“Perigosa corrida ao primeiro lugar”
"Nem os excedentes comerciais são sempre bons, nem os défices orçamentais são sempre maus. É desta forma que Wolfgang Münchau, colunista do Financial Times e jornalista alemão, começa a sua mais recente coluna de opinião na revista alemã Der Spiegel e na qual desanca a posição alemã em relação aos países mais frágeis da zona euro, como Portugal ou Grécia.
O autor, que há dez dias defendeu num artigo no Financial Times que Portugal e Grécia devem falir mas sem abandonarem o euro, argumenta desta vez que “o tema mais importante no debate do euro não é nem a Grécia nem quando é que esta vai deixar o euro. São os desequilíbrios do sector privado. Se o euro se afundar, será por causa deles”.
Num artigo intitulado “Perigosa corrida ao primeiro lugar”, Münchau lamenta que na Alemanha a questão dos desequilíbrios seja tão mal compreendida. “Por cá festejámos quando a Alemanha se tornou campeã mundial das exportações. Isoladamente, a palavra excedente soa-nos como algo bom, ao contrário de défice”, assinala Münchau. “Há um ano, quando se discutiu se a Alemanha deveria reduzir o seu excedente orçamental, economistas alemães compararam isto ao desporto: quando se é primeiro da Bundesliga (principal campeonato de futebol profissional alemão) não se pode melhorar a qualidade da competição passando a perder de propósito. Isso seria ferir a honra atlética do grande exportador mundial”, recorda o autor, que diz depois que “em vez de encontrar metáforas alternativas, gostaria de fazer três perguntas sobre excedentes”: “É moralmente correcto que o objectivo de um país seja o de gerar excedentes? Um excedente é economicamente mais benéfico? Uma união monetária pode viver com permanentes desequilíbrios estruturais?”
Respondendo à primeira questão, Münchau sustenta que “moralmente os excedentes não existem sozinhos”. “Se postularmos que ‘mais cinco’ é moralmente aceitável, então a conclusão lógica é que ‘menos cinco’ também tem de ser aceitável. Nem é preciso um imperativo categórico para aceitar isto. Lógica elementar e alguns conceitos económicos básicos são suficientes”, sublinha, concluindo: “Neste contexto, o desprezo moral pelo défice de alguns países é completamente inadequado.”
O artigo de Münchau foi publicado na quarta-feira e ganha nova actualidade nesta quinta-feira depois de a Comissão Europeia divulgar as suas previsões – que apontam para uma forte degradação das economias de Portugal, Grécia, além de outros seis países que estarão em recessão. Pelo contrário, a Alemanha irá manter-se em terreno positivo.
Estas assimetrias, considera Münchau, “estão profundamente enraizadas na política”. E invocando relatórios recentes da Comissão Europeia, frisa: “Os défices dos Estados do Sul têm sido criticados, ao passo que o excedente da Alemanha não.” Isso ficou bem patente quando, a 14 de Fevereiro, a Alemanha escapou à vigilância reforçada iniciada pela Comissão Europeia a doze países para averiguar se alguns desequilíbrios macroeconómicos emergentes ou já instalados poderão pôr em risco a estabilidade da zona euro. Bruxelas não incluiu o excedente comercial da Alemanha nos alertas, uma eventualidade defendida nalguns países mas que foi firmemente combatida por Berlim.
“O argumento dos ‘assimetristas’ é o de que o problema só pode ser resolvido com melhorias nos países deficitários. Ou seja, estamos de novo no domínio da Bundesliga, num campeonato desportivo: todos querem ser primeiro. O que conduz à segunda questão: os excedentes são do nosso interesse?”
“Um país tem um excedente em conta corrente quando – de forma simplificada – exporta mais do que aquilo que importa. Isso conduz, geralmente, a uma procura interna estruturalmente mais fraca, como sucedeu na Alemanha na década passada. Ora, se todos os países adoptassem o mesmo modelo, isso enfraqueceria os mercados de exportação da Alemanha. O resultado portanto não seria uma melhoria nos países endividados, mas um enfraquecimento geral de todos. No fundo, jogaríamos todos na segunda divisão”, continua o comentador, acrescentando ainda que “um excedente só é uma bênção se os devedores pagarem e se houver estabilidade no sistema financeiro”. “Na Bundesliga, isto funciona de outra maneira. O primeiro lugar é o primeiro lugar.”
Sobre a possibilidade de manter uma união monetária com desequilíbrios internos, Münchau defende a tese de que enquanto a banca funcionar, as assimetrias não têm graves consequências. O problema, afirma o autor, é que “na nossa união, os bancos desconfiam uns dos outros” e os “países do défice não têm qualquer incentivo para abaterem as suas dívidas dado que os bancos centrais financiam imparavelmente o défice do sector privado”, gerando-se assim uma dívida infinita que acabará por explodir algum dia. “É preciso notar que não estou a falar da dívida soberana, mas das dívidas do sector privado. Porque são estas que constituem o grosso dos desequilíbrios em conta corrente na zona euro”.
O autor, que há dez dias defendeu num artigo no Financial Times que Portugal e Grécia devem falir mas sem abandonarem o euro, argumenta desta vez que “o tema mais importante no debate do euro não é nem a Grécia nem quando é que esta vai deixar o euro. São os desequilíbrios do sector privado. Se o euro se afundar, será por causa deles”.
Num artigo intitulado “Perigosa corrida ao primeiro lugar”, Münchau lamenta que na Alemanha a questão dos desequilíbrios seja tão mal compreendida. “Por cá festejámos quando a Alemanha se tornou campeã mundial das exportações. Isoladamente, a palavra excedente soa-nos como algo bom, ao contrário de défice”, assinala Münchau. “Há um ano, quando se discutiu se a Alemanha deveria reduzir o seu excedente orçamental, economistas alemães compararam isto ao desporto: quando se é primeiro da Bundesliga (principal campeonato de futebol profissional alemão) não se pode melhorar a qualidade da competição passando a perder de propósito. Isso seria ferir a honra atlética do grande exportador mundial”, recorda o autor, que diz depois que “em vez de encontrar metáforas alternativas, gostaria de fazer três perguntas sobre excedentes”: “É moralmente correcto que o objectivo de um país seja o de gerar excedentes? Um excedente é economicamente mais benéfico? Uma união monetária pode viver com permanentes desequilíbrios estruturais?”
Respondendo à primeira questão, Münchau sustenta que “moralmente os excedentes não existem sozinhos”. “Se postularmos que ‘mais cinco’ é moralmente aceitável, então a conclusão lógica é que ‘menos cinco’ também tem de ser aceitável. Nem é preciso um imperativo categórico para aceitar isto. Lógica elementar e alguns conceitos económicos básicos são suficientes”, sublinha, concluindo: “Neste contexto, o desprezo moral pelo défice de alguns países é completamente inadequado.”
O artigo de Münchau foi publicado na quarta-feira e ganha nova actualidade nesta quinta-feira depois de a Comissão Europeia divulgar as suas previsões – que apontam para uma forte degradação das economias de Portugal, Grécia, além de outros seis países que estarão em recessão. Pelo contrário, a Alemanha irá manter-se em terreno positivo.
Estas assimetrias, considera Münchau, “estão profundamente enraizadas na política”. E invocando relatórios recentes da Comissão Europeia, frisa: “Os défices dos Estados do Sul têm sido criticados, ao passo que o excedente da Alemanha não.” Isso ficou bem patente quando, a 14 de Fevereiro, a Alemanha escapou à vigilância reforçada iniciada pela Comissão Europeia a doze países para averiguar se alguns desequilíbrios macroeconómicos emergentes ou já instalados poderão pôr em risco a estabilidade da zona euro. Bruxelas não incluiu o excedente comercial da Alemanha nos alertas, uma eventualidade defendida nalguns países mas que foi firmemente combatida por Berlim.
“O argumento dos ‘assimetristas’ é o de que o problema só pode ser resolvido com melhorias nos países deficitários. Ou seja, estamos de novo no domínio da Bundesliga, num campeonato desportivo: todos querem ser primeiro. O que conduz à segunda questão: os excedentes são do nosso interesse?”
“Um país tem um excedente em conta corrente quando – de forma simplificada – exporta mais do que aquilo que importa. Isso conduz, geralmente, a uma procura interna estruturalmente mais fraca, como sucedeu na Alemanha na década passada. Ora, se todos os países adoptassem o mesmo modelo, isso enfraqueceria os mercados de exportação da Alemanha. O resultado portanto não seria uma melhoria nos países endividados, mas um enfraquecimento geral de todos. No fundo, jogaríamos todos na segunda divisão”, continua o comentador, acrescentando ainda que “um excedente só é uma bênção se os devedores pagarem e se houver estabilidade no sistema financeiro”. “Na Bundesliga, isto funciona de outra maneira. O primeiro lugar é o primeiro lugar.”
Sobre a possibilidade de manter uma união monetária com desequilíbrios internos, Münchau defende a tese de que enquanto a banca funcionar, as assimetrias não têm graves consequências. O problema, afirma o autor, é que “na nossa união, os bancos desconfiam uns dos outros” e os “países do défice não têm qualquer incentivo para abaterem as suas dívidas dado que os bancos centrais financiam imparavelmente o défice do sector privado”, gerando-se assim uma dívida infinita que acabará por explodir algum dia. “É preciso notar que não estou a falar da dívida soberana, mas das dívidas do sector privado. Porque são estas que constituem o grosso dos desequilíbrios em conta corrente na zona euro”.
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