quinta-feira, agosto 04, 2011

Tiros certeiros no coração socialista

"Os Estados Unidos estão como estão. Uma desgraça, com o presidente Obama numa situação crítica perante o seu eleitorado depois do acordo desesperado com os republicanos para evitar o incumprimento da ainda maior potência do mundo. A Europa, como se vê, mesmo depois das decisões do último Conselho Europeu, está mergulhada num caos absoluto. Depois da Grécia, da Irlanda e de Portugal, aparecem a Espanha, Itália e Chipre na primeira linha da implosão. Com uma certeza. Não há dinheiro para resgatar espanhóis e italianos. Em Madrid, Zapatero adiou as férias na Andaluzia e está em contacto permanente com o rei e o líder do Partido Popular. Em Roma, o governo de Berlusconi criou uma gabinete de crise para acompanhar a evolução dos mercados. A catástrofe está iminente e as sirenes de alarme tocam em todas as capitais. É neste contexto de pré-guerra que vale a pena olhar para o que se passa em Portugal.

O plano de ajuda internacional vai dando os primeiros passos, o governo esforça-se por cumprir religiosamente o Memorando de entendimento, promete aqui e ali ir mais além, mas ninguém ignora que pode ir tudo por água a baixo num abrir e fechar de olhos. A situação, como se percebe, é gravíssima e não vale a pena andar com optimismos bacocos a tentar iludir uma realidade cada vez mais negra. O que vale a pena é ir fazendo o trabalho de casa e começar a limpar a administração pública de tudo o que não é estritamente necessário, incluindo os muitos vícios instalados e a terrível tentação de gastar a torto e a direito o dinheiro dos contribuintes. Por isso mesmo, foi muito pedagógica a presença do ministro da Economia numa comissão parlamentar. Sem papas na língua, Álvaro Santos Pereira deu conta aos deputados do que encontrou no ministério.

Um cenário de ostentação, com carros de alta gama, gabinetes pejados de gente, tudo à grande e à francesa, como se a ordem fosse rica e tivesse poucos frades aos serviço. Uma vergonha de todo o tamanho denunciada pelo ministro, olhos nos olhos com os deputados socialistas, alguns dos quais responsáveis pela desbunda. Numa situação normal, num país normal, com pessoas normais, com políticos normais, a denúncia da ostentação, das ruinosas parcerias público-privadas e o descalabro absoluto das contas das empresas públicas de transportes faria qualquer um corar de vergonha e, no mínimo, pedir humildemente desculpa aos cidadãos pelos desmandos praticados ao longo de seis anos de governação. Mas como Portugal é um país muito original, com gente original, políticos originais e uma justiça ainda mais original, os senhores e senhoras que estavam sentados na tal comissão parlamentar fartaram-se de gozar com as denúncias do ministro Álvaro Santos Pereira.

Riam-se alarvemente com os popós, os caríssimos leasings, a multidão de pessoal contratado e com todo o rol de misérias que eram atiradas para cima da mesa. O povo costuma dizer que o último a rir é o que ri melhor. Importa por isso não ter dó nem piedade na denúncia destas situações. E, já agora, não cair na tentação que levou o PS à miséria
."

António Ribeiro Ferreira

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