quarta-feira, fevereiro 01, 2012

Ninguém se lembra da Nova Zelândia e o que lhes fizeram os neoliberais e o FMI?

Neville Chamberlain estava certo

Neville Chamberlain é lembrado hoje como o primeiro-ministro britânico que, como um avatar de apaziguamento da Alemanha nazi, ajudou a Europa a entrar na Segunda Guerra Mundial. Mas, no início daquela década fatídica, pouco tempo depois do início da Grande Depressão, a economia britânica estava rapidamente a retomar o seu nível anterior de produção, graças ao recurso do Ministro das Finanças, Neville Chamberlain, a estímulos fiscais para recuperar o nível de preços existente antes da depressão.
Compare-se esta abordagem com a actual política de expansão através da austeridade praticada pelo governo do primeiro-ministro britânico, David Cameron (com o Ministro das Finanças, George Osborne, como chefe da claque). O PIB real do país estagnou e existem fortes probabilidades de que o PIB real britânico caia novamente.

De facto, em menos de um ano, se as actuais previsões estiverem corretas, a Depressão da Grã-Bretanha de Cameron-Osborne não será simplesmente a pior depressão na Grã-Bretanha desde a Grande Depressão, será provavelmente a pior depressão que a Grã-Bretanha já conheceu.

Isto é um grande feito. Como referiu recentemente Phillip Inman do jornal he Guardian: “[O] plano do Reino Unido para recuperar da crise financeira foi baseado numa recuperação a todo o vapor em 2012… [A] confiança do consumidor, o investimento de negócio e a despesa geral convergiriam de forma a empurrar a economia para uma trajectória de crescimento acima da média.”

O plano não funcionou: os ministros do governo "fizeram o que os economistas de direita lhes disseram para fazer e afastaram-se – a teoria era a de que os gastos do sector público e o investimento estavam a ‘excluir’ o sector privado". Em vez disso, "Espanha está a mostrar o caminho com a sua recessão ditada pela austeridade. Parece que por cá (na Grã-Bretanha) gostamos de imitar os erros dos outros... "

O fracasso da austeridade expansionista na Grã-Bretanha deve dar a todos os seus defensores a nível mundial razões para reflectir e repensar os seus cálculos políticos. A Grã-Bretanha é uma economia altamente aberta com uma taxa de câmbio flexível e com alguma margem para flexibilização monetária adicional. Não existe qualquer risco ou prémio de incumprimento nas taxas de juros britânicas que indique que o medo do caos político-económico está a desencorajar o investimento.

Existe um argumento – não necessariamente verdadeiro, mas não deixa de ser um argumento – de que, no exercício do mandato de 1997 a Maio de 2010, os governos trabalhistas de Tony Blair e Gordon Brown excederam os gastos do governo sustentável a longo prazo como uma percentagem do PIB. As suas acções contrastam com os países que reduziram o seu endividamento relativamente aos níveis do PIB nos anos 2000 e com os Estados Unidos, onde o problema não estava no gasto excessivo, mas sim numa tributação insuficiente por parte da administração Bush

No entanto, se levarmos a sério essa visão, a Grã-Bretanha, com uma taxa de juro nominal de dez anos de menos de 2,1% ao ano, já devia estar num período de boom. Se é que alguma vez existiu um país onde a austeridade expansionista devia funcionar bem – onde o investimento privado e as exportações deveriam aumentar à medida que compras governamentais desciam, confirmando a visão que os seus defensores têm do mundo – esse país devia ser a Grã-Bretanha de hoje.

Mas a Grã-Bretanha de hoje não é esse país. E se a austeridade expansionista não está a funcionar na Grã-Bretanha, como poderá funcionar em países que são menos abertos, que não podem usar o canal da taxa de câmbio para aumentar as exportações e que não dispõem da confiança a longo prazo que os investidores e as empresas têm na Grã-Bretanha?

Nick Clegg, vice-primeiro-ministro do Reino Unido e líder do parceiro de coligação de Cameron, o Partido Liberal Democrata, devia acabar com esta farsa já. Deveria dizer à Rainha Isabel II que o seu partido não tem confiança no governo de Sua Majestade e sugerir-lhe humildemente que peça ao líder do Partido Trabalhista, Ed Milliband, para formar um novo governo.

Se Clegg o fizesse, a sua carreira política provavelmente acabaria e as perspectivas eleitorais do seu partido ficariam abaladas por muito tempo. Mas a carreira política de Clegg e os destinos do seu partido ficarão abalados por muito tempo em qualquer dos casos, dadas as dificuldades económicas que a Inglaterra enfrenta (e continuará a enfrentar). Mas, pelo menos a ausência dos maus conselhos da coligação conservadora-liberal iria agora beneficiar o seu país.Responsáveis políticos de outros países do mundo, tomem nota: passar fome não é o caminho para a saúde e aumentar o desemprego não é uma fórmula para ter a confiança do mercado.

Está na altura de ler John Gray in False dawn ou traduzido e publicado em português "Falso amanhecer"

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