Sem perdão
Sem perdão
Os números da corrupção são demolidores para Portugal. Os mais recentes, de há dias, resultado duma análise internacional e independente, relegam-nos para o 33º lugar dos países desenvolvidos.
Em termos europeus, só surgem atrás de nós a Itália – cuja política ainda é muito influenciada pela Máfia – a Grécia, com uma administração pública desestruturada e alguns países de Leste. Mas o problema maior é a tendência: Portugal desceu, no ranking, de 23º em 2000, para 32º em 2010. Uma década negra em termos de crescimento da corrupção.
A opinião pública portuguesa também já se deu conta desta realidade. Oitenta e três por cento dos cidadãos acham que a corrupção aumentou nos últimos três anos e apontam como entidades mais corruptas o Parlamento e os partidos, justamente aquelas cuja missão deveria ser a de lutar contra o flagelo.
E enquanto o País atrofia por causa da corrupção – uma vez que esta constitui a principal causa da crise em que nos sitiaram – os corruptos continuam impunes. Isaltino Morais, apesar de condenado em todas as instâncias, continua em liberdade. Usa as artimanhas da lei, recorre de todas as decisões, na esperança de protelar os seus processos até a uma prescrição que o amnistie. Duarte Lima e Oliveira e Costa, ambos ligados ao BPN, beneficiam duma prisão domiciliária nas suas luxuosas mansões. Ainda por cima, enquanto os processos correm, têm a polícia à porta, que assim protege o seu património. Domingos Névoa, condenado no caso Bragaparques, também ele continua e continuará em liberdade. E muitos outros… Entre acusados, condenados e absolvidos, todos comerão tranquilamente as suas rabanadas neste Natal.
Enquanto isso, sofrem as vítimas da corrupção, os cerca de milhão e quatrocentos mil portugueses em situação de desemprego e subemprego, aqueles cujos parcos rendimentos já não chegam para comprar comida... todos quantos são fustigados com iníquas medidas de austeridade.
A classe política dirigente, que é complacente com os corruptos, mas não hesita em martirizar as vítimas da corrupção, não merece qualquer perdão.
Paulo Morais, Professor universitário
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