terça-feira, maio 08, 2012

Ai a Grécia, ai o euro

"Sejamos claros. Os problemas que a Grécia está a enfrentar, e com ela toda a construção europeia, não são apenas responsabilidade de Atenas. Há outros tão ou mais responsáveis. São eles a chanceler Angela Merkel, o derrotado Nicolas Sarkozy e a chamada ‘troika’, que integra o Fundo Monetário Internacional, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu.

Os programas de reequilibro financeiro desenhados pela troika com as orientações políticas do eixo Paris-Berlim estão errados. Porquê? Muito simples. Não resolveram nenhum problema. Pelo contrário, agravaram a crise nos países intervencionados, não impediram os sucessivos contágios, colocaram na agenda a possibilidade de colapso da Zona Euro e desestabilizaram os países membros quer socialmente como politicamente.
E não vale a pena usarmos o argumento do "Portugal, Irlanda, Espanha, Itália não é a Grécia". Os argumentos críticos da Grécia, e que a levaram à situação política que resultou das eleições, dizem invariavelmente que os gregos não se entendem, mentem, que tinham buracos financeiros enormes Mas porque se descobriu só agora todos esses defeitos das Grécia, parceiro da União Europeia ainda antes de Portugal? Incompetência ou circunstância?
De facto são as circunstâncias. Na realidade os gregos apenas tiveram o azar de terem sido os primeiros, do grupo de pequenos países sem poder, no mundo europeu, a colapsar arrastados pelo tsunami financeiro que se iniciou nos Estados Unidos. Uma crise de balanços que, de repente, mostrou que os bancos eram menos ricos do que se pensava ou estavam mesmo falidos. Como a Lehman mostrou o que é deixar falir um banco, no processo de empobrecimento geral quem tinha a faca na mão distribuiu o bolo, mais pequeno, do financiamento disponível. E é assim que começa a colapsar a Grécia e depois a Irlanda e a seguir Portugal, com o caminho aberto para a Itália e Espanha e até França.
Os líderes europeus, nas últimas crises, tiveram sempre tendência para a negação e para a falta de cooperação. Na crise do mecanismo cambial europeu em 1993, a Alemanha recusou-se a pagar a unificação com impostos e a aumentou as taxas de juro. Em plena construção da moeda única, colapsou o mecanismo cambial europeu. Nas crises da era do euro, como a de 2001, a primeira reacção foi negar os seus efeitos neste lado do Atlântico. Na crise em que vivemos, os zigue-zagues foram notáveis: primeiro a negação – na Europa os bancos são sólidos, não há ‘subprime’ –, depois a promoção de políticas expansionistas descontroladas – sim, José Sócrates teve razão quando disse que essa foi a orientação em 2009 – para a seguir se passar, quando surgiram os primeiros problemas na Grécia, em 2010, para a super-austeridade.
No euro, desde 2008, já vivemos em negação, expansionismo e, agora, em super-austeridade, mas a caminho de mais uma mudança. Os zigue--zagues não terminaram. Neste momento o discurso voltou a ser de crescimento. Esta nova mudança que parece estar a acontecer – e que chegaria com ou sem Hollande – é o resultado do confronto com a instabilidade gerada em Espanha e Itália e com o fracasso dos programas de ajustamento – o sucesso português e irlandês, basta ver os números, é uma construção. Se Portugal e a Irlanda falharem o problema deixa de ser dos países – como o fizeram com a Grécia – e passa a ser da troika.
Claro que o novo discurso e a nova orientação é o mais sensato. É preciso conciliar o reequilibro financeiro com políticas de crescimento promovidas sensatamente pelo Estado, o único que pode quebrar o círculo vicioso da falta de confiança.
Entretanto a Grécia viu um partido nazi chegar ao Parlamento e está sem rumo. Os danos da incompetência das lideranças europeias são já brutais. A Grécia já está diferente e o euro também."

Helena Garrido

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