segunda-feira, janeiro 23, 2012

O risco é um maçador

"A crise suscitou algumas reacções inesperadas, mas reveladoras. Por exemplo, há banqueiros que lamentam haver entidades que lhes devem dinheiro. E alguns até fazem beicinho porque, imagine-se, há quem não pague os empréstimos com que se comprometeu.

O mundo parece, assim, ter-se reunido para conspirar contra as instituições financeiras e quem as gere. O cenário é parecido com aquele que se verifica com as companhias seguradoras. Assumem a cobertura dos riscos mas, quando os sinistros acontecem, culpam a imprudência dos clientes ou a inclemência da Natureza.

Lá no fundo, há algo comum a estas atitudes e resume-se de forma simples. Não são os únicos, mas banqueiros, tal como seguradores, alimentam um ódio mal disfarçado pelo risco. Estão dispostos a financiar quem lhes solicita recursos desde que lhes pareça que a probabilidade de os créditos não serem pagos ser equivalente a zero.

Foi por este motivo que os grandes bancos portugueses se entretiveram a financiar o Estado e conceder financiamentos garantidos ou, em última análise, da responsabilidade dos cofres públicos, na convicção de que os contribuintes poderiam ser esfolados, em qualquer altura no futuro, para que os compromissos pudessem ser honrados.

Houve bancos a incentivar obras megalómanas e sem rendibilidade apenas porque acreditavam que a sua fatia do negócio estava garantida. Houve bancos a financiar um Estado que engordava muito para além dos limites razoáveis porque teorias delirantes disseminaram a ideia de que, integrado na Zona Euro, Portugal poderia contrair dívidas sem pensar no dia seguinte. E houve instituições financeiras que mantiveram a torneira aberta para empresas públicas e municipais, autarquias e regiões, além de não se fazerem rogados quando se tratou de alimentar as ambições das famílias de terem casa própria, carros e outros bens de consumo.

Durante anos, os bancos deitaram gasolina sobre a fogueira do endividamento e o incêndio cresceu até começar a queimar quem o alimentou. E, um dia, teria de acontecer. A espiral de endividamento, nos sectores público e privado, acabou por se virar contra os credores.

Os bancos travaram a fundo e procuram, agora, meios de se recapitalizarem e defenderem a sua solidez contra o crescimento do malparado, com o apoio do Estado, de novos investidores ou de ambos. Subitamente conscientes de que o risco não faz parte de uma tese académica carecida de prova, subiram "spreads" e comissões. Para quem queira comprar habitação a crédito, os custos subiram mais de 8% nos dois últimos anos.

Ser banqueiro pode ser óptimo, mas os devedores são um incómodo. E o risco é uma grande maçada
."

Joao Silva

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