sábado, janeiro 14, 2012

A grande loja irregular

"Parece que um tal Luís Montenegro, líder parlamentar do PSD e membro da Comissão Parlamentar que investiga as irregularidades no Serviço de Informações Estratégicas de Defesa, pertence a uma loja maçónica chamada Mozart (em honra do músico - Cosi Fan Tutte, não é? - ou dos bombons?). Parece que um tal Jorge Silva Carvalho, ex-director do SIED e alvo da investigação, pertence igualmente à referida loja, metida numa história de tráfico de segredos de Estado. Parece que o PSD, na versão do PS, ou que o PS, na versão do PSD, censuraram as referências à maçonaria num relatório sobre a matéria. Parece, por fim, que o aborrecido episódio suscitou um daqueles escândalos fátuos com que a pátria sazonalmente se entretém.

Eu também me confesso escandalizado, pelo menos com o facto de o público ainda se surpreender com duas ou três evidências, a saber: 1) a classe política nacional é, salvo escassas excepções, um entreposto de maçons ou folclóricos com propósitos no fundo similares (ver Opus Dei, sff); 2) à semelhança de qualquer sociedade relativamente secreta, a maçonaria é uma seita destinada a satisfazer interesses de facção, incluindo a obtenção de protecção e privilégio para os respectivos devotos; 3) os favores em questão, transaccionados em cauteloso recato, naturalmente constituem ou implicam a prática de irregularidades e puras ilicitudes.

Pouco democrático? Decerto. Mas a essência da coisa é essa. Ou se interditam as associações do género ou se aceitam as manhas que lhes estão na natureza. Eu opto pela tolerância. É verdade que os maçons violam jovialmente os princípios da ascensão pelo mérito e saltitam nas carreiras à custa da "fraternidade", cá fora conhecida como "cunha". Porém, as injustiças cometidas não escapam ao castigo devido, quiçá divino. De que adianta um indivíduo conseguir emprego, influência ou o que toma por "prestígio" se tamanhas maravilhas obrigam a sujeição a rituais grotescos? Prestígio nenhum resiste aos aventais, aos cordões, aos bodes e à pompa balofa que criaturas adultas passeiam com inconsciência. Cada benefício implica uma humilhação muito maior. Não admira que a seita favoreça a ocultação.

As milícias do velho Oeste americano herdaram a tradição inglesa de ridicularizar o próximo cobrindo-o de alcatrão, primeiro, e de penas, em seguida. Os maçons ridicularizam-se sozinhos e, ridículo supremo, nem sempre se apercebem. As últimas notícias dão conta de uma debandada de integrantes da loja Mozart por causa das penúltimas notícias. Talvez se mudem para a loja Haydn, talvez para a Mon Chéri. Do embaraçoso avental é que ninguém livra os pedreiros-livres
."

Alberto Gonçalves

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