quarta-feira, outubro 26, 2011

É o dobro ou nada

"Estamos todos fartos de "cimeiras decisivas". Do "desta é que é porque desta é que tem de ser". Mas a verdade é essa: a ampulheta do euro está a ficar sem areia. A paralisia política está a condenar a União e os seus Estados.

A cada mês que passa, os mercados vão-se fechando. Os países da Zona Euro estão enclausurados num aquário que está a encher de água, cobrindo já os três países mais "baixos" e ameaçando outros. A Itália, que detém a terceira maior dívida do mundo; a França, cujo presidente já começa a entrar em pânico depois de medir tamanha exposição dos seus bancos a dívidas públicas em risco; a Espanha, que ontem pagou por empréstimos nos mercados taxas de 6% - o mesmo nível que Portugal pagava no final do ano passado...

Não faltam soluções técnicas. O Presidente Cavaco Silva já falou de uma, Jean Pisani-Ferry listou esta semana três formas de salvar o euro, George Soros enumerou sete passos para o mesmo efeito. O que falta é força política. É preciso que a chanceler Angela Merkel abra os cordões às bolsas alemãs. Mas não só. Angela Merkel não é em si o Diabo. O Diabo é a própria arquitectura comunitária, que se move rápida como uma preguiça e ágil como triciclo.

Acreditamos que o fim do euro é tão catastrófico para todos que essa percepção é suficiente para impelir os líderes europeus para uma solução "in extremis" que impeça o fim da moeda única. Mas hoje já falamos abertamente de frutos proibidos como reestruturação de dívida. O da Grécia está assumido. O de Portugal não está ainda em cima da mesa, mas já está debaixo dela.

A única solução é política. A forma financeira é apenas uma decorrência técnica dessa solução. E a solução política não é apenas decidida entre líderes de países, nem é passível de ser negociada numa cimeira. É o federalismo. É a construção dos Estados Unidos da Europa. E isso implica retirar autonomia, para não dizer soberania, aos Estados-membros. Por isso, caro leitor, perceba que a decisão não é apenas "deles", é sobretudo "nossa": estamos dispostos e empenhados numa solução gregária que afunile os poderes nacionais em macro-estruturas federais, assim esvaziando os parlamentos actuais?

A jornalista Eva Gaspar explica tudo: mais do que vontade política, falta mandato político. "Os Tratados actuais não foram feitos para fazer os Estados Unidos da Europa"; colocar o Banco Central Europeu como emprestador de último recurso não está previsto nos tratados actuais. Mas mudar os tratados demora tempo e exige o envolvimento dos cidadãos, que não têm sido cooperantes com o ideal europeu nos referendos. Se o Tratado Constitucional tivesse sido aprovado, muitos destes problemas estariam desatados. Mas foi rejeitado.

Só teremos euro se tivermos União Europeia e nos incluirmos nela, abdicando de redutos nacionais. É esta a parada neste momento: está alta. Não basta agarrar Merkel pelos colarinhos, é preciso "votar" na Federação que ela lideraria
."

Pedro Santos Guerreiro

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