segunda-feira, novembro 19, 2012

O segundo mandato de Barack Obama

"A corrida foi dura, mas o presidente norte-americano Barack Obama ganhou a reeleição. A questão agora, para os Estados Unidos da América (EUA) e para o mundo, é o que vai ele fazer com um novo mandato de quatro anos?

Vencer a reeleição com uma economia ainda frágil e com o desemprego perto dos 8% não foi fácil. Muitos líderes – como Nicolas Sarkozy, Gordon Brown e José Luís Rodríguez Zapatero – foram afastados pelo descontentamento em relação ao desempenho económico dos últimos anos. Ainda que o desastre financeiro tenha eclodido durante o mandato de George W. Bush, depois de oito anos de presidência Republicana, Obama teve de carregar o fardo de uma recuperação anémica.

Obama venceu não apenas por causa da sua extraordinária resiliência, mas também porque um número suficiente de eleitores de classe média, embora não contentes com o caminho do progresso económico, sentiram que a presidência Obama poderia ajuda-los mais do que as políticas defendidas pelo seu adversário republicano, Mitt Romney, que eram entendidas como favoráveis aos mais ricos. Além disso, a transformação demográfica que está em curso nos EUA faz com que seja mais difícil para os candidatos que não são capazes de aproximarem-se dos latinos e de outras minorias – algo que Romney não fez – assumirem a liderança do país.

Alguns aspectos da campanha, particularmente o dinheiro que foi gasto e o seu tom negativo, foram criticados por muitos observadores. Mas a competição da democracia americana – o facto de que existe sempre uma alternativa e os que estão no poder têm de lutar para se manterem lá – foi demonstrado de uma forma admirável para que todo o mundo pudesse ver.

Obama vai embarcar no seu segundo mandato com a economia mundial numa encruzilhada. Nos Estados Unidos, a recuperação fraca e irregular tem vindo a ser sustentada pelas políticas monetárias extremamente caras e pelo défice orçamental elevado e persistente. Enquanto os cofres das grandes empresas estão cheios de dinheiro, o investimento privado está estagnado. No Japão, o desempenho económico sólido continua a ser ilusório enquanto os primeiros-ministros se sucedem a um ritmo vertiginoso.

Da mesma forma, a Europa está em suporte de vida, graças a uma manobra astuta do presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, e às promessas de intervenção ilimitada nos mercados de dívida soberana. Mas o desemprego está no nível mais elevado de décadas e o crescimento está, essencialmente, paralisado mesmo na Alemanha, enquanto as economias problemáticas do sul estão atoladas na recessão. A situação da Grécia, além disso, tornou-se socialmente instável; a Grécia é pequena, mas um colapso total poderia ter efeitos negativos, em termos financeiros e psicológicos, em outros lugares.

As economias emergentes estão melhores; mas, ainda que a tendência de crescimento do seu produto potencial seja muito maior do que das economias desenvolvidas, não há uma dissociação cíclica. A economia mundial está interligada: problemas em qualquer parte importante são transmitidos mundialmente. Esta é a verdade na base dos problemas macroeconómicos: por exemplo, a necessidade de abordar as alterações climáticas não pode continuar a ser ignorada.

Os Estados Unidos não podem definir sozinhos o futuro da economia mundial mas o caminho seguido pela América, todavia, tem uma grande importância mundial, dado que continua a ser a maior economia do mundo e tem uma influência considerável em sítios como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e o G-20. As ideias norte-americanas continuam a afectar o debate político a nível mundial.

Por isso, quais devem ser as prioridades de política económica de Obama neste segundo mandato? Apesar das dificuldades que a economia mundial enfrenta, há enormes recursos disponíveis nos Estados Unidos, na China, na Alemanha e em outros locais que podem ser investidos. Ainda que haja limitações ao nível do clima e de recursos, estamos no começo da revolução tecnológica que tem um grande potencial para aumentar a produtividade e conduzir a uma maior prosperidade, acompanhado com desafios e implicações para o trabalho e o emprego.

Mas um crescimento económico sustentável exige que aqueles que têm recursos disponíveis para investir o façam. E isso não vai acontecer a menos e até que haja uma recuperação ampla dos grupos com rendimentos baixos e médios das economias desenvolvidas, incluindo os Estados Unidos.

Há muito lucro que pode ser gerado – os impostos sobre o capital não são tão altos e financiamento a baixo custo estão disponíveis para o sector empresarial. Mas a concentração de rendimentos restringe uma recuperação mais ampla e coloca um dilema para a recuperação macroeconómica: a necessidade de continuar a dar “estímulos” e os perigos do crescimento da dívida pública e a criação de uma bolha nos activos inflacionada pelas taxas de juro baixas.

Por outras palavras, uma distribuição mais equilibrada dos rendimentos não é apenas uma questão social ou ética; é crucial para a macroeconomia e, de facto, para o sucesso empresarial a longo prazo. Isto é vital para muitos países, em especial os Estados Unidos e a China.

E depois há uma necessidade urgente – nos Estados Unidos e a nível mundial – para a educação e para que haja uma formação das competências adequada. Sem as qualidades exigidas pelas novas e incipientes tecnologias, muitos trabalhadores vão simplesmente ficar desempregados. Um dos benefícios chave de dar prioridade a uma educação de qualidade ampla é que isso ajudaria a resolver o problema da distribuição de rendimentos.

Finalmente, há uma necessidade de cooperação internacional efectiva. O excedente da conta corrente da China diminuiu. Mas agora o norte da Europa tem um excedente de 500 mil milhões de dólares enquanto o sul da Europa está a colapsar e os Estados Unidos têm um défice próximo dos 500 mil milhões de dólares. O desafio a longo prazo das alterações climáticas exige cooperação mundial e uma alteração pós-eleitoral na direcção de um compromisso mais forte por parte dos EUA, o que poderia desencadear uma revolução das energias limpas multifacetada, impulsionando investimento que crie muitos postos de trabalho e um novo ciclo de crescimento.

Depois de uma campanha eleitoral longa e dura é tempo para reformas políticas abrangentes. Esperemos que o Congresso norte-americano venha também a reconhecer isto, apoiando as medidas que podem ajuda centenas de milhões de pessoas nos Estados Unidos e em todo o mundo. "

Kemal Derviş

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