terça-feira, fevereiro 07, 2012

Os mercados têm estados de espírito e somos nós

"Num artigo publicado há dias, George Soros, que fez uma enorme fortuna nos anos 90 com a saída da Inglaterra do sistema monetário europeu, afirmou que os mercados tinham estados de espírito e que as autoridades financeira deviam aprender a lidar com isso.

Os estados de espírito, tanto em termos de pessoas como de grupos, têm a ver com factores emocionais – por oposição aos racionais. A globalização contribui para favorecer a propagação dos estados de espírito, sejam eles dominados pela confiança ou, pelo contrário, pelo cepticismo ou mesmo pelo desespero. Desde 2007 que vimos assistindo, nos Estados Unidos e na Europa, a um clima generalizado de cepticismo – ou, em alternativa, de manutenção das ilusões e de negação da realidade (como aconteceu em Portugal durante os últimos anos).

Talvez esteja já na altura de olharmos para a famosa crise com as ferramentas não só económico-financeiras mas também as da psicologia.

E que diz a psicologia colectiva? Que as multidões são manipuláveis. Nós temos alguma tendência para imaginar as multidões como gente aos gritos nas ruas e os mercados como entidades imateriais escondidas por detrás de écrans de computador. Nada mais longe da verdade.

Os mercados são os bancos, fundos e seguradoras que gerem as "poupanças de todos nós", incluindo as da nossa Segurança Social. A sua rentabilidade e a nossa sobrevivência dependem de factores tão subjectivos como as expectativas, positivas ou negativas, e a confiança.

Já há muito tempo que se sabe que num mundo ideal todos teríamos acesso à mesma informação e os mercados funcionariam na perfeição. Como no mundo real tal não sucede, as assimetrias de informação permitem especulações e jogadas antecipatórias. Assim, os rumores, os receios, os pânicos, a "inside information" (que na prática tem sido impossível de evitar) e até as intuições permitem as uns ganhar e a outros perder. Por isso a confiança nas instuitições e nas pessoas é tão importante na economia de mercado. Infelizmente, uma vez perdida a confiança, é difícil recuperá-la e leva muito tempo.

Que nos diz a psicologia de grupos? Que os seus membros têm tendência a adquirir uma mentalidade colectiva que os faz inclinarem-se para determinado comportamentos em detrimento de outros. Mais: as oscilações podem ser bruscas e assumir características de quase-pânico.

Os estados de espírito dos mercados reflectem o estado emocional não só dos indivíduos mas também dos grupos e sociedades. A falta de confiança, e até o desespero, que está a caracterizar este início do século XXI deveria funcionar como um alerta para todos nós. Não há sociedade que subsista sem um projecto que confira esperança e objectivos para o futuro. Se um indivíduo vive muito mal com isso, deprime e pode até tomar medidas drásticas (veja-se o aumento de suicídios na Grécia e em Portugal), as sociedades também ficam doentes. E uma sociedade doente fica vulnerável aos cantos de sereia que sempre aparecem nestas ocasiões. Deveríamos estudar melhor a história da primeira metade do século vinte. Os nossos jovens têm uma ideia vaguíssima do que aconteceu e quais as razões para as duas mortíferas guerras mundiais, e em breve já não haverá ninguém vivo para lhes lembrar.
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Clara Pracana

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