quinta-feira, agosto 23, 2012

O que a Moody's não diz sobre a crise sueca dos anos 90...

A Moody’s diz que Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha “alcançaram melhorias, mas ainda não resolveram totalmente os desequilíbrios externos desenvolvidos (...) no período anterior à crise”, no anúncio de um relatório publicado nesta segunda-feira, onde se considera que “a correcção está no máximo a meio, dependendo do país em questão, e poderá levar vários anos”.

O cenário de mais alguns anos de ajustamentos para corrigir os desequilíbrios externos pode ser particularmente penoso para as populações destes países, que têm sofrido várias vagas de medidas de austeridade.

A agência faz também uma observação que não tem sido comum no discurso em Portugal sobre as origens da actual crise, centrado no endividamento do Estado. A causa dos “desequilíbrios acumulados” destes países é atribuída pela Moody’s ao “comportamento contrário à poupança nos seus respectivos sectores privados nacionais em vez de nos seus governos”.

O novo relatório tem por título justamente “Euro Area Periphery: Structural Reforms Have Significantly Improved External Imbalances, But Full Resolution May Still Take Years” (“Periferia da Zona Euro: Reformas Estruturais Melhoraram Significativamente os Desequilíbrios Externos, mas Resolução Completa Ainda Pode Levar Anos”).

A agência compara a situação nestes países com as crises na Suécia e Finlândia nos anos 1990, e diz que dessa comparação sai reforçada a “importância crítica das reformas estruturais para se alcançarem ganhos sustentáveis”.

A Moody's é uma das três grandes agências de notação de risco de crédito dos EUA e do Ocidente (a par da Standard & Poor’s e da Ftich), às quais tem sido atribuída parte da responsabilidade pela crise imobiliária nos EUA que desencadeou a crise financeira no final da década passada, devido a atribuírem notas elevadas – que pressupõem riscos mínimos – a produtos de crédito que depois se revelaram o chamado “lixo tóxico” no sistema financeiro.


A duradoura experiência sueca de pleno emprego, que no início dos anos 90 já se encontrava em sérias dificuldades, cessou devido ao mercado global de títulos.
A questão que as economias de mercado social devem encarar não é se podem ou não sobreviver com as actuais instituições e políticas - não podem.  É a de saber se os ajustamentos que são imperativos serão efectuados por uma outra onda de reformas neoliberais ou por políticas que submetam os mercados às  necessidades humanas.
Passando o caso sueco:
A visão do equilíbrio da vida económica, foi anacronicamente ressuscitada pelas teorias das "expectativas racionais" emanadas da Universidade de Chicago, sendo teorizações controversas que não geram consenso geral mesmo entre os economistas mais convencionais.
Estas teorias dúbias inspiraram e continuam a inspirar, os programas de ajustamento estrutural do Banco Mundial e do FMI, impondo depressões profundas e duradouras da actividade económica real na prossecução da legalidade fiscal. Os mercados globais de obrigações simulam estes programas de ajustamento estrutural. Impõem aos países agora ameaçados as disciplinas deflacionárias do ajustamento estrutural que falharam manifestamente como medidas de emergência nos países ditos de terceiro mundo.
Aconteceu no México, na Nova Zelândia, na Argentina, na Suécia...
A Suécia sentiu o embate do mercado quando os investidores internacionais nos seus títulos entraram em "greve".
Apesar da Suécia ter eleito um governo conservador, determinado a reduzir o peso da tão proclamada segurança social sueca, o défice anual ainda se situava acima de 10% do PIB e a dívida pública acumulada tinha crescido exponencialmente da 44% do PIB em 1990 para 95%  em 1995. Para ultrapassar o boicote dos investidores, o banco central da Suécia foi obrigado a apertar ainda mais o  crédito e o primeiro ministro rapidamente anunciou planos de maiores cortes nas despesas. Contudo, a economia sueca - em tempos, o modelo de uma próspera e estável social-democracia - já estava profundamente deprimida, com uma taxa de desemprego em torno dos 16%. As novas medidas tornariam as coisas ainda piores...

0 Comments:

<< Home

Divulgue o seu blog!