu entre 1924 e 1929 a pagar com empréstimos norte-americanos as reparações de guerra a que ficara condenada pelo Tratado de Versalhes, após a derrota sofrida na Primeira Grande Guerra. Como a crise de 1931, decorrente do crash bolsista de 1929, impediu o pagamento desses empréstimos, foram os EUA a arcar com os custos das reparações.
A Guerra Fria cancela a dívida alemã
Depois da Segunda Guerra Mundial, os EUA anteciparam-se e impediram que fossem exigidas à Alemanha reparações de guerra tão avultadas como o foram em Versalhes. Quase tudo ficou adiado até ao dia de uma eventual reunificação alemã. E, lembra Ritschl, isso significou que os trabalhadores escravizados pelo nazismo não foram compensados e que a maioria dos países europeus se viu obrigada a renunciar às indemnizações que lhe correspondiam devido à ocupação alemã.
No caso da Grécia, essa renúncia foi imposta por uma sangrenta guerra civil, ganha pelas forças pró-ocidentais já no contexto da Guerra Fria. Por muito que a Alemanha de Konrad Adenauer e Ludwig Ehrard tivesse recusado pagar indemnizações à Grécia, teria sempre à perna a reivindicação desse pagamento se não fosse por a esquerda grega ficar silenciada na sequência da guerra civil.
À pergunta do entrevistador, pressupondo a importância da primeira ajuda à Grécia, no valor de 110 mil milhões de euros, e da segunda, em valor semelhante, contrapõe Ritschl a perspetiva histórica: essas somas são peanuts ao lado do incumprimento alemão dos anos 30, apenas comparável aos custos que teve para os EUA a crise do subprime em 2008. A gravidade da crise grega, acrescenta o especialista em História económica, não reside tanto no volume da ajuda requerida pelo pequeno país, como no risco de contágio a outros países europeus.
Tiram-nos tudo - "até a camisa"
Ritschl lembra também que em 1953 os próprios EUA cancelaram uma parte substancial da dívida alemã - um haircut, segundo a moderna expressão, que reduziu a abundante cabeleira "afro" da potência devedora a uma reluzente careca. E o resultado paradoxal foi exonerar a Alemanha dos custos da guerra que tinha causado, e deixá-los aos países vítimas da ocupação.
E, finalmente, também em 1990 a Alemanha passou um calote aos seus credores, quando o chanceler Helmut Kohl decidiu ignorar o tal acordo que remetia para o dia da reunificação alemã os pagamentos devidos pela guerra. É que isso era fácil de prometer enquanto a reunificação parecia música de um futuro distante, mas difícil de cumprir quando chegasse o dia. E tinha chegado.
Ritschl conclui aconselhando os bancos alemães credores da Grécia a moderarem a sua sofreguidão cobradora, não só porque a Alemanha vive de exportações e uma crise contagiosa a arrastaria igualmente para a ruína, mas também porque o calote da Segunda Guerra Mundial, afirma, vive na memória colectiva do povo grego. Uma atitude de cobrança implacável das dívidas actuais não deixaria, segundo o historiador, de reanimar em retaliação as velhas reivindicações congeladas, da Grécia e doutros países e, nesse caso, "despojar-nos-ão de tudo, até da camisa".
Toupeira
Podem publicar eu não consigo.
Mas mostra que muitos dos que aqui são publicados conhece pouco da história alemã. Não se esqueçam que a Alemnha é uma República Federal e um Bávaro é um Bávaro.
Toupeira
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