Subsídios às low-cost: "Pão para hoje e fome para amanhã"
"Segundo J. M. Soria, novo ministro espanhol com a pasta do Turismo, os subsídios às low-cost carriers (lcc) são "pão para hoje e fome para amanhã". O político do PP espanhol foi lesto a qualificar como "discriminatória" a política até aí seguida, a qual prejudica "as companhias tradicionais, consome recursos públicos e atenta contra a livre concorrência".
Soria não ignorou as conclusões do "III Informe Anual sobre Ayudas Publicas en España", segundo o qual entre 2007 e 2010, período em que o investimento público na aviação foi de 250 milhões, o tráfego diminuiu. A sua conclusão é sibilina: "mais do que a criação de mercado, estes fundos estão a contribuir para acentuar o processo de desvio da procura das companhias tradicionais para este tipo de companhias".
É certo que o transporte aéreo é fundamental para o turismo em regiões afastadas dos centros emissores, mas o ideal é existir uma relação equilibrada entre companhias tradicionais, lcc e operadoras. Paga-se caro colocar os ovos todos no mesmo cesto. Em Espanha, as regiões investiram fortemente nas lcc, mas os resultados não parecem tão animadores como se pensava. Os diversos conflitos ocorridos em 2011, em especial na Catalunha, provam que algumas lcc não vivem sem subsídios, voando para outras paragens quando estes minguam.
O turismo do Norte de Portugal cresceu muito nos últimos anos, tendo as lcc desempenhado um papel importante, mas para o futuro, como o Algarve já sabe, é útil não esquecer a regra do equilíbrio entre os vários modelos; em Faro, o tráfego caiu em dezembro 8%, tendo a Ryanair, Easyjet e a Monarch – com 70% do mercado – recuado todas. E em janeiro o panorama não foi diferente. Mais grave, ao contrário das promessas a sazonalidade agravou-se.
O IPDT, a ERTPNP e a ANA patrocinam um estudo designado "perfil dos turistas do Porto e Norte de Portugal". A conclusão mais evidente no último trimestre de 2011 foi o acentuar da tendência da redução dos tempos de estada média, bem como a "redução do gasto médio total dos turistas de lazer", mas a comunicação tornada pública, troca o rigor pela mais grosseira propaganda da Ryanair. Não admira, assim, que, hostilizadas, outras companhias reduzam a actividade ou mesmo abandonem o Sá Carneiro.
A narrativa pró-lcc alimenta-se ainda dos anúncios de criação de milhares de postos de trabalho, mas a realidade não alimenta o discurso.
O professor David Ramos, da Universidade de Salamanca, que analisou o fenómeno social e não apenas em Espanha, revela no seu estudo "Marketing Aeoportuario y Planificación Estrategica del Turismo: el Programa Initiative.Pt en Portugal" que as lcc exercem uma pressão tal sobre os custos que a indústria é forçada a acompanhar a tendência para se manter concorrencial, concluindo que "esta dinâmica acabou por afectar as condições laborais dos trabalhadores". Porque, adianta, "ainda que não se repare, os preços baixos são em parte possíveis graças à degradação das condições laborais do pessoal", acrescentando ainda que " esta degradação apresenta múltiplas facetas que vão desde as práticas anti-sindicais ao dumping social". E conclui: "companhias como a Ryanair adoptam a legislação laboral irlandesa para contratar todo o seu pessoal, independentemente da base em que desempenhem as suas tarefas, por ser a que, na União Europeia, atribui menos defesas aos seus trabalhadores". São aspectos que em Portugal não têm sido debatidos nem por aqueles que têm a obrigação de o fazer.
O crescimento das lcc em Espanha já fez vítimas, de entre as quais a própria Iberia, que perdeu a sua histórica supremacia no médio curso. Pior sucedeu à Spanair, que fechou, provocando o desemprego de milhares de trabalhadores. Foi chocante ver o Sr. O’Leary a exibir, provocatoriamente, o V de vitória aos despedidos desta companhia em Bilbau. Há quem ache graça ao marketing boçal da companhia irlandesa, que prima pela provocação a políticos, como sucedeu recentemente com o nosso 1º Ministro. Mas brincar com coisas sérias é privilégio reservado aos humoristas."
António Monteiro
Soria não ignorou as conclusões do "III Informe Anual sobre Ayudas Publicas en España", segundo o qual entre 2007 e 2010, período em que o investimento público na aviação foi de 250 milhões, o tráfego diminuiu. A sua conclusão é sibilina: "mais do que a criação de mercado, estes fundos estão a contribuir para acentuar o processo de desvio da procura das companhias tradicionais para este tipo de companhias".
É certo que o transporte aéreo é fundamental para o turismo em regiões afastadas dos centros emissores, mas o ideal é existir uma relação equilibrada entre companhias tradicionais, lcc e operadoras. Paga-se caro colocar os ovos todos no mesmo cesto. Em Espanha, as regiões investiram fortemente nas lcc, mas os resultados não parecem tão animadores como se pensava. Os diversos conflitos ocorridos em 2011, em especial na Catalunha, provam que algumas lcc não vivem sem subsídios, voando para outras paragens quando estes minguam.
O turismo do Norte de Portugal cresceu muito nos últimos anos, tendo as lcc desempenhado um papel importante, mas para o futuro, como o Algarve já sabe, é útil não esquecer a regra do equilíbrio entre os vários modelos; em Faro, o tráfego caiu em dezembro 8%, tendo a Ryanair, Easyjet e a Monarch – com 70% do mercado – recuado todas. E em janeiro o panorama não foi diferente. Mais grave, ao contrário das promessas a sazonalidade agravou-se.
O IPDT, a ERTPNP e a ANA patrocinam um estudo designado "perfil dos turistas do Porto e Norte de Portugal". A conclusão mais evidente no último trimestre de 2011 foi o acentuar da tendência da redução dos tempos de estada média, bem como a "redução do gasto médio total dos turistas de lazer", mas a comunicação tornada pública, troca o rigor pela mais grosseira propaganda da Ryanair. Não admira, assim, que, hostilizadas, outras companhias reduzam a actividade ou mesmo abandonem o Sá Carneiro.
A narrativa pró-lcc alimenta-se ainda dos anúncios de criação de milhares de postos de trabalho, mas a realidade não alimenta o discurso.
O professor David Ramos, da Universidade de Salamanca, que analisou o fenómeno social e não apenas em Espanha, revela no seu estudo "Marketing Aeoportuario y Planificación Estrategica del Turismo: el Programa Initiative.Pt en Portugal" que as lcc exercem uma pressão tal sobre os custos que a indústria é forçada a acompanhar a tendência para se manter concorrencial, concluindo que "esta dinâmica acabou por afectar as condições laborais dos trabalhadores". Porque, adianta, "ainda que não se repare, os preços baixos são em parte possíveis graças à degradação das condições laborais do pessoal", acrescentando ainda que " esta degradação apresenta múltiplas facetas que vão desde as práticas anti-sindicais ao dumping social". E conclui: "companhias como a Ryanair adoptam a legislação laboral irlandesa para contratar todo o seu pessoal, independentemente da base em que desempenhem as suas tarefas, por ser a que, na União Europeia, atribui menos defesas aos seus trabalhadores". São aspectos que em Portugal não têm sido debatidos nem por aqueles que têm a obrigação de o fazer.
O crescimento das lcc em Espanha já fez vítimas, de entre as quais a própria Iberia, que perdeu a sua histórica supremacia no médio curso. Pior sucedeu à Spanair, que fechou, provocando o desemprego de milhares de trabalhadores. Foi chocante ver o Sr. O’Leary a exibir, provocatoriamente, o V de vitória aos despedidos desta companhia em Bilbau. Há quem ache graça ao marketing boçal da companhia irlandesa, que prima pela provocação a políticos, como sucedeu recentemente com o nosso 1º Ministro. Mas brincar com coisas sérias é privilégio reservado aos humoristas."
António Monteiro
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