Não a Keynes e Schumpeter
"No dia em que escrevo esta crónica entramos no quadragésimo segundo mês da era pós Lehman. Após quase três “lustros” de crescimento ininterrupto em Espanha e noutros países, regressámos no final de 2008 à inevitabilidade dos ciclos económicos.
Poucos se lembrarão neste momento, mas na altura prévia à queda do Lehman Brothers falava-se, com a autoridade conferida pelas estatísticas mais imediatas, do final dos ciclos. Eu sim, lembro-me do meu cepticismo perante essa confiança desmedida, suportado no meu pressuposto de que é a condição humana mais primária que nos leva sucessivamente da ganância ao pânico e do pânico à ganância à velocidade da tecnologia disponível em cada momento, o que subjaz realmente nas mudanças associadas aos ciclos económicos.
Mas o regresso a esta inevitabilidade dos ciclos económicos não foi instantâneo. Lembro-me de brincar, num primeiro instante, com a situação da banca e sugerir que, dada a maior cautela que as mulheres demonstram na gestão das economias, se em vez de Lehman Brothers tivesse sido Lehman Sisters ter-se-ia evitado o desastre. Uma vez realizada a gravidade da situação, procuramos receitas macroeconómicas tradicionais, no domínio do pensamento Keynesiano, como antídoto às receitas neoliberais dominantes na década anterior. Percebemos que a situação da banca privada poderia ter sido não um problema de má gestão mas sim de bons aldrabões e, a seguir, apelámos à moralidade e solvência das finanças públicas. Mas, oh surpresa!, as finanças públicas tinham descoberto a engenharia financeira nessa última década e estavam ainda em pior situação que os amorais banqueiros privados.
Descartado Keynes, apelámos ao pensamento Schumepeteriano. O problema passou da banca privada às finanças públicas e daí ao modelo económico.
A solução do problema passava mesmo pela desconstrução criativa dos modelos económicos para recompor as peças e criar um novo paradigma. Pensamento muito próprio dum final de época.
Mas estamos agora a nos capacitar que, para voltar ao crescimento, não podemos reaproveitar as peças do lego para a reconstrução que se deve seguir à tal desconstrução. Precisamos de peças novas: uma força de trabalho com formação diferente, gestores com a coragem que tão frequentemente nos falta, empreendedores com verdadeira vocação de risco, capitalistas com capital e um sistema financeiro que não se limite a bancos insolventes. Sem elas, não há crescimento económico possível e não há criação de meios para recompor as finanças públicas e privadas.
A solução, do meu ponto de vista, está em Darwin. Daqui a uns dias explico o porquê."
Xavier Rodríguez-Martín
Poucos se lembrarão neste momento, mas na altura prévia à queda do Lehman Brothers falava-se, com a autoridade conferida pelas estatísticas mais imediatas, do final dos ciclos. Eu sim, lembro-me do meu cepticismo perante essa confiança desmedida, suportado no meu pressuposto de que é a condição humana mais primária que nos leva sucessivamente da ganância ao pânico e do pânico à ganância à velocidade da tecnologia disponível em cada momento, o que subjaz realmente nas mudanças associadas aos ciclos económicos.
Mas o regresso a esta inevitabilidade dos ciclos económicos não foi instantâneo. Lembro-me de brincar, num primeiro instante, com a situação da banca e sugerir que, dada a maior cautela que as mulheres demonstram na gestão das economias, se em vez de Lehman Brothers tivesse sido Lehman Sisters ter-se-ia evitado o desastre. Uma vez realizada a gravidade da situação, procuramos receitas macroeconómicas tradicionais, no domínio do pensamento Keynesiano, como antídoto às receitas neoliberais dominantes na década anterior. Percebemos que a situação da banca privada poderia ter sido não um problema de má gestão mas sim de bons aldrabões e, a seguir, apelámos à moralidade e solvência das finanças públicas. Mas, oh surpresa!, as finanças públicas tinham descoberto a engenharia financeira nessa última década e estavam ainda em pior situação que os amorais banqueiros privados.
Descartado Keynes, apelámos ao pensamento Schumepeteriano. O problema passou da banca privada às finanças públicas e daí ao modelo económico.
A solução do problema passava mesmo pela desconstrução criativa dos modelos económicos para recompor as peças e criar um novo paradigma. Pensamento muito próprio dum final de época.
Mas estamos agora a nos capacitar que, para voltar ao crescimento, não podemos reaproveitar as peças do lego para a reconstrução que se deve seguir à tal desconstrução. Precisamos de peças novas: uma força de trabalho com formação diferente, gestores com a coragem que tão frequentemente nos falta, empreendedores com verdadeira vocação de risco, capitalistas com capital e um sistema financeiro que não se limite a bancos insolventes. Sem elas, não há crescimento económico possível e não há criação de meios para recompor as finanças públicas e privadas.
A solução, do meu ponto de vista, está em Darwin. Daqui a uns dias explico o porquê."
Xavier Rodríguez-Martín
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